Capítulo 11-Tenha cuidado com a tristeza. É um vício.

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NICOLAS

Eu pude perceber que, mesmo dormindo, Emma mantia uma angústia latente em sua expressão. Nós só nos conhecemos há pouco tempo e eu sei que há muitas coisas que eu não sei sobre ela. E ela não sabe nada sobre mim.

Mas o pesadelo? Seu horror tangível? Isso me matou.

Algo nela me incomodava, me confundia num misto de angústias e contentamento. E isso não me coibia, mas me fazia querer mais e mais conhecê-la e arrancar aquela erva daninha que às vezes parecia crescer dentro dela.

Parecia que duas mulheres ocupavam um só corpo.

Esfregando o rosto com as mãos, eu caminhei até o banheiro. Enquanto me ensaboava, as imagens de Emma gritando preenchiam minha mente. Ela parecia um animal assustado pronto para fugir, e mesmo depois que se deu conta que era eu, havia certa resistência em seu corpo. Algo que me chamou a atenção quando a abracei, principalmente quando vi seus olhos, quando notei suas várias expressões. Eu não a entendi. Não entendi seus gritos, sua entrega e sua defesa, pois algo estava lá, fragilizando seu olhar, parecendo um pedido mudo, uma palavra não dita, uma guarda levantada.

Aquela mulher não era simples, provocativa e apenas sexual como queria parecer. Havia certo desespero sob a superfície, havia um olhar de dor camuflado, havia medo para quem era tão confiante como ela, ou tentava aparentar ser.

Eu tive o coração pisado e quebrado em milhares de pedaços?

Besteira. Coisas horríveis aconteceram com Emma no Brasil, isso eu tinha percebido desde a primeira vez que estive em seu apartamento.

E, ali, apenas se confirmava.

Terminei o banho, percebendo que, por enquanto, eu não tinha as respostas, somente um bando de perguntas. Enxuguei-me, vesti uma roupa e voltei ao quarto. Emma ainda dormia, mas agora parece mais relaxada, sua respiração era tranquila e regular. Vendo- a dormir, assim, tão à vontade, como um anjo, memórias de meu passado voltam com tudo em minha mente.

Parece um djavu.

Olhe para mim agora. Perceberam os meus olhos? Eles não piscam e minha respiração está mais profunda que o normal. Sim, eu sei... pareço uma ameba em estado de choque.

Olhe para minha expressão de idiota.

Você já se sentiu bem e ao mesmo tempo confuso com seus pensamentos?

Esse sou eu, neste exato momento.

Eu podia sentir a tensão como uma teia de eletricidade entre Emma e eu. Tínhamos tantos fantasmas escondidos dentro de nossos corpos que estávamos pesados. Eu queria saber quais eram os fantasmas dela, mas não tinha certeza se queria que ela descobrisse os meus.

— Cadê ela? — Minha mãe perguntou, puxando a cabeça para trás quanto eu entrei na sala de estar.
— Dormindo.

Minha mãe ficou em silêncio por alguns segundos, apenas observando enquanto eu me acomodava em uma das cadeiras. Mas bastou eu pegar uma torrada, e ela iniciou-se com o esperado interrogatório.

— Então, o que aconteceu?
— Eu já disse. Foi apenas um pesadelo, Mãe. É isso.
— Eu realmente espero que sim— Ela disse, um aviso mudo. — Emma é especial, meu filho.  Não estrague isso.
— Eu sei— Concordei, pegando outra torrada.
—  Entao porque você ainda não marcou o casamento? — Ela perguntou,
me dando o que eu só poderia chamar de sorriso desapontado.
— Marcar o casamento? — Repeti, levantando a testa.— Ainda é cedo, mãe.
— Aprenda uma coisa, querido. Quando se acha uma mulher de personalidade forte, nunca é cedo para oficializar o status.
— Um passo de cada vez. Eu noivei não faz um mês.
— Besteira. Pare de importar com essas  coisas, pois se você perdê-la, ai sim vai dar valor e irá tentar recupera-la. Não digo que não conseguirás, talvez ela ainda esteja a sua espera, mas talvez, ela tenha seguido em frente. Afinal, não pense que você é a unica opção dela, então dê valor enquanto você tem.
— Eu não vou perdê-la. — Afirmei, encerrando o assunto.

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