Aparecer para o trabalho na segunda metade do dia era bastante vergonhoso, ela sabia, mas não era uma covarde, e, de jeito nenhum, daria essa impressão a ele. Não, aquele italiano não teria o gostinho de saber que havia afetado ela a esse ponto!
Durante quase toda a noite e por toda manhã, estivera remoendo aquele encontro. Quando ela chegou à cabine na noite anterior seus joelhos tremiam e sua consciência ainda não estava totalmente ajustada ao corpo, sentia-se expandida como se fosse o próprio vento. Mas, foi a onda de adrenalina passar, para que ela tivesse conhecimento do estrago. Seu corpo latejava em lugares incomuns e por mais que chorasse, amaldiçoasse ou fizesse ameaças, que só seriam de seu conhecimento, seus hormônios continuaram reagindo. Um profundo sentimento de derrota tomou conta de seu ânimo. Todo seu esforço, durante todos esses anos, para não ter algo assim acontecendo com ela e, no fim, fora cair tão desgraçadamente. Por isso chegara tarde ao escritório naquele dia, por puro medo. Medo de que alguém percebesse o que acontecia com ela. Medo de encará-lo e ter novamente no corpo toda aquela febre. E foi isso também que a fez sair da cabine, no meio da noite, sorrateira como uma ladra, quando se apossou dos documentos e dos arquivos para trabalhar na cabine. Conforme a manhã passava, percebeu que não ver o italiano não estava adiantando muito. O nome dele expresso em vários documentos e seu corpo reagindo, se enchendo de fluidos ao rememorar o ocorrido na piscina. Por fim, começou a se sentir estúpida pela imaturidade. Não ia dar tantos créditos assim àquele maldito incidente. Iria até o escritório com toda a raiva que sentia e mostraria a ele e a si mesma, principalmente, que aquele incidente não fora nada demais. Assim como o outro, ela ia superá-lo...
- Celine! - Samuel repete um pouco mais alto.
Ela deu um pulo na cadeira e olhou para os dois editores, surpreendida.
- Se nos disser o que há de errado, talvez possamos ajudá-la.
- Algo errado. Como assim?
- Não sei, mas você não parou de resmungar desde que chegou.
Garete entra na conversa:
- A gente estava comentando como é engraçado o jeito como você briga com as teclas do computador. Esse coitado já deve ter sido amaldiçoado até a quinta geração.
Celine levanta o arco da bochecha tentando seguir a onda de risadas, mas tudo o que consegue fazer é uma careta lacrimosa. Mesmo não estando interessada na opinião deles, fez um esforço para manter o assunto de pé, queria saber até que ponto esteve dando bandeira.
- Nossa, é mesmo? Deve ser porque não dormi ontem, estou meio sem paciência.
Samuel insiste em ser prestativo:
- Se precisar de algum tipo de ajuda, é só pedir. Não sou nenhum ás da matemática, mas entendo um bocado de computadores.
- Não, está tudo bem. Eu resolvo. - Celine se esquiva. Não estava gostando nada da curiosidade daqueles dois pairando sobre ela. Como se fosse precisar de alguma ajuda... Era capaz de desmontar e montar aquele computador num par de horas. Mas era bom que eles continuassem a pensar que ela era estúpida o suficiente a ponto de não conseguir lidar com aquela máquina. O computador seria um álibi perfeito, já que no momento ela sentia muita vontade de amaldiçoar algo, ou melhor, alguém. Thor.
E pensar que ela teve a pretensão de acreditar que estava com sorte quando entrou no escritório e não viu o italiano; acreditando que seu dia, afinal de contas, seria mais tranquilo do que esperava. Mas não, nada ao se tratar daquele homem tinha haver com sorte. Antonio voltou ao escritório menos de uma hora depois, e isso não teria significado muita coisa, já que a parte do escritório que ele ocupava ficava a umas trinta passadas de distância. O verdadeiro problema estava naquela mensagem, que acabara de receber de Thor, pedindo que ela fosse até lá. Isso significava que ela e o italiano se veriam cara a cara. Essa era a verdadeira razão que a levou a praguejar, a quase quebrar o teclado daquela máquina idiota!
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O segredo de Celine - Livro 1 da série Dionísio
Romance- Gosto de fazer parte de seus segredos, perla... Ele disse, provocativamente. Será que aquele maldito italiano seria capaz de por tudo a perder apenas para acariciar seu ego sórdido de conquistador? Uma carreira meticulosamente planejada indo água...