III - O dragão e seu menino

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Ano de 1500 segundo o calendário de Valhenda - Floresta ao norte da Cidade de Austerial - Reino de Austerial

Já tiveram aquele pesadelo horrível, onde tudo de ruim aconteceu nele? Sempre que temos esses tipos de pesadelos, acordamos de sobressalto ainda assustados, mas depois nos sentimos bem por saber que tudo não passava de uma simples ilusão. Naquele dia, imaginei que tudo não passava de um simples pesadelo. Mas logo descobri que o pesadelo era bem mais real do que eu imaginava.

Minha cabeça latejava por causa da dor. Abri os olhos, minha vista estava embaçada. Pisquei algumas para minha visão voltar ao normal. A noite já estava despontando, com o sol já sumindo no horizonte. Tentei me apoiar nas mãos para me levantar, mas logo em seguida senti a dor em meu braço direito. Um imenso corte estava nele, e o sangue no braço já estava grudando no braço. Me apoiei no outro braço e me levantei. Olhei, e vi apenas partes do cavalo no chão, mas não vi nada de minha mãe. Aquilo me desesperou.

-Mamãe! MAMÃE! - gritei. Nenhuma resposta veio.

Da onde eu estava, conseguia ver a Cidade de Austerial, com a fumaça cobrindo o céu da cidade. Não via mais dragões, e por incrível que pareça, estava tudo em silêncio. Não vi pessoas correndo, não vi dragões, apenas vi corpos espalhados pela estrada. Não quis sair da floresta. Estava ainda com medo dos dragões.

Me encostei num pé de uma árvore, esperando que de alguma maneira minha mãe fosse aparecer. Era uma árvore alta, com grossas raízes cobrindo o chão a sua volta. Junto com as outras árvores, elas impediam a passagem da luz, deixando apenas pequenos feixes ultrapassarem, criando um ambiente agradável. Depois do que acontecera, aquele ambiente era um insulto a memória dos que morreram.

O tempo começou a passar e ninguém apareceu. Comecei a perceber que provavelmente ninguém iria vir mesmo, o que me deixou mais triste. Lágrimas começaram a descer de meus olhos, e com a leve brisa que fazia ali, gelou um pouco meu rosto. "Seja forte", meu pai sempre dissera, "não importa o que aconteça, seja forte". Era o que eu precisava ser naquele momento. Comecei pensar nas possibilidades do que eu poderia fazer. "Meu tio Olyan em Porto Rico", pensei comigo mesmo, "ele pode me ajudar". Segui em direção a saída da floresta, para seguir pela estrada até a cidade portuária onde meu tio morava.

A floresta era densa, mas eu conhecia aquelas matas. Já havia vindo com meu pai várias vezes aqui para caçar. Segui para a saída, para voltar a Estrada do Ouro. Foi então que quando estava quase saindo da floresta, eu ouvi uma voz.

"Tá indo aonde?" - Perguntou a voz.

Tomei um susto na hora que eu ouvi. Olhei para os lados mas não vi ninguém.

-Quem está aí? - perguntei. Olhei para os lados novamente, mas não vi ninguém. Vi um pedaço de galho grosso solto no chão, peguei e comecei a apontar ele em todas as direções, em sinal de ameaça. Mas seja lá quem falou, tinha menos medo de mim do que um gato tinha de um rato. Eu não era lá muito ameaçador.

"Posso ir com você?" - Perguntou a voz novamente. Percebi que a voz não fazia eco, pois estava sendo faladas em minha mente.

-On...onde você tá? - eu disse com minha voz trêmula, com medo de quem poderia ser.

E então ouvi um barulho em uns arbustos próximos a mim. Meu medo cresceu como não havia crescido antes. Já comecei a imaginar o pior. Os arbustos continuaram a se mexer até que uma criatura saiu de dentro dele.

Era branca, como a mais pura neve. Tinha pequenos chifres na cabeça e pequenos espinhos fazendo uma fileira da cabeça até a ponta da cauda. As pequenas asas estavam coladas ainda ao corpo. A boca tinha pequenas presas em formação. Não tinha mais que 1 metro de comprimento, e não era alta, batendo na altura da minha cintura. Mas o que me impressionou era que tipo de criatura ela era. Porque assim que a vi eu reconheci. Era um filhote de dragão.

As Crônicas de um Dragão Onde histórias criam vida. Descubra agora