Celine, ao lado de Bianca, acompanhava o alvoroço no tombadilho do convés inferior. Dois montículos de terra surgiam no horizonte. O iate estava prestes a atravessar "o estreito de Gibraltar, onde despontava iminentes os pilares de Hércules, guardiões do mar de Alborão". Havia lido isto em algum lugar, o típico clichê turístico. Mas agora que via os rochedos, ela achava a composição até poética. Era emocionante, depois de uma semana totalmente cercados pelo mar, estavam prestes a adentrar um continente totalmente diferente de onde vieram. Logo, o oceano Atlântico se fundiria ao Mediterrâneo e o mar azul marinho se tornaria verde esmeralda como a piscina de Dionísio.
- O Velho Mundo, Celine. Não me diga que não está animada.
- Claro que estou. Pode não parecer, mas estou tão empolgada quanto os outros. Depois de todos esses dias cercados pelo mar, não vejo à hora de pôr os pés em solo novamente.
- Talvez a gente fique um pouco desorientada no começo. Nem lembro a última vez que fiquei tanto tempo navegando.
- Eu nunca estive. Só espero que não seja tão ruim como está dizendo.
- Tome um Dramin para garantir. Mas não se preocupe, costuma ser rápido; se contarmos que você nem enjoou quando embarcamos, então, é mais provável que fique bem. Pelo menos a paisagem vai ficar mais interessante a partir de agora, eu não aguentava mais ver tanta água.
- Para uma bióloga prestes a se encerrar numa base de pesquisa na Antártica por quase um ano, você se entediou rápido demais. Fico até imaginando o quanto estará detestando o branco quando esse seu estágio acabar.
- Hum, hum. - Bianca funga. - Acho que você tem razão. Mudando de assunto, sabe que eu ainda custo a acreditar que você não ficou nenhum pouquinho tentada a aceitar o convite de Antonio.
Celine virou para o lado para ver se não havia ninguém, estavam a sós no convés do piso superior, mesmo assim, falar sobre Antonio a deixava terrivelmente constrangida. Cumprira o acordo, na noite anterior, antes de dormir, havia contado para Bianca quase tudo o que havia acontecido entre eles, menos, é claro, o episódio da piscina.
- Não, juro. Fiquei louca de raiva, isso sim. Foi muito atrevimento sugerir que eu o acompanhasse, principalmente porque já era esperado que eu fosse ficar vermelha como um pimentão e entregar toda a verdade em uma bandeja. - Suspiro. - Bianca, você, no meu lugar, teria aceitado?
- Lógico que sim. Por um homem lindo daqueles ia até os confins do mundo, e sem pensar duas vezes. Mas essa sou eu, não é mesmo?
- Mas você não ia achar estranho o fato dele ser o seu chefe, ainda mais em um ambiente fechado como esse?
- Não vejo nada demais, como você mesmo disse outro dia, seu contrato de trabalho está vinculado a Harper e não aos Navarro.
- Eu estava errada, Bianca, o tipo de trabalho que exerço aqui está diretamente ligado ao estaleiro. Se algo der errado com as análises que eu estou emitindo, uma ligação com ele seria muito prejudicial para mim. Análises tendenciosas são consideradas crime, sabia? Isso marcaria minha carreira de forma irremediável. E tem também a questão do iate, só de imaginar as conversinhas veladas ao meu respeito, os cochichos. Você sabe como eu detesto esse tipo de coisa.
- Eu concordo com você em partes. Mas acho que deveria confiar mais em Antonio, ele não prometeu que seriam discretos?
- Prometeu. Mas eu não consigo acreditar que isso seja possível.
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O segredo de Celine - Livro 1 da série Dionísio
Romantizm- Gosto de fazer parte de seus segredos, perla... Ele disse, provocativamente. Será que aquele maldito italiano seria capaz de por tudo a perder apenas para acariciar seu ego sórdido de conquistador? Uma carreira meticulosamente planejada indo água...