As Crônicas de um Dragão

XXXI - Inimigos e Amigos

Espero que estejam gostando da história, que já está em seus últimos capítulos!!! Aproveitem!!!

***************************

Ano de 1515 segundo o calendário de Valhenda - Valhenda, a terra dos Elfos - final do mês de Notrain, o décimo primeiro mês

-Ola Auri! - a voz dela era diferente, havia traços de luxúria e ódio nela.

-Quem é você? - perguntei, com medo da resposta.

-Você sabe quem eu sou Auri! - ela me respondeu com uma voz mansa, e por um momento pensei que era a Iliana que eu havia conhecido - não me reconhece mais?

Não, eu não a reconhecia. Ela podia ter a aparência de minha amada Iliana, mas ela não era a mulher que eu conheci meses atrás. A mulher que eu conheci era forte, guerreira, humilde, de um coração enorme. Essa na minha frente era apenas uma sombra de Iliana, uma imagem. Um Imacus.

Olhei para Gorlan. A culpa tinha sido dele. Toda a desgraça, todas as merdas da minha vida era culpa dele. O rei de Elion. E seu maldito filho. Foram eles que incitaram os dragões contra Austerial. Foram eles que destruíram Yin. Foram eles que criaram essa guerra e mataram milhares, e escravizaram outros tantos. Foram eles que mataram todos os dragões. Foram eles que mataram Iliana. Mataram Brum. Ele não está morto, eu dizia para mim mesmo, Meerla vai salva-lo. Mas mesmo assim, eles precisavam pagar.

Girei o cabo da minha espada, fazendo com que passasse perto de Iliana, e no mesmo instante ela soltou a faca para não ser atingida pela espada. Arranquei a faca de meu braço, que estava tô ensanguentado, e me levantei, olhando fundo para Gorlan.

-É aqui que você morre garoto! - disse Gorlan sorrindo - se não fosse por seu pai, tenho certeza de que você seria um grande rei! Te darei a morte dos cavaleiros, uma morte honrada em batalha!

Ele desferiu seu golpe, tentando atravessar minha cabeça com sua espada. Desviei, rolando para o lado, e girei a espada para tentar acerta-lo em suas pernas, porém no mesmo momento Iliana deu um chute em meu braço direito, jogando minha espada para longe.

-Desculpe meu amor - disse Iliana em uma voz sarcástica, quase sorrindo - mas você deve morrer hoje!

-O que fizeram com você? - perguntei em súplica, quase inaudível.

-Não fizeram nada comigo! - ela sussurrou em meu ouvido.

Estava com raiva. Com raiva de Gorlan, com raiva de Orian, com raiva dessa guerra maldita. Estava com raiva de mim, por não conseguir fazer nada certo. Estava com raiva de todos, por brigarem e matarem por infantilidade. Estava com raiva de ver meu irmão quase morto ao meu lado. Estava com raiva de ver a Iliana daquele jeito. Estava com raiva.

Lembro que vi apenas uma vez meu pai com raiva. Uma pequena revolta no sul, na pequena cidade de Rubis, fez com que eu me perdesse no meio da mata, sendo encontrado por por revoltosos que queriam me usar como moeda de troca pela independência de Rubis do reino de Austerial. Tinha apenas 8 anos na época. Lembro de estar com medo. Aqueles homens riam e cuspiam e batiam em mim, querendo me deixar com mais medo ainda. Mas sabia que meu pai viria. E ele veio. Apesar dos apelos, não houve conversa. Não houve prisão. Não houve nada. Apenas gritos e mortes. Meu pai chegou na frente montado no cavalo, e lembro que vi seus olhos. Olhos cheios de pavor e raiva. Olhos que tiram de um homem sua noção de certo e errado. Todos ali morreram. Todos foram encontrar seus deuses de acordo com o que fizeram em vida.

Me senti daquele jeito. Olhei para os olhos vermelhos de Gorlan, e sabia que tinha que mata-lo. Estava sem espada, mas olhei para a espada na mão de Iliana, e sabia que tinha uma nova. Ela podia estar diferente, mas ainda era Iliana, e já havia treinado com ela várias vezes para conhecer suas habilidades. Ela tinha tendência sempre para uma luta de espadas puxar para o lado direito do corpo, forçando o inimigo para o seu lado melhor. Usando arco e flecha isso seria bom, mas se alguém percebesse isso nela, seria um problema.