Prólogo

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EMMA

Sete anos antes

Eu já estou pronta há mais de uma hora, pois hoje é um dia importantíssimo: o dia em que o meu querido Paul completa 53 anos de idade. Ele é meu padrasto há nove anos. Na verdade, é meu pai e minha única família já faz oito anos. Laura Branco, minha mãe, morreu em um acidente doméstico um ano depois de se casar com Paul, deixando-me com apenas 8 anos de idade, sem ninguém, a não ser ele. Paul tem Ethan, que é seis anos mais velho que eu. Ele morava com sua mãe desde a separação dos seus pais, dois anos antes de Paul se casar com mamãe e hoje mora sozinho.

Eu sempre tento me aproximar do Ethan nas poucas vezes em que nos vemos, porém ele me ignora, alegando não ter tempo para conversas desnecessárias, e é mal-educado comigo. Mas nunca desisto. Sempre entendi que ver os pais separados não deve ter sido fácil para ele. Contudo, até hoje, em 11 anos, ele não superou. E olha que já está com 23 anos.

Estou usando um vestido azul-escuro com brilhantes. É a cor que mais gosto. Minha mãe me dizia que o azul-escuro me deixava ainda mais linda porque realçava o tom da minha pele, e o fato de ela sempre ter dito isso, fez com que eu gostasse da cor.

Os convidados já estão começando a chegar, é melhor eu descer. Estou descendo a escada do salão principal da casa. A bela decoração trabalhada no branco e no dourado e os eficientes garçons formam uma grande visão. Orgulho-me de ter preparado essa linda festa. Foram muitas decisões e correria, mas, apesar disso, consegui.

Converso com alguns convidados para deixa-los mais confortáveis, e quando olho para a entrada do salão, vejo Ethan. Encho os pulmões de ar e me apresso para recebe-lo.

— Olá. Que bom que veio, Ethan. — Sorrio gentilmente.

— Claro que vim, afinal esta festa é para o meu pai — ele responde, indiferente, pegando uma taça de bebida que um garçom lhe ofereceu.

— Ele está louco para ver você. — Sigo com os olhos para a mão esquerda dele, que está levando a taça até a sua boca em um gesto exagerado e carregado de arrogância.

Tem algo nas mãos dele que chama a atenção dos meus olhos. Sempre teve.

— Emma, pode se encarregar de fazer companhia aos convidados. Não precisa ficar no meu pé. — Ethan se retira com uma cara lavada de quem acabou de dar "bom dia".

"Agradável", como sempre.

— Grosso! — resmungo, com os olhos marejados de decepção.

Mas ainda tenho esperança de que um dia ele se cansará de me odiar e me aceitará como alguém da família. Eu sei que, no fundo, ele é uma pessoa do bem se afogando em mágoas, relutante em me dar a mão para ajudá-lo a emergir.

Ethan se mistura com um pequeno grupo de homens que estão bebendo e tendo uma animada conversa, que se intensificou quando ele chegou. Ele está usando um terno preto de corte fino e está de costas, mas dá para ver o colarinho da sua camisa, que é verde-clara. Ethan é um dos playboys mais cobiçados do planeta, possui quase dois metros de altura, é loiro e dos olhos acinzentados. Com 23 anos de idade já dirige a empresa da mãe, e herdará a fortuna e os bens do pai. Mas, por agora, já tem suas próprias conquistas. Ou seja, ele é um homem de sucesso. E se não fosse pelos bens dos pais, seria por suas próprias façanhas. Ouvi várias vezes o Paul dizer que não se ofende de Ethan dirigir outra empresa que não seja a sua. Na verdade, sempre se orgulha quando comentam do sucesso do filho. "Tal pai, tal filho", dizem.

Ethan foi criado para governar um império, e eu não tenho dúvida de que ele fará isso bem. Ninguém tem dúvida.

Paul, sorridente como sempre, chega até o grupo em que Ethan está, recebe os cumprimentos e o tira de lá para conversarem em outro canto. Eu acho linda essa cena, afinal não é sempre que se vê os dois juntos, e eu sei o quanto o meu padrasto aprecia isso, visto que seu filho raramente o visita. Ouso pensar que seja por minha culpa, e não porque Ethan não se importa com ele.

Logo uma valsa começa a tocar e Paul vem em minha direção com um ar de quem eu sei que vai fazer graça. Ele é um senhor grisalho, rechonchudo, que possui bochechas fofas e coradas.

— Me concede esta dança, linda senhorita? — Faz reverência e beija a minha mão, em um gesto visivelmente brincalhão.

— Será um prazer, adorável cavalheiro. — Estico o pescoço em um ato de elegância, entrando em sua brincadeira e começamos a dançar.

Eu o amo. Queria muito chamá-lo de pai, porém nunca consegui dizer essa palavra. Só que ele sabe que é um pai para mim. Se não fosse por ele, eu nem sei onde estaria.

Depois do jantar, quando os convidados estão entretidos entre si, dançando, jogando e bebendo, saio para o jardim a fim de sentir um pouco da brisa. Em um canto mais escuro, sento-me em um dos bancos brancos que ficam no lindíssimo jardim e fecho os olhos. Estou cansada. Não é fácil para mim, uma garota de 17 anos, bancar a adulta e se comportar de maneira medida e ensaiada por tanto tempo. Queria ver o Paul se orgulhar de mim com motivo, e graças a Deus ele pareceu muito satisfeito com tudo.

"Está tudo perfeito, bela senhorita", ele me disse quando estávamos dançando.

Ouço um ruído por trás das flores que me tira dos meus pensamentos. Firmo os olhos e vejo Ethan sendo puxado pelos braços por uma mulher muito bonita, vestida de uma forma elegantemente atraente. Reconheço-a. É a Emily, a modelo famosa e ex-namorada dele. Será que eles voltaram? Eles foram um belo casal. Ethan deveria valorizá-la.

— Querido, sinto tanto a sua falta. Pensei que fosse ligar para mim. Você deixou um grande vazio no meu coração. — Ela se achega mais a ele e o agarra pelo pescoço.

Mas Ethan se desvencilha facilmente dela com um olhar frio.

— Emily, você sabe muito bem que eu não iria mesmo te ligar. Acabou! — Segura os pulsos dela e os afasta.

— Querido, olhe para mim. Nós formamos um belo casal — ela choraminga, insinuando-se ainda mais, passando as mãos pelo corpo. — É sério que você prefere a sua irmãzinha? — Ela está falando de quem? Ethan não possui nenhuma irmã. — Eu vi como vocês conversavam mais cedo. Ela está caidinha por você. — Ela é louca?! — É sério que prefere aquela magrela? — Eu não sou magrela!

Ethan nunca gosta e não aceita quando alguém diz que somos irmãos. Ele surta quando falam isso.

— Você está louca? — Ethan rosna de uma forma rude e Emily arregala os olhos. — Nem agora, nem nunca! Ela não é minha irmã, e muito menos eu me interesso por ela. Aquela esquisita, puxa-saco. Eu a odeio, assim como odiei a mãe dela. Nunca mais repita isso!

— Querido, calma. — Emily parece assustada.

Ethan a agarra e a beija, possessivamente. Seguro-me no último, com os olhos lacrimejando, para não voar no pescoço desse endiabrado. Sinto meus pulmões se prenderem e um fogo queimar o meu rosto de tanta raiva.

Como Ethan pode ser tão desprezível? Odiar a mim, tudo bem, mas odiar a minha mãe, que nada fez de ruim neste mundo e que já morreu? Agora eu entendo o porquê de ele me maltratar tanto e nunca ter dado uma chance para sermos amigos. Ethan realmente me odeia, eu pude ver nos olhos dele. Homem doido. Eu nunca lhe fiz nada de mal, nem a minha mãe. Que Deus a tenha. Mas, tudo bem. Afinal de contas, não posso dizer que essa é uma grande decepção para mim. Ele sempre foi arrogante demais. Esse imbecil. Se eu pudesse me poupar de todo o tempo que perdi sendo otária com ele, faria isso.

— A partir de hoje, eu te odeio, Ethan Jones. Te odeio demais, e nunca mais serei amigável com você — sussurro ao vento, com apenas a lua de testemunha. — Eu juro que não mais te deixarei me humilhar. Terá resposta.

Isso será o suficiente para eu não quebrar a minha palavra.

E aí me vem todas as lembranças de Ethan me humilhando e eu, idiota, sendo gentil, mesmo ofendida e de coração partido. Isso não mais acontecerá.

A ARMADILHA DO CEO - De repente, casadaOnde histórias criam vida. Descubra agora