Capítulo 2

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EMMA

Tudo corre bem. Ethan parece satisfeito com tudo, seu pai está animado, é claro, e eu estou calma. Até que Paul menciona o meu nome.

— Haverá apenas uma mudança: a minha atual secretária se aposentará amanhã. Eu fechei contrato com uma nova. Emma será a sua secretária pessoal. — Paul aponta para mim.

Levanto-me abruptamente, em autodefesa.

— Paul, está certo disso? — minha voz quase falha. Não posso ter ouvido direito. — Sou uma ótima diretora de vendas e contribuí com o nosso sucesso. E além dis...

— Eu gosto de escolher minhas próprias secretárias — Ethan me interrompe com um olhar aterrorizante. — Mas o senhor mencionou um contrato absurdo. Nesse caso, devemos honrá-lo em nome da empresa. — Ele nem se dá ao trabalho de olhar para mim. — O que está feito está feito.

Agora o filho da mãe me olha com um sorriso zombeteiro. Acho que ninguém percebeu. Talvez ele nem tenha sorrido, no entanto, sei que está rindo de mim.

Não me aguento de tanta raiva, porém tento agir normalmente.

Dignidade, Emma. Dignidade.

Paul ainda não enlouqueceu, e longe de mim contradizê-lo durante uma reunião com a diretoria.

— Por mim está tudo perfeito, Paul. Tenho a garantia de um contrato e a honra de trabalhar ao lado do presidente da empresa. Tenho certeza de que será uma ótima experiência, afinal de contas ainda estou em situação de aprendizagem. — Cerro os dentes e empino o nariz como se estivesse orgulhosa com essa palhaçada. Jamais vou me mostrar triste ou para baixo em frente a esse arrogante engravatado.

Paul vai ter que me explicar direitinho essa conversa absurda. Isso foi como uma facada em minhas costas.

— Garanto que será a melhor experiência de sua vida — Ethan promete com um olhar assustador.

Feioso.

***


Hoje é sábado. Ainda não tive oportunidade de conversar com Paul, que me deve algumas respostas.

Levantei-me às 7 horas da manhã. Normalmente, aos sábados, eu me levanto às 9 horas e Paul sai 8 horas para se encontrar com os amigos no clube.

— Que ideia foi aquela, Paul? — Cerco-o quando está pronto para sair pela porta.

Quero muito entender a atitude ridícula que ele teve ontem.

— Princesa, o que faz acordada a esta hora? — Eu lhe lanço um olhar de questionamento. — Eu pensei que você fosse gostar, e não aceito de volta. Presente é presente. Não me venha com aquele papo de que quer fazer e ter tudo conforme o seu suor. Sou praticamente o seu pai, e um pai tem direito de presentear sua querida filha. — Ele me dá um beijo na testa e tenta se desviar de mim.

Ah! Mas ele não vai escapar dessa tão fácil.

— Eu não considero o "privilégio" de ser a secretária do Ethan como um presente. Você me rebaixou sem nenhuma explicação e motivo algum.

Será que ele não entende?

— Ah, você está falando disso. — Ele parece incrivelmente surpreso. Exagera muito nas expressões. — Confie em mim, eu sei o que estou fazendo. Você receberá até um aumento. Seu contrato está com o dobro do seu antigo salário. Como pode reclamar disso, querida? Só confie em mim, isso será bom para você.

— Pois saiba que ainda é muito pouco para eu ter que aturar aquele metido a chefão — resmungo entre dentes.

Por mim, eu amaldiçoaria mil maldições, mas quando se trata do Paul, sou sensata ao extremo.

— Confie em mim — ele repete tão serenamente, que evapora toda a minha raiva. Até porque ele não faz nada além de tentar nos aproximar. Inocente ao quadrado.

Vou deixar acontecer, para que depois ele não possa me culpar por não ter dado uma chance. Quando ele vai entender que essa missão está fadada ao fracasso?

— Espera aí. Você pensou que eu estava falando do quê? — mudo de assunto propositalmente quando ele está prestes a se afastar.

Paul merece saber que está tudo bem. Nada apaga tudo que sei que ele pensa que está fazendo: está com a intenção de me aproximar de Ethan. Ele sempre fez isso, sempre conseguia um jeito de nos deixar a sós. Mas nunca deu certo e nunca dará. Contudo, não serei eu quem lhe direi isso. Paul é bom demais e merece ter esperanças. Tenho muita pena dele.

Eu o amo tanto, que não consigo ficar brava com ele, apenas consigo entender os seus motivos. Dessa vez ele exagerou, só que já está feito.

Paul sorri.

— Ainda não viu? Deixei no seu closet, em cima da penteadeira, ao lado do nosso quadrinho. — Seu sorriso fica travesso, e então ele sai em passos rápidos, passando pela porta, deixando-me sozinha com a minha curiosidade atiçada.

Subo para o meu closet, curiosa para saber do que Paul estava falando. Sempre que ele me deixa um recadinho ou qualquer coisa coloca ao lado do nosso quadrinho, no meu closet, que fica ao lado do meu quarto. Desse luxo, eu fui obrigada a desfrutar. Não que Paul tenha tido que me torturar ou algo assim, mas é que por mim um guarda-roupa no meu quarto já estaria muito bom. Entretanto, como não tem ninguém nesta casa para ele mimar, sobra para eu ser a "princesa" dele, e eu gosto muito disso. Sinto-me amada e importante.

Todavia, só aceito presentes no meu aniversário. O presente mais caro que ganhei foi uma pulseira rodeada de pequeninos diamantes. Depois fiz Paul prometer que não me daria nada mais caro que um perfume, pois eu queria conquistar tudo com meu próprio dinheiro. Não é orgulho, é apenas uma meta pessoal, e ele entende e aprova isso com orgulho. Ele diz que eu sou uma Jones e que deveria aceitar o sobrenome dele, no entanto, o asseguro de que uma coisa não tem nada a ver com a outra. Não precisamos ter o mesmo sangue ou sobrenome para sermos família.

Em cima da penteadeira encontro uma caixa do tamanho de uma caixa de sapato. Será que ganhei mais um par de sandálias? Abro-a e encontro várias coisas dentro dela, mas a primeira coisa que me chama a atenção é um envelope, o qual abro, em expectativa. Adoro receber cartinhas dele.

"Princesa, eu sei que você se sente envergonhada com demonstrações de afeto. É igual a sua mãe. Laura também era tímida quando o assunto era se declarar e falar de sentimentos. Por isso escrevi esta carta. Quero te lembrar do meu amor por você, e não quero que pense que porque te rebaixei na empresa, não me importo com você. Muito pelo contrário. É por me importar com você e com o Ethan, que fiz o que fiz. Tenho certeza de que vocês ainda serão amigos. Você desistiu de tentar, mas eu não. Vocês serão como irmãos, e então só assim poderei morrer em paz. Relaxa. Não estou doente nem cansado de viver, muito pelo contrário, me sinto muito bem e estou animado com a minha aposentadoria, com a certeza de que em algumas semanas ou meses as duas pessoas que mais amo neste mundo me darão uma felicidade imensa.

Resumindo, Emma... Nesta caixa tem três coisas que eu queria te dar: esta carta, que está lendo (se estou certo, foi a primeira coisa que você avistou), e tem também dois documentos já em seu nome. Sim, eu fiz o que me pediu para jamais fazer. É um crime eu realizar meu desejo de pai e comprar o melhor carro para a minha filha, quando não estarei por perto para acompanha-la? Eu sei que você detesta sair com o motorista e que foge na primeira oportunidade com o meu carro. Então, se isso for crime, me prenda, porque também comprei a mais desejada mansão da cidade que estava à venda. Consegui comprar aquela casa em frente ao parque central, a que tem um chafariz. Sempre que passávamos em frente a ela, eu notava como você a admirava, provavelmente sonhando em morar lá quando se casasse com o Sérgio.

Eu não viajaria em paz sem antes te entregar esta caixa.
E tenho um pedido a fazer, Emma: faça a sua parte em relação ao Ethan. Nos despediremos à noite.

Te amo demais, minha filha.

Paul."

Sento-me no carpete e me desmancho em prantos com essa dramática demonstração de carinho. Como ele pode ser tão bom? Como eu o amo. Acho que se meu pai de sangue não tivesse abandonado minha mãe grávida, eu não seria tão feliz como sou ao lado de Paul.

Soluços me sufocam. Estou desesperada, mas de um jeito bom, pelo fato de o Paul ser o Paul. Eu o amo demais. É quase inacreditável que ele seja pai do Ethan.

A ARMADILHA DO CEO - De repente, casadaOnde histórias criam vida. Descubra agora