XXXIV - O Olho de Armurah

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Ano de 1515 segundo o calendário de Valhenda - Valhenda, a terra dos Elfos - final do mês de Notrain, o décimo primeiro mês

Apesar de todos ali parecerem aliviados em me ver, minha mente não conseguia captar direito o que eu via ao meu redor. Meu corpo doía, e cada junta dele parecia em ponto de explodir. Mas mesmo assim eu não sentia mais os efeitos do veneno no meu corpo. Não sentia mais nada em mim. Por algum milagre, estava vivo. E estava triste por isso.

Tinha acabado de ver minha mãe. E pessoa mais bela e gloriosa que o mundo já viu, e que eu mais desejava rever, tinha saído da minha vida pela segunda vez. E eu sentia um vazio. Um vazio que estava consumindo minha alma.

E então lembrei do que estava acontecendo. Havia perdido minha mãe duas vezes por causa da Orian. Meu pai não pode seguir em frente por causa de Orian. Havia perdido Iliana por causa de Orian. Meerla perdeu o pai por causa de Orian. Ele era a causa de tudo. Ele era a merda na minha vida. Eu iria mata-lo. Ele iria sofrer. Sofrer como nunca.

Há momentos em que precisamos de força para nos levantar e enfrentar os desafios a nossa frente. O desejo de vingança era a minha fonte de força. Minha mente não pensava mais em salvar quem quer que fosse, não pensava mais em salvar a mim mesmo. A única coisa que passava pela minha cabeça era o mais puro desejo de vingança. E isso me deu forças para levantar naquele momento.

-Calma rapaz, calma! - disse Cyrus, me ajudando a levantar, com minha cabeça ainda tonta pela experiência de quase morte.

Fiquei encarando ele por longos minutos.

-O que foi? - ele perguntou depois de um tempo - está tudo bem.

Claro que não estava tudo bem. Depois da conversa com minha mãe, tudo havia mudado. Cyrus era meu irmão mais novo, herdeiro do poder dos cavaleiros de dragões assim como eu. E assim como eu, ele podia falar com Brum. Eu tinha uma família além de meu pai meio morto. E não sabia como contar isso a meu próprio irmão.

-Claro que ele não está bem né! - disse Meerla, tirando Cyrus do meu lado e se ajoelhando. Ela me pegou pela cabeça, e gentilmente colocou-a sobre suas pernas, e então começou a entoar cânticos e magias élficas - "Druir fraoren gelai mert de quarts tutoir! Druir fraoren gelai mert de quarts tutoir!"

Magia élfica era realmente algo incrível. Em pouco tempo eu já me sentia bem melhor, pronto para lutar. Me pus de pé, pronto para ir atrás de Orian.

-Você está bem primo? - perguntou Haganin.

-Essa é a pergunta errada! - disse Zeldruir se adiantando - como, por todos os mares, você sobreviveu a um golpe direto de uma espada envenenada?

Ouvindo a pergunta pude apenas sorrir - acho que alguém lá em cima ainda me quer aqui!

-Pensei que fosse ateu! - Zeldruir perguntou surpreso.

-Eu também!

-Bem - disse meu pai ao meu lado, com a espada em punho - se vocês acabaram de namorar, ainda temos alguns idiotas para matar!

O salão estava cheio de centauros e homens de Elion ainda, mas nenhum sinal de Orian. O som do lado de fora do templo parecia animador, como se nossas forças tivessem vencido a batalha do lado de fora, e estivessem invadindo a cidade. Era a chance que precisávamos para acabar com tudo ali mesmo.

-ESCUTEM TODOS! - Gritei, esperando ser ouvido por todos ali - NOSSOS EXÉRCITOS VENCERAM NOS MUROS, E SE DIRIGEM PARA CA! NÃO HA POSSIBILIDADE DE VITÓRIA PARA VOCÊS, POREM, EU LHES OFEREÇO A VIDA! BAIXEM SUAS ARMAS, SE RENDAM E PARTAM EM PAZ.

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