Um crime perfeito

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           - O pessoal está organizando uma festa na boate hoje à noite. Você vai, não é?

           - Eu não sei, talvez. - Celine resmunga a resposta para Bianca e volta a se concentrar na comida. Despeja um pouco mais do macarrão cremoso em seu prato, recriminando-se por não ter colocado um pouco daquelas coisas coloridas que Bianca comia.

           - Pois eu vou, e vou me acabar. - Bianca continuava. – Mereço! Nem dá para acreditar que já é sexta feira. Aquela maldita megera está acabando comigo.

            Celine se vira em direção ao olhar rancoroso de Bianca. A megera em questão era a ruiva que estava com Antonio naquele dia, a fotógrafa principal do projeto. Perfeccionista e enérgica com a equipe de apoio, à qual Bianca fazia parte. Mas devia levar em consideração que o resultado, quase sempre, era fascinante. A mulher era mesmo muito competente.

             - Vamos, Celine... - Bianca passou a choramingar, justo o que Celine tentava evitar ao deixar a resposta em suspenso. - Não vai ser a mesma coisa sem você.

             E as lamurias foram seguindo Celine até a mesa, onde ela largou o prato e se virou com ar grave para Bianca, dizendo:

             - Ok, Bianca, já chegar, eu vou. - Ela concorda porque não se sentia disposta a enfrentar as petições de Bianca por mais tempo. Depois disso, virou a chave, passou a mastigar a comida distraída com os próprios pensamentos. A semana tinha sido intensa para ela também. Além das finanças do iate, havia todo o trabalho extra que o italiano lhe passava. Era praticamente subordinada a ele.

              Mas, o fato era que tudo tinha sido inacreditavelmente... tranquilo. O maior inconveniente em trabalhar no mesmo ambiente que aquele italiano enervante nem era a falta de divisórias do escritório sediado no living do terceiro andar. A sala estava sempre cheia, nunca ficavam a sós. Mas era o ensaio diário com sua própria curiosidade que a cansava, pois era comum distrair-se com a figura dele entretido com alguns papéis ou quando o tom de voz melodioso se alterava em um timbre fora do normal. De como ela ficava, por horas a fio, tentando decifrar o sentido de uma frase dita em italiano, só porque identificou uma palavrinha ou outra semelhante ao português de sua terra natal. Para depois, é claro, se sentir uma idiota por ter perdido tanto tempo nisso. Pensava que uma das razões dessa sua curiosidade irreprimível, além da sua quedinha sem noção, era devido a surpresa por vê-lo tão comprometido com o trabalho, não esperava isso dele, provavelmente andava rastreando um pouco daquele comportamento boêmio que os sites de fofoca alardeavam. Mas, além do flerte com a fotógrafa, ela ainda não conseguiu ver nada disso. O italiano estava sempre metido no escritório, nem ao menos fazia as refeições no buffet como todo mundo. Ao que parecia, havia uma equipe dentro da tripulação apenas para servi-lo, ou seja, o homem não parava de trabalhar nem para comer. Era comum vê-lo reunido com o engenheiro ou com o capitão para manter-se informado sobre o desempenho do iate, isto sem falar naquelas longas e exaustivas conferências pela internet.

                É, ele realmente se parece com um homem de negócios...

                Celine suspira, desanimada, ao se dar conta da armadilha que seus pensamentos prepararam. Já fazia algum tempo que seus devaneios acabavam sempre no mesmo lugar. Ela nutria, com toda certeza, um interesse fora do comum por aquele homem. Era bastante embaraçoso como seus joelhos tremiam quando o olhar dos dois se encontravam. Em como se acovardava e desviava os olhos, com medo de ser tragada para o fundo daquele mar bravo. A intensidade dos olhos dele era demias para ela, simplesmente atordoante. Mas ela ainda tinha esperanças de que aquilo tudo seria superado com o tempo, logo ela se acostumaria com ele. Era só não ficar pensando demais...

O segredo de Celine - Livro 1 da série DionísioOnde histórias criam vida. Descubra agora