Grávida?

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           Como sempre acontecia quando dormia em um lugar diferente pela primeira vez, Celine acordou desnorteada. Seu estômago foi o primeiro a rememorar o dia anterior. Nem bem sentiu a claridade bater nos olhos, a bile veio-lhe à boca. Mais atenta à claridade, ela se preocupou com a hora, pensou se já não estava atrasada. Precisava arrumar as malas e chamar um taxi para levá-la ao aeroporto. Virou de lado e o movimento enforcou levemente seu pescoço. O colar. Tinha dormido exatamente do jeito que chegara da festa. Esticou as pernas tentando desembaraçá-las da saia do vestido. A cabeça doía tanto, que ela teve que contar até três para alçar o corpo e se sentar na cama. Fez uma careta sentindo uma fisgada de enjoou, abriu mais os olhos. E o que viu a deixou mais desnorteada ainda.

Havia no quarto um par de olhos escuros cravados nela.

- Desde quando você está aí me espionando? - Ela pergunta mal-humorada e passa a ajeitar os fios de cabelo do penteado destruído.

- Acabei de chegar. Não quis acordá-la, parecia cansada.

Celine desliza as pontas dos dedos pelos lábios e verifica o travesseiro. Já sabia que não era o tipo de garota que dormia feito uma princesa. Bem, pelo menos não havia babado. Mas ela sente vergonha mesmo assim, ainda estava com vestido e os restos da maquiagem, sua aparência devia estar um caos. Antonio, pelo contrário, já tinha tomado banho e trocado de roupa. Sentado naquela poltrona, ele continuava impecável.

- Onde você dormiu?

- Eu não dormi. Estava resolvendo o problema do vídeo. A propósito, eu e o Thor conversamos com a Sabrina. Ela blefou sobre ter uma cópia daquelas imagens. É verdade, nós verificamos. Não precisa mais se preocupar com isso.

- Não estava preocupada. Você não precisava ter perdido seu tempo com essa história. O vídeo não tem importância, na verdade, nunca teve.

- Mesmo assim, Celine, o que a Sabrina fez foi muito grave. Eu posso processá-la por isso. Tive que demitir duas pessoas. Dois tripulantes que trabalhavam para mim há muitos anos.

- Pois não devia. - Ela resmunga. - Foi a sua senha que ela usou.

- Sei disso. Dei autorização a Thor. Ele especificou quais arquivos iria usar no documentário. Sabrina aproveitou minha ausência para vasculhar o sistema de segurança. Mentiu, roubou a senha de Thor. Meus tripulantes conheciam as regras. Não deviam ter permitido que ela vasculhasse o sistema sem uma autorização direta. -Antonio enumerava as razões que poderiam redimi-lo, mas elas nem mesmo o convenciam. Tinha sido muita estupidez negligenciar aquelas imagens. Se ao menos tivesse suspeitado desde o início, a história deles tomaria um rumo diferente. - Celine, eu sinto muito. Eu devia ter apagado aqueles arquivos logo que aconteceu. Mas eu nunca tive esse tipo de problema antes. Eu gostaria que você entendesse.

Antonio se inclina na poltrona e passa a avaliar o rosto sonolento de Celine. Tentava adivinhar o quanto ela havia assimilado de tudo o que ele disse. Enquanto ela dormia, ele teve tempo de pensar naquele assunto, repassou os dias infernais no iate. Tinha sido difícil para ele, mas, quanto a Celine, ela enfrentou tudo aquilo sozinha. Sua pequena Erínia já possuía um bom arsenal contra ele. Celine tinha razão em querer esquecê-lo. Em formar uma opinião tão ruim ao seu respeito. Ele mesmo, se baseado na opinião pública, não seria capaz de fazer um rascunho melhor. E agora existia aquele maldito acordo entre eles, que, no fim, tinha sido outra grande estupidez. Convencê-la a acompanhá-lo à festa teve como objetivo vencer as resistências de Celina, provar que ele era capaz de mantê-la protegida das fofocas maldosas da imprensa e, acima tudo, que ela seria perfeita ao lado dele. As coisas, no fim, saíram exatamente ao contrário do que ele havia planejado. Se Celine não tivesse ido à festa, ela e Sabrina não teriam se encontrado. Cedo ou tarde, eles teriam conversado sobre o vídeo e as coisas seriam esclarecidas de outra forma. E, acima de tudo, ele não estaria amarrado àquela maldita promessa, poderia, então, procurá-la em Nova York no tempo que quisesse. Agora, se ele não cumprisse com a palavra, jamais conquistaria a confiança dela. Dio Santo, três meses era tempo demais! Tinha que haver outro jeito...

O segredo de Celine - Livro 1 da série DionísioOnde histórias criam vida. Descubra agora