Confronto

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Ele pensou que quando a visse entrar por aquela porta, sã e salva, toda raiva e a mágoa que sentia se tornariam vapor, indo juntar-se a neblina do cais. Talvez tivesse sido assim, se Celine não viesse trazendo aquela expressão pesarosa; era como se ela sofresse apenas por estar de volta a Dionísio. Ou talvez fosse pelo farabutto...

Antonio saiu das sombras, assim que o tripulante trancou a porta. Celine não reagiu, não o reconheceu de imediato. Parecia aterrorizada, mas ele foi cruel mesmo assim, agarrando os pulsos frágeis, esmagando-os entre os dedos. Ouviu um estalo agudo, chegou a pensar que os tivesse quebrado. Os pulsos de Celine eram tão frágeis quanto o vidro...

Aliviou a mão, assustado. No chão, um líquido escuro empoçava em torno deles. Uma garrafa de vinho rolou para longe. Voltou a ser rude, passou a sacudi-la, fazendo perguntas e acusações. Celine continuou sem ação. Não disse uma palavra, tampouco reclamava de dor. Isso fez com que ele perdesse qualquer resquício de decência. Passou a arrastá-la aos trancos em direção a porta. Depois, pelas escadas e finalmente para dentro da cabine.

Lá dentro, Celine se volta para ele assustada, saía finalmente do transe.

A primeira coisa que ela fez foi alisar o braço, havia manchas vermelhas neles. Seus olhos se encontraram nesse momento, Antonio sentiu vergonha. Depois, ela se esquivou e passou a analisar o quarto com a expressão atordoada. Ele sentiu vontade de pedir desculpas, mas, ao invés disso, manteve-se estático, hipnotizado com as reações dela.

Quando se deparou com a cama rente a ela, Celine deu dois passos para trás e voltou a encará-lo. Desta vez, com uma fúria ressentida.

- Antonio você não podia.... Não, eu não vou ficar, vou sair daqui agora!

- Non, você não saíra enquanto eu não obtiver minhas respostas. Já estou farto desse maldito jogo de gato e rato.

Finalmente o jogo se voltava contra ele, Celine pensou. Mas, dessa vez, o rato não queria ser apanhado. Continuo a atacá-lo, furiosa:

- Eu não devo respostas a você! Talvez a Thor, é para ele que eu trabalho.

- Isso não é sobre trabalho e você sabe muito bem. É sobre o farabutto que pegou na rua para esfregar na minha cara! É sobre ter saído com um completo desconhecido sem avisar ninguém! Nem ao menos teve a delicadeza de atender o celular para dizer que estava viva.

Antonio gritava com ela, mas, dessa vez, Celine não se encolheu assustada, estava com muita raiva por ter sido arrastada até ali.

- Ele se chama Enrico.

- Erico. -Antonio repete com o mesmo desprezo de outrora. ¬- Aposto que é tudo o que sabe sobre esse italiano di cazzo. Eu devo saber mais desse farabutto do que você, mia cara. Uno stronzo desocupado que passa os dias seduzindo turistas. A Itália está cheia deles. Não dá para acreditar que uma garota inteligente como você tenha caído na lábia de um malandro desse tipo.

- Enrico não é assim! Sinto muito, mas Juan lhe passou informações erradas.

- Juan?

Juan realmente havia falhado sobre Celine. Ele esteve ocupado com as câmaras da vigilância interna durante a feira. Ninguém, nem mesmo Antonio, podia imaginar que Celine faria uma tolice dessas. Quando deram por falta dela, já era tarde.

O silêncio de Antonio foi o suficiente para Celine. Ela sentiu um pouco de medo. Talvez ele realmente soubesse mais de Enrico do que ela. Muito pior do que isso, talvez Antonio estivesse, o tempo todo, controlando cada um de seus passos. Aquele homem não a deixaria em paz!

O segredo de Celine - Livro 1 da série DionísioOnde histórias criam vida. Descubra agora