Capítulo 52 -Bônus -Intuição é uma garantia insuficiente da verdade.

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Mayara Schiller

Eu fui a filha que todo pai queria. Estudiosa, comportada e prestativa.
Desde muito jovem, fazia parte de um mundo onde a perfeição era o meu limite. Eu procurava a todo momento ser uma garota considerada perfeita aos olhos de todos. Com muito custo, empenhará-me em representar a imagem da menina de ouro. O orgulho da família, a única das quatros filhas do grande juiz Adam Schiller com juízo, a garota cujo futuro era premeditado em ser baseado em um bom relacionamento com um homen do seu meio social e fosse a idealização de uma vida íntegra e sublime que costumávamos ver nas colunas sociais.

Eu seria uma boa esposa e uma boa advogada pois eu era diferente.

Ao contrário de todos meus irmãos e irmãs, eu não falava palavrão, não tinha tatuagem nem piercing. Não frequentava baladas e sempre tirava as melhores notas. Eu cresci como uma garota boa. Cresci como uma garota que aceitava todas as ordens e obrigações que lhe eram impostas de boca fechada. Era aquilo que esperavam de mim. E eu sentia uma enorme responsabilidade de agradar meu pai. Mesmo que dentro de mim algo sempre se rebelasse contra a idéia que era me imposta.

Eu era a filha perfeita afinal, não podia decepcionar meu pai.

Mas nem tudo é como imagina ou como anseia. Era aniversário da minha melhor amiga e eu decidi acompanhá-la em uma boate para comemorar. Eu queria sentir o gosto da liberdade, nem que fosse por um dia. E quando ele entrou vestido em couro e botas, senti como se todas as minhas obrigações sumissem e uma personalidade devassa tomasse controle sobre meu corpo. Diferente das minhas irmãs, eu nunca havia tido um homem na minha cama. Não por falta de oportunidade, mas porque a minha vida estava focada em minha carreira.

Somente nela.

No entanto naquele dia eu abriria uma exceção. E pela primeira vez na vida, eu tive um homem entre minhas pernas.

Resultado: Gravidez aos 17 anos.

A perfeita Mayara, a inocente da família, engravidou na adolescência, e ainda mais de um motoqueiro. A partir dali as pessoas mudaram a forma de me olhar e comecei a finalmente ser eu mesma. A fantasia que usei por anos já não cabia em mim, mas ela me deixou alguns dons valiosos. Como a minha intuição extremamente aguçada. E nesse exato momento, ela me dizia para não confiar em Lisa. Eu buscava alguma explicação para isso mas não encontro nada coerente, apenas uma voz dentro de mim que fazia perguntas sem sentido e eu estava quase explodindo por não ter as respostas.

Mas estava disposta a consegui-las.

— E-eu posso ir beber água? —Sua voz doce e chorosa me trás a realidade.
— Claro, querida. Fique a vontade. —Minha mãe respondeu.
— Eu vou com você, Lisa.—Me levantei mas uma mão me segurou firme.
— May, você acabou de beber água.—Disse e olhei para o homem que me tirou dos eixos e me fez o que sou hoje.
— E qual o problema em querer mais?—Perguntei levantando uma sobrancelha.
— Eu te conheço. Deixe ela em paz. —Ele sorriu. Porém, seu sorriso não chegava aos olhos.

Ele estava preocupado.

Sua reação quase me fez voltar atrás, no entanto, quando olhei para a cozinha, minha desconfiança cimentou.

— Só depois de aquietar meus pensamentos.

Consegui sair de seu agarre e caminhei até a cozinha onde Lisa estava.

— Lisa, por favor, me desculpe se eu fui rude. Talvez eu tenha descontado em você toda a merda do dia.
— E-eu entendo.—Murmurou enxugando a face.
— Mas você não colaborou muito.—Apontei focada na leve camada de suor que porejava a sua pele.
— C-como?—Ela apertou os lábios e endereçou o olhar para as mãos.
— Sabe, não é difícil desconfiar de você. A merda está praticamente explicita em sua testa. Só eu que enxergo isso?
— V-você está equivocada. —Respondeu indiferente, porém sua resposta não combinava com seu olhar.
— Porra, pare com esse joguinho do caralho! Eu sei que isso está te machucando, sei que ama Emma, mas seja lá o que você esteja escondendo, você será culpada se algo acontecer com ela.

Nesse momento, assisto de camarote à mandíbula dela tensionar, assim como o resto de seu corpo.

— Você não sabe de nada.—Ela parecia perturbada. Em uma briga com a própria mente. — Não sabe de nada. Se sentisse o que eu sinto...
— E como você se sente Lisa?
— Medo. Minha melhor amiga está sequestrada, não há outro sentimento para predominar.
— Claro. —Minhas mãos suavam sem parar e meu coração ricocheteava alucinadamente dentro do peito.

Estava difícil demais encontrar as perguntas corretas.

— Eu entendo você, mas por favor, me diga. Você sabe de alguma coisa que não sabemos?
— Por favor, Mayara. Me deixe em paz.
— Porra, eu não posso te deixar em paz se não descartar minhas suspeitas. Eu já perdi uma amiga por não seguir minha intuição, não quero que isso aconteça novamente.

Respirei fundo.

— Você sabe o quão sério é a situação? Sabe que o sequestrador de Emma talvez seja um homem chamado Marcelo e que ele fez algo muito ruim a Emma e que pode fazer novamente?

Ela ficou branca como papel. Analisei todas as palavras que havia dito e nenhuma delas poderia causar aquele tipo de reação.

Merda! Alguma coisa não se encaixa.

— Lisa?—A chamei quando pensei que iria desmaiar.— Você está se sentindo bem?
— Sim—Respondeu e encostou sua cabeça na parede.

Seu rosto estava vermelho, linhas profundas marcavam o tamanho de sua dor. Mas nada daquilo me fez parar, o que realmente me chocou foi o olhar suplicante e desesperado que ela me deu.

— Por que essa reação, Lisa?—Desconfiança estava queimando em meu cérebro.
— Pare, por favor...—Lágrimas grossas caiam em suas bochechas.—Eu juro que não sei de nada.

Meu coração deu uma batida dolorosa. Era óbvio que ela estava sofrendo de verdade, não havia mentira em seu choro. Contudo, eu ainda queria algumas malditas respostas.

— Lisa só me responde uma pergunta—Pedi e ela parou e inclinou a cabeça — Você tem alguma coisa haver com esse sequestro?

Eu podia ver as engrenagens de sua mente rápida trabalhando. Ela mordeu os lábios, me olhou e depois baixou a cabeça.

— Não. —Foi sua resposta.
— Tudo bem. Me desculpe se fui inconveniente. —Abaixei a cabeça e voltei para sala.

Não havia mais motivo para pressioná-la. Minha mente ainda está uma bagunça do caralho, a intuição me acertando de todas as formas. O cérebro gritando que eu precisava ir mais fundo, arrancar a maldita verdade de Lisa, pois embora ela tenha falado algumas, omitiu outras.

— Você tentou, boneca. — Romeu me puxou para seu colo.— Não fique se martírizando. Nos vamos encontrar Emma e tudo ficará bem.
— Sim, nos vamos. —Em empurrei as desconfianças e a intuição para um canto escuro e foquei no real.

Eu orava em silêncio para Deus proteger Emma e minhas intuições estarem erradas.

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