Noivos por acaso

Capítulo 20- Deixe pra trás o que não te leva pra frente.

NICOLAS.

A noite está fria. As estrelas estão esbanjando toda sua beleza e a lua está brilhando sobre a água, dando-lhe um toque prateado. Risadas soam do outro lado da piscina onde algumas das meninas estão cantando e dançando em borrão de braços e cabelos. Chamando a atenção dos maridos que estão em um semicírculo, assistindo. Todos com um sorriso idiota no rosto. E sentados no sofá está Emma e meus pais, conversando. Seus olhos estão brilhando alegres e ela tem sorrindo a noite toda.

Estar em volta deles era exatamente o que ela precisava.

— Ela é linda. — Murmura Mayara, ao se sentar ao meu lado.
— Ela é. — Eu confirmo e suspiro.

Emma é tão fodidamente linda que ela tira o meu fôlego.

— E você é um idiota. — Ela cospe.
— Você não sabe uma merda sobre isso. — Eu respondo com firmeza, não querendo seguir por aquele rumo.
— Eu sei que você pode ser um idiota arrogante, às vezes, mas o que você disse a ela levou o grande prêmio. Quem diabos você pensa que é para ferir alguém assim? — Ela continua, nem um pouco intimidada com minha expressão.
— Vá se foder, Mayara! — Eu rosno, impaciente.

Ela vira o olhar para o meu e arregala os olhos, enquanto um sorriso com traços malicios se espalha por seu rosto.

— Adoro. Porém meu marido está dormindo. — Como sempre, ela usa seu humor para amenizar o clima.
— Sério que você disse isso? — Eu pergunto, e faço uma careta para ela.
— O quê? — Ela sorri inocentemente, em seguida, inclina a cabeça no meu braço. —  Me desculpe. Mas é mais forte do que eu. E a culpa é toda de Dex e seu pau grande.

Ela suspira e meu queixo caiu enquanto uma maldita visualização da cena insistia em se formar em minha mente.

— Jesus! Dex tem um pau gigante e sabe muito bem como usá-lo. Por isso meu cérebro só pensa em sexo.
— Mayara...

Um tique nervoso ataca meu olho direito que agora treme insistentemente.

— Por qual fodido motivo você está me contando isso?

Ela ri.

— A sua cara é a melhor, sério.
— Você é patética. —Agito os calafrios para fora do meu corpo quando um pau que não seja o meu é idealizado pelo meu cérebro.— E irritante pra caralho.
— Você disse orgasmo? — Ela brinca, antes de cair na gargalhada.

Eu suspiro.

— Sinceramente, não sei dizer se você mudou, ou era eu que não te conhecia.— Eu murmuro, e xingo sob a minha respiração.

O semblante de Mayara tornou a ficar sério, e ela soltou o ar dos pulmões com força, baixando um pouco o olhar.

— Eu sempre fui assim, Nick. Você sabe muito bem que eu apenas usava as máscaras para agradar nossos pais. Aprendi isso com você. Só que no seu caso e sem a intenção de agradar alguém.
— Comigo?
— Você acha que ninguém vê que essa personalidade não é a sua? — Ela me deu um sorriso casto.

Soltei o ar dos pulmões com força.

— Eu não quero ter essa conversa.
— Você nunca quer, Nick. Fica fugindo da merda dos seus problemas.
— Eu estou bem do jeito que estou.
— É essa mentira que você conta para si mesmo todo dia?
— Não há mentira, irmãzinha. Esse sou eu. Um fodido arrogante. Eu não sou o herói da história, o príncipe no cavalo branco, nem mesmo o maldito sapo. Eu sou o que você vê, e isso é tudo.

Ela permaneceu em silêncio, me encarando, e após um instante, exibiu um sorriso.

— E sabe o que eu vejo?— Ela questiona, segurando meu olhar. — Vejo um cara transbordando em sentimentos mas que  age como se fosse tão forte e orgulhoso, como se você não tivesse nada dentro de si. — Seu braço se estende e ela bate no
meu peito com o punho fechado. — Você pensa que me engana?

Abro minha boca para responder.

— Pffft — Ela me cala. — Sei ler muito bem as pessoas. Meus anos nessa terra podem terem sido poucos, mas foram o suficiente para me ensinar a estudar as pessoas. Para aprender a conhecer quando estão mentindo e quando não estão. E você está se afundando na própria mentira porra!

Calor inunda meu pescoço e rosto.

— Eu deveria chutar o seu traseiro — Eu rosno.
— Você deveria parar de ser um maldito masoquista, preso ao passado e aproveitar essa chance que a vida está te dando. Deveria tornar a farsa real.
— Eu não sei o que você quer dizer.—Defensivo, cruzo os braços sobre o peito.

Quando se tem Mayara como irmã é quase impossível esconder algo dela. Ela é capaz de arrancar informações da sua boca sem ao menos tentar. E se não tiver controle pode ter certeza que ela conseguirá o que quiser de você. Então fui obrigado a adquirir imunidade psicológica contra ela com o passar dos anos.

— Nick, vamos lá. Não ache que sou estúpida.  Você acha mesmo que eu não notaria? Pense novamente. — Ela ri — Eu vejo o clima entre você e Emma. Vocês dois praticamente ficam em chamas quando estão perto um do outro.
— Claro. Nós estamos...

Ela me cala novamente.

—  Chega de mentiras.— Seu olhar pareceu me perfurar enquanto me analisava. — Não subestime minha inteligência caralho.

Esquece o lance de eu ter imunidade psicológica. Meu cérebro se torna burro quando o assunto é negar alguma coisa a essa bastarda.

— Quem mais sabe?
— Aparentemente, só as mulheres. — Ela ri.

Eu suspiro novamente, levando a minha mão até meu cabelo.

— Foi um erro, Mayara. Não sei de onde tirei essa ideia— Eu confesso.

O que mais há a dizer?

— Eu não me importo. Só me importo que você seja feliz. — Os olhos de Mayara amolecem. — Emma é sua chance, irmão. Sua oportunidade de ser feliz. E você está cagando em cima dela.
— Emma é uma menina doce, Mayara. Mas também é perturbada e solitária. Eu só iria foder ainda mais sua mente com toda minha carga.

Mayara me estudou em silêncio, e depois estendeu a mão e tocou meu rosto.

— Sim, Emma é uma alma perdida. E como você, ela também tem seus demônios. — Ela olha diretamente para mim, inabalável, como de costume. — Vocês são como duas peças quebradas, de formas totalmente distintas, mas que se encaixavam perfeitamente entre si.
— Se eu deixar ela entrar, vou terminar de destruir ela.— Eu sussurro.
— Nick, Emma uma das mulheres mais fortes que eu já conheci. Ela pode lidar com praticamente qualquer coisa que você jogue nela.
— Não, ela não pode. Hoje eu fui um filho da puta com ela, e praticamente a vi quebrar diante de meu fodidos olhos.
— E você acha mesmo que foi só por causa de suas palavras toscas?
— Porra, sim!
— Jesus, homens são tão lentos! — Ela revirou os olhos. — Emma está apaixonada por você, Nicolas. Apaixonada. E quando uma pessoa está apaixonada, ela aguenta ouvir qualquer merda de qualquer pessoa e se manter firme, mas quando as palavras vem de alguém que nutrimos algum sentimento, tudo muda.

Estreitei meus olhos.

— Não seja ridícula. Ninguém se apaixona tão rápido.
— Você e ela se apaixonaram.
— Eu não estou apaixonado.
— Está sim. Você pode não querer admitir
isso, mas eu posso ver isso em seus olhos. Você realmente sente algo por Emma.
— Sim, tesão.
—  Deixe de ser idiota, Nick. Aceite de uma vez que as coisas não saíram como você desejava e agora você está completamente de quatro por Emma.
— Eu não estou.
— Nicolas, desde que Emma chegou eu te vi mais feliz, te vi preocupado com alguém que não é da nossa família, te vi irritado, intenso e com ciúmes. Eu o vi com carinho em seus olhos e vi seu lado doce aparecer com mais vezes. E sabe o que isso significa?

Ela sorriu ao se levantar.

— Que você está fodido, irmãozinho. —Sem olhar de volta para mim, ela se virou e foi em direção a nossos pais e Emma.

Chegando lá, algo que Mayara disse fez a cabeça de Emma virar em minha direção. Quando meu olhar encontrou o dela, mesmo de longe pude notar que algo brilhava em seus olhos. Era o tipo de brilho que tinha a habilidade de me fazer sentir um adolescente imaturo em vez de um homem muito experiente. E eu não pude evitar o frio que passou em minha espinha ao constatar uma coisa.

Mayara estava certa. Eu estava regiamente fodido.