Carta de Hogwarts

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Eu poderia ter feito várias coisas: dito uma frase inspiradora, pedido uma explicação, ter vivido um momento de psicólogo... Contudo, eu só consegui ficar parado, despreparado para colocar meus pensamentos em prática. Até mesmo Niall parecia estar ponderando as palavras que se passavam por sua cabeça, ou talvez estivesse pronto para fazer uma piada. Era difícil saber se Zayn estava falando sério ou se era apenas o efeito da bebida em sua cabeça, apesar de sua voz não estar tão alterada. 

— Eu sei, é algo muito trágico – ele começou a andar em nossa direção como zumbi (no estilo The Walking Dead e não robô). 

— Primeiro: como você entrou aqui? - perguntou Niall num momento super sentimental. 

— Você deixou as portas destrancadas. Assim como nós deixamos nosso coração para ela. Relutamos contra uma nova paixão e quando nos entregamos, quando amamos acolhê-la como uma mãe acolher seu bebê, ela pegou uma faca a fim de cortar nossos braços. Mas nós não percebemos isso imediatamente, não, não percebemos. Quando as fofoqueiras abriram as bocas os cortes começaram a queimar... e não há médico que cure as queimaduras. 

Se quiser uma prosa que sensibilize deixe o Zayn bêbado. 

— Como assim nós? – perguntei.
 
— Eu e meu chifre que cresceu mais por eu ser traído pela segunda vez! 

— Oh. Ok então. 

— Não está nada ok. Estrelas malditas! – disse com a raiva enchendo o ar em sua volta, mas depois começou a choramingar com intervalos para beber. 

— Malditos chifres também, né Zayn? – brincou Niall colocando dos dedos sobre a cabeça como se fossem chifres. Arregalei os olhos para mostrar que aquela não era uma boa hora para brincar; em resposta ele apenas sorriu travesso. 

— Sim – Zayn colocou sua cerveja na mesa e ficou perambulando ao nosso redor — Eles pesam. Eles fazem minha coluna envergar e sufocam meu coração. Eles pesam... 

Aquela era provavelmente uma das situações mais constrangedoras vivenciadas por mim, só perdendo para o leilão de virgindade, onde eu me encontrava de roupas super coladas. 

Ouvi um latido e virei o rosto para saber onde o Bat estava porque até tinha me esquecido dele. O encontrei latindo para uma coruja gorda feita de cerâmica com aproximadamente 50 centímetros. Era marrom com peito branco. 

— Edwiges! – gritou Zayn. 

— Ahn, Zayn, a Edwiges na verdade é branca e não marrom como esta. Para começar ela morreu. 

— Ela ressuscitou! Ela ressuscitou e só ficou marrom por causa da terra do cemitério de corujas dos grandes bruxos que passaram por Hogwarts. 

— Isso não faz... 

— Me dê a minha carta! – ele saiu correndo em direção à escultura para chacoalhá-la, tirando-a levemente do chão. Batcão o apoiava com latidos. 

— Vou pegar vinho para ele – anunciou Niall ao se levantar. 

— O quê? Tá doido? 

— Quem descobre que é corno passa por quatro etapas: 1ª)se embebedar ou se entupir de chocolate e sorvete 2ª) desabafar com pessoas próximas ou quebrando alguma coisa e 3ª) planejar, talvez, uma vingança e 4ª), mas que nem sempre acontece, a aceitação e foco na paisagem à sua frente. Ou seja, vinho. 

Então ele foi para a cozinha. Tudo que me restou para fazer foi ficar encarando um homem e um cachorro insistindo para que uma coruja de cerâmica lhes entregasse a carta para a Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts; isso até Niall chegar com mais uma garrafa e uma taça. 

Last Hope ✨ l.sOù les histoires vivent. Découvrez maintenant