XVIII - Verdades

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Ano de 1515 segundo o calendário de Valhenda - Reino de Austerial - estrada das almas, em direção a Cidade de Yin - metade do mês de Sentium, o nono mês

Estava fraco. Meus braços doíam cada vez que tentava me apoiar para me levantar. Minhas pernas não me obedeciam. Meu estômago estava revirado. Minha mente ficava repassando as cenas que eu vi de novo, e de novo, e e de novo. O homem estava parado ao meu lado, sentado com as pernas cruzadas.

-Lembro dá primeira vez que passei por isso! - ele disse num tom descontraído - passei 3 dias vomitando direto!

-O...Que...Foi isso? - ouvi a voz de Iliana perguntar.

Olhei para o lado e ela também estava caída, lutando para ficar de pé. Brum estava adormecido ainda.

-Isso foi uma visão - disse o homem casualmente - de mais de 2000 anos atrás!

Senti ele pegar minha cabeça e apoia-la em sua perna. Algo começou a tocar meus lábios e senti um líquido invadindo minha boca, tinha gosto de terra misturado com bosta de cavalo (e sim, eu infelizmente sei o gosto, longa história). Me engasguei com aquela coisa ruim.

-Beba tudo! - disse o homem.

Senti minha cabeça parar de rodar e meu corpo ganhar forças. Não sabia o que era aquela coisa ruim, mas eu estava muito melhor do há 5 minutos atrás. Logo em seguida vi ele dar a bebida a Iliana e depois a Brum, e começaram a se levantar também. O homem havia arranjado algumas toras e fez uma fogueira, além de arrumar outras toras para que pudéssemos sentar.

"Minha cabeça ainda dói!" - Brum olhou para o homem e mostrou os dentes, em sinal de ameaça - "Posso matar ele agora?"

-Ainda não Brum! - eu respondi - ele nos deve respostas!

O homem levantou a cabeça. Como usava um capuz, não conseguia enxergar seu rosto contra a luz do luar, mas sentia algo familiar, uma lembrança nele. Não conseguia explicar essa sensação, mas ela estava presente em mim desde a primeira vez que eu vi ele, há 15 anos atrás.

-Perguntem! - ele disse.

-O que eram aquelas coisas? Que pareciam elfos? - perguntou Iliana, ainda ofegante.

Mesmo não vendo seu rosto, consegui perceber que ele deu um leve sorriso.

-Auri com certeza já ouviu o nome deles, não é? - senti seus olhos em mim naquele momento.

A luz do luar batia diretamente em nós naquele momento, na estrada. A floresta em nossa volta era densa, de modo que não conseguíamos ver dentro dela. Pensei nas palavras de Nasvoq : "Foi em Insengen que vi o meu primeiro Devos". Lembrei das palavras de Cyrus : "Devos não existem". E as palavras de Zeldruir ainda me marcavam : "Tais coisas não existem".

-Devos! - eu disse subitamente.

Iliana e Brum me olharam surpresos.

"O que é um Devos?" - perguntou Brum.

-O que é um Devos? - Iliana perguntou quase ao mesmo tempo que Brum.

-Devos - começou a falar o homem - ou Elfos Negros, como são conhecidos também, são criaturas primordiais do caos.

-Elfos? - perguntei surpreso.

-As lendas élficas dizem que quando Shishin criou o mundo, seu lado arbitrário criou os elfos, nascidos dá luz e dá ordem. Entretanto, ao mesmo tempo, seu lado controlador criou os elfos negros, nascidos do caos e das trevas.

-Porque nunca ouvimos falar deles? - perguntou Iliana.

-Porque os elfos procuram manter isso em segredo profundo!

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