Capítulo 28- A dor é inevitável. O sofrimento é opcional.

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EMMA

Eu não sentia falta do meu país até pisar aqui novamente. Eu olhava os rostos das pessoas e pensava no quanto eu destoava dos nova-iorquinos.

E muito.

— Você se importa se eu parar em um lugar antes de irmos para casa?—Nicolas perguntou, quebrando nosso silêncio.

Olhei através da janela e vi que já estávamos de volta ao Rio.

— Não, eu não me importo. —Eu disse e Nicolas estacionou o carro.

O vento frio bateu contra o meu rosto e braços no momento em que saí do carro. Levei apenas alguns segundos para concluir que estávamos na praia.

— Eu costumava vim aqui sempre que estava no Brasil. Aquele lugar me dá calma— Disse e me virei em direção ao píer que se estendia por pelo menos quinze metros ao longo da água salgada.

Por conta do horário, o lugar estava vazio, banhado apenas pela luz suave da lua.

Era magnífico.

— Vamos lá — Ele disse, segurando a minha mão e me puxando em direção ao píer.

Caminhamos até o limite da estrutura de madeira, então paramos. Ele soltou a minha mão e eu abracei o meu corpo, ambos em silêncio, enquanto eu apenas sentia a brisa da madrugada correr sobre meu rosto. O cheiro de maresia se infiltrou em minhas narinas, e eu fechei os olhos, incapaz de me conter.

Aquilo era maravilhoso.

Senti toques suaves roçarem contra a minha perna e, quando abri os olhos, percebi que Nicolas havia se sentado sobre a madeira, uma perna esticada enquanto a outra se mantinha dobrada, o joelho para cima.

— Venha aqui.—Pediu e eu me sentei ao lado dele.

Me surpreendi quando ele firmou seu toque em minha cintura e me puxou até que eu estivesse acomodada entre suas pernas, minhas costas contra o seu peito. Eu suspirei no momento em que senti suas mãos massageando meus ombros, seu nariz vasculhando atrás da minha orelha.

Deus, aquilo era bom.

Ele não disse nada, e eu também não falei uma palavra. Ficamos lá, apreciando a vista até que o sol surgiu no horizonte. Estava como que dopada, sem rumo, perdida. Olhava para aquele céu onde laranja, amarelo, púrpura e vermelho se misturavam em uma belíssima aquarela de cores sobre o manto que deixava de ser negro e se tornava azul. Era impressionante a beleza comovente daquele amanhecer e, por um momento, apenas o admirei, sem pensar mais em nada, minha mente um pouco cansada e um tanto vazia.

Tudo crescia dentro de mim e me consumia.

Quando decidimos ir para casa, eu mal me lembrava que não havia sequer dormido. E assim que adentrei a casa, senti a exaustão me abater de uma só vez. Leva quase todas as minhas forças para ficar de pé e subir as escadas. Quando chegamos no quarto, Nicolas se senta na cama.


— Ela escreveu uma carta. — Ele diz.

Demorou alguns segundos para que meu cérebro registrasse suas palavras e eu saísse da névoa de torpor na qual a minha mente havia se instalado.

Eu olho para ele confusa.

— Como?

Por um segundo, ele não encontra meu olhar, mas depois ele respira fundo antes de olhar para mim.

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