Celine, no dia seguinte, acordou um pouco mais tarde que o normal. Estava sozinha na cabine. Bianca havia saído e deixado um lastro de luz entrar pela porta da sacada. Ela vira de costas na cama e corre as mãos pelo rosto, comprimindo bem forte os olhos ardidos de sono. Queria poder esquecer a noite anterior. As coisas que ouviu daquele italiano cafajeste ainda zuniam em seus ouvidos. Agora ela estava ali, doentia, sentindo-se completamente humilhada. "Eu não trepo com virgens! " O jeito como ele disse.... Sem nenhum requinte de solidariedade, como se a sua virgindade fosse algo grotesco e repudiável. Não ficou na cabine para saber as razões dele, levantou logo da cama e começou a se vestir. Quando ele terminou de encher o copo de bebida, menos de um minuto depois, ela já estava pronta para ir embora. Saiu ignorando o pedido dele para que ficasse mais um pouco, pois precisavam conversar. Não estava interessada em conversa alguma, não depois de ter sido humilhada daquele jeito. Ele que morresse seco de tanto esperar, porque ela jamais desceria àquela cabine novamente...
Naquela manhã, contrariando a vontade de seu ânimo, ela desceu para o desjejum. Estava morta de fome; decidiu que, assim que terminasse de comer, se encerraria na cabine. Thor ia dar folga coletiva para a equipe de marketing, logicamente que isso se devia à presença de Izabela no iate, mas, de qualquer forma, ela se sentia indisposta a fazer qualquer coisa que não fosse hibernar no próprio quarto. Ia colocar a leitura em dia ou simplesmente passar a tarde sapeando pela internet. Sentia-se em um péssimo humor, Bianca, do jeito que era intrometida, logo notaria e tornaria a vida dela aquele martírio de sempre. De jeito nenhum, ia desabafar sobre o ocorrido na noite anterior. Bianca não precisava saber de tudo.
Celine saiu do elevador e caminhou tranquilamente pelo camarote do primeiro andar. Em nenhum momento, sua ingênua sensatez a alertou para a possibilidade do italiano ir procurá-la naquele mesmo dia. Ela se aproximou sorrateiramente do convés apenas para dar uma espiadinha para ver se Bianca se encontrava lá fora. E não é que estavam lá, os dois. Bianca e Antonio, as duas únicas pessoas que ela não suportaria naquela manhã! Foi um susto daqueles. Ela teve que praticamente arrastar as pernas para longe dali, ficou num canto, parcialmente escondida, até que ele saiu e Bianca ficou a sós.
Depois disso, ela foi até o buffet, encheu uma tigela com cereal e leite gelado e saiu para o convés. Bianca foi logo cantando assim que a viu:
- Olha só a nossa dorminhoca. Já estiveram aqui, procurando por você.
- Quem? Não, não me diga; deixa que eu adivinho. - Fez um bico como se pensasse a respeito. -Vamos ver... hum, foi o diabo, o diabo em pessoa.
- Credo! Mas o que foi...
- Bianca vai falando. - Celine cortou, totalmente despreocupada da grosseira. - Quero saber tudo o que aquele sem vergonha disse.
- Nada de mais, sua grossa! Antonio só veio nos convidar para um passeio.
- Um passeio... - Celine quase engasga com o cereal. - Mas isso só pode ser brincadeira... e o que foi que você disse?
- Agradeci e disse que não, já tenho um compromisso com o Carlos.
- Oh, ainda bem... - Celine desabafa espalmando as mãos no ar.
- Maaas, - Bianca esticou, provocativa. - Disse que você toparia, e ainda por cima dei certeza.
- Ah, não... Bianca, você não tinha o direito de se comprometer em meu nome! -Bianca deu de ombro, a cara mais inocente do mundo. - Às vezes você é tão intrometida que eu não sei...
- Se me ama ou se me odeia? Celine, como eu podia saber? Até ontem você estava empolgada. Na verdade, empolgada é uma hipérbole, mas pelo menos estava mais favorável.
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O segredo de Celine - Livro 1 da série Dionísio
Romance- Gosto de fazer parte de seus segredos, perla... Ele disse, provocativamente. Será que aquele maldito italiano seria capaz de por tudo a perder apenas para acariciar seu ego sórdido de conquistador? Uma carreira meticulosamente planejada indo água...