Os restos de uma criança carente

157 12 0
                                    


A volta da ilha Panarea tinha sido extraordinariamente rápida, desta vez ela não havia sentido um pingo de medo. Celine ia repassando, enquanto a porta do elevador se fechava. Dionísio, do alto, parecia maior e mais ostensivo enquanto boiava silencioso no mar lúgubre. Já era noite há muito tempo e, de acordo com Antonio, todos deviam estar dormindo, já que o dia seguinte seria repleto de trabalho. Ela ainda podia sentir a tensão da mão dele ao redor da sua enquanto o helicóptero pousava, como se partilhassem da mesma ansiedade. Mas, depois de tudo o que houve na ilha, ela se deixou levar. Depois veio a despedida, os beijos e a promessa de que ela desceria até a cabine principal todas as noites. Prometeu. Não tinha jeito mesmo, depois de todos aqueles orgasmos, estava fadada a isso.

Quando a porta do elevador se abre para o corredor vazio, Celine respira aliviada. Aquele fim de semana tinha sido uma imensa loucura, só agora ela percebia como seria difícil explicar sua volta ao cenário ao mesmo tempo em que o helicóptero do chefe aterrissava. Ela nem mesmo tinha uma desculpa plausível.

Celine abriu a porta da cabine, estava escuro, mas a brecha de luz atingiu em cheio o casulo de cobertas, movendo-o de seu lugar.

- Celine, é você amiga? - Bianca perguntava com a voz débil de sono.

- Oh, me desculpe, eu não queria acordá-la.

- Tudo bem, eu não ia conseguir dormir sem antes falar com você. E aí, como foi o fim de semana misterioso?

- Incrível... - Celine responde com um suspiro e se junta sua amiga na cama. - Nós fomos a Panarea, uma das Ilhas Eólias.

- Oh, meu Deus! - Bianca dispara; a voz se acendendo imediatamente. – Celine, você tem muita sorte mesmo. Sabia que esse conjunto de ilhas faz parte do roteiro mais badalado da costa europeia? Aposto que você viu um monte de gente famosa por lá.

- Não. - Ela diz, incerta. - Na verdade, eu nem prestei atenção. Você sabe como as pessoas ficam parecidas em traje de banho.

- Sim, claro, idênticas! - Bianca desdenha. - Nem sei por que eu perco meu tempo perguntando. Celine, você não reconheceria a princesa de Mônaco, mesmo que tivesse tropeçado nela. Agora vamos, me conte tudo e comece pelo que mais gostou.

- Eu não sei... foram tantas coisas. Panarea é um pouco parecida com Capri e Ibiza, sabe, só que um pouco mais rústica e pitoresca, é tão pequena que nem dá para trafegar de carro, subimos até hotel num carrinho de golf. Tem também aqueles afloramentos rochosos que vimos por aqui. Mas o que mais me impressionou certamente que foi o vulcão da ilha Stromboli. Bianca, eles têm um vulcão ativo, dá para acreditar? Pessoas moram naquela ilha. Mas parece que Stromboli é um vulcão gentil. E o que mais gostei, hum, deixe me vez... acho que a gruta. Conheci uma gruta mais bonita que Esmeralda... - Celine tentou continuar, mas sua voz vacilou com a lembrança dela e de Antonio fazendo amor naquele lugar. O halo de luz azul divinal, que vinha do alto, caía diretamente sobre eles para depois se perder nas sombras da caverna. Depois do êxtase, Antonio a acalentou tão amorosamente, enquanto dizia aquelas frases sensuais em italiano. Um ritual que ela já adorava. Naquele momento, foi irresistível não tentar decorar algumas palavras para depois obter o significado. Pesquisou mais tarde e, é claro, que levou o maior susto. Chegou a pensar que havia digitado errado. Foi difícil acreditar que Antonio pudesse ir tão longe...

- Celine, continue. E o que mais? - Bianca insistiu tirando Celine do devaneio.

- É o Antonio. - Ele diz coisas que eu não entendo, é confuso.

- O quê? Se me disser, talvez eu possa ajudá-la.

- Romance. Innamorato e amore. - Ele diz muito essas palavras, você sabe o que significa, não é?

O segredo de Celine - Livro 1 da série DionísioOnde histórias criam vida. Descubra agora