Capitulo 49-Bônus-O arrependimento suga a vida de qualquer pessoa.

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LISA

A dor queima na minha barriga; está quente e dolorida. Eu quero chorar, mas meus lábios não se movem; estão ásperos e presos juntos como velcro. Minha mente está entorpecida, tentando entender onde eu estou.

Eu pareço vazia.

Meu estômago cai e o medo se enraíza. O pânico escorre através de mim, estou presa neste estado inconsciente.

Deus, eu sou um monstro.

Eu, Elisa Salles, tenho uma maldade dentro de mim, tão real quanto um órgão. Corte minha barriga e talvez ela escorra para fora, viscosa e escura, e caia no chão para que você possa pisar nela.

É o sangue dos Salles.

Minha mãe era uma maldita viciada que esqueceu de tomar seus remédios e me trouxe para esse mundo desgraçado. Não importa quantos abortos ela tentou, uma vez que a semente Salles está em você, é praticamente impossível matá-la. Eu tentei, muitas vezes. A primeira vez eu tinha dez anos, e estava cansada do lixo de vida que tinha. Eu ingeri uma quantidade absurda de remédios, e ainda sim não foram o suficiente para acabar com mais um estorvo da humanidade. Eu cresci com o desejo de acabar com minha vida, mas não importava o quanto tentasse, eu não consigo. Eu sou egoísta, uma desgraça.
Em todos esses anos, fui incapaz de dizer para Emma que eu alimentava os vícios doente de Marcelo. Que estava ali apenas para satisfazer meu fodido pai, e contar cada passo que ela dava a ele. Eu apenas calei a boca e aceitei as coisas como eram. E agora, Emma está aqui, refém de um cara completamente insano. E eu sou a única culpada por isso.

— Você é louco. — Eu acuso.

Meu corpo vibra, como se eu tivesse sido atingida por mil volts. Arrependimento cai sobre mim, quase me derrubando no chão.
Eu nunca deveria ter aceito vim com Marcelo para Nova Iorque. Há doze anos, quando ele me procurou, dizendo ser meu pai e que tinha um trabalho para mim, eu deveria ter mandado ele ir se foder. Não deveria ter aceito vigiar uma garota para ele. Eu deveria ter ficado em casa naquele dia e jamais ter colocado os pés naquela maldita praça. Eu deveria ter contado toda a verdade para Emma.

Eu mereço morrer.

— Emma é minha Elisa. Sempre foi. — Só agora eu via o olhar doentio em seu rosto quando ele falava o nome de Emma.

Como eu não percebi isso antes?

— Você precisa de ajuda Marcelo. Não pode simplesmente sequestrar alguém assim e se sentir dono dela.
— Chega dessa merda. Volte para onde veio, e certifique-se de que ninguém vai nos achar.

Balanço minha cabeça.

— Eu sinto muito, mas eu não posso deixar ela aqui. Emma é minha amiga.

Marcelo riu, uma risada forte e debochada.

— Sua amiga? Você tem certeza? Porque não parecia quando você me dava cada informação sobre ela em troca do meu dinheiro.
— Eu não sabia que você pretendia sequestrar ela— Minha voz é sombria em defesa.

Lágrimas quentes acumulam e escapam pelos meus olhos, e luto para não ter que enfrentar a dor esmagadora no meu peito; um poço negro de tristeza, vazio e
consumidor. É como se meu sangue estivesse correndo seco, porque tudo o que eu sinto é gelo correndo através de mim.

— De o fora Elisa, e mantenha sua boca fechada.
— Não — Eu grito, e isso faz com que algo em seu rosto fique escuro.

Eu engulo em seco e, em seguida terror
inunda quando Marcelo cambaleia para fora da cadeira e me pega pelo pescoço,
fervendo.

— Não me desafie, sua miserável. Eu te tirei da merda em que vivia, te dei o luxo que tem hoje. Então faça que eu disse, porra.

Minhas mãos ficam nervosas e como sempre, a covarde em mim ganha vida e eu começo a pedir desculpa, imploro para ele me soltar até que ele finalmente solta e uma tosse seque arranha minha garganta.

— Você vai voltar para a casa do maldito, e vai me deixar ciente de como as coisas estão andando. — Ele rosna com
raiva.

Minhas pernas estão uma geleia, mal consigo me firmar em pé. De repente, meu corpo começa a tremer e eu começo a chorar, não aguento mais um minuto dessa merda toda. Depois de um tempo, eu não estou nem pensando em Emma. Eu estou
somente consumida com dor e tristeza enquanto eu choro em minhas mãos. Minha garganta dá um nó quando a miséria toma conta, mas o puxão da
realidade vem quando o meu celular toca e vejo o nome de Junior na tela. Olho para Marcelo e ele tem uma sombracelha levatanda, me instigando a atender. Mas eu não o faço. Eu desligo o telefone com mais algumas lágrimas escorrendo, e eu as deixo ficar na minha pele.

— Eu não aguento isso mais.— Meu pulso acelera enquanto gaguejo as palavras que sempre estive com medo de dizer a ele.
— Você vai ter que aguentar. Eu gastei muitos anos para que você foda tudo.
— Marcelo, por favor. — Eu digo em uma voz trêmula enquanto calafrios atropelam meus braços vacilantes.
— Não. —Ele grita, sua voz ecoando através do espaço.— Você vai volta para casa do maldito.

Ele anda na borda da mesa e volta para mim, mas quando chega perto, eu dou um passo para trás.

— Ou você prefere que todos saibam que você me ajudou a sequestrar Emma? — Ele sibila, enquanto ele olha pra mim. — Imagine o que seu fodido namoradinho vai achar?

Engolindo em seco, eu forço as palavras. —  Eu não me importo. Eu só quero tirar Emma daqui.  Por favor, solte ela.

Seu maxilar estremece e ele começa a abrir e fechar as suas mãos em punho ao seu lado ritmicamente. Ele espera um momento antes de quebrar o
silêncio, fervendo: — Ela não vai sair daqui, porra! Emma é minha.
— Marcelo, por favor, desista disso. É doentio— Eu digo, tentando manter
minha voz calma.

Mas minhas palavras acende uma fúria em seus olhos, e ele dá mais um passo em minha direção.

— Elisa, minha querida e doce filha. Você por acaso esqueceu do que aconteceu quando você tentou jogar a merda toda para os ares? —Ele fala furiosamente, enquanto suas mãos apertam meus
ombros, que tremem por causa das minhas emoções.
— N-não — eu ofego, imagens do corpo do homem que eu amei passando por meus olhos.

Leandro era o nome dele, e eu havia o levado até a morte quando tentei buscar minha liberdade. Mas na verdade eu nunca soube exatamente o significado dessa palavra, nunca senti ao certo o gostinho que ela tinha.

— Ótimo, é bom que você tenha essa memória bem fresca na mente e faça a porra que eu mandar. —Seus dedos apertam os meus ombros, dolorosamente. — Caso contrário, não pense que eu hesiterei em tirar a vida daquela cadela do diabo, porque eu mataria ela sem ao menos piscar.  Se Emma não ficar comigo, ela não fica com mais ninguém.

Todo o sangue drena para fora de mim,
me deixando totalmente aterrorizada, enquanto assisto a superfície de ódio
perverso em seus olhos. Nesse momento, a minha fúria assemelha a dele, exceto que a fúria é vestida em uma massa de tristeza e desespero quando grito: — Você é louco. Completamente.
— E você será uma garota sem língua se não mantê-la dentro da sua maldita boca.— Ele grita conforme agarra meus braços violentamente.
— Você está me machucado. — Eu sinto meu rosto aquecido com as lágrimas que ameaçam.
— Escute bem que vou falar uma última vez, Elisa. — O olhar em seus olhos me assusta. — Você vai voltar para casa do maldito, e vai me deixar por dentro das informações que eles tem.
— Marcelo... —Eu grito quando suas unhas cravam em minha pele.
— Você vai fazer o que eu disse não vai? — Seu rosto está vermelho e furioso quando ele cospe as palavras.
— Solte-me. — Eu peço, em pânico, empurrando para me libertar
do seu poder sobre mim.
— Me responda porra! — Grita com acidez.
— Sim! — Eu grito imediatamente de volta, e ele libera seu aperto.

Ele se afasta de mim, passando as mãos com raiva por seu cabelo, enquanto fico aqui, nervosamente sabendo que não tenho escolha.

Eu sou repugnante.

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