X - A Batalha de Águas Sujas - Parte 2

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Ano de 1515 segundo o calendário de Valhenda - Cidade de Águas Sujas - Reino de Ilhén - Início do mês Augus

Naquela tarde, nuvens cinzas apareceram para tapar o céu azul, e uma imensa quantidade de água começou a cair do céu como uma cachoeira em um enorme precipício. O cheiro de terra molhada se misturava ao fedor mórbido do Pântano, criando um odor insuportável. A medida que chovia, o nível dos lagos do Pântano ia subindo, e seria apenas questão de tempo até todos ali serem tragados pela água apodrecida. Percebi que a cidade já era preparada para tais cheias, estando um pouco mais elevada que o nível dos lagos. Mas naquela tarde, ninguém se importou com a chuva ou os lagos.

O calor da batalha, o suor escorrendo pelos rostos dos homens, as pesadas armaduras, o desejo de sangue e morte, isso molhava e matava mais os homens do que uma chuva ou uma enchente. Os gritos dos homens se correndo para sua morte preencheu o ar, e nenhum outro som era ouvido.

Brum estava ao meu lado, pronto para voar. Iliana já estava com o arco em mãos, mas então fui barrado por uma espada a minha frente, que parou antes que eu pudesse me mover.

-Você fica aqui e espera! - disse Príncipe Mahel, olhando fixamente para o horizonte com os homens correndo para a batalha.

Foi então que olhei e percebi que apenas o primeiro batalhão havia saído para a batalha, em torno de 1000 homens, com escudos e armaduras azuis com o Brasão da Familia Hel, a gaivota sobre o mar. Do outro lado, nem todos os homens também haviam saído para a batalha, e pelo os que estavam correndo, havia menos do lado de lá do que os homens do primeiro batalhão de Ilhén. Se somente números contassem, íamos vencer aquela. Mas dois fatores entraram em jogo naquele momento. O primeiro, foi o terreno a favor do exército de Elion. Quem quer que tenha nos espionado, fez questão que fossemos pegos por entre as árvores, sendo que o exército de Elion estava em um campo aberto, e as árvores, junto com o terreno molhado e escorregadio, se tornaram armas mortais a favor de Elion, a medida que os soldados de Ilhén iam correndo e escorregando pelo o terreno. O segundo fator foi que a maior parte do exército de Elion não havia saído para a batalha, e aquela parte do exército era maior do que todo o exército do nosso lado.

-Precisamos ir ajudar! - eu disse tirando a espada da minha frente e me dirigindo em direção a Brum.

O Príncipe colocou novamente em minha frente, encostando a ponta da espada no meu pescoço, impedindo o meu avanço. Então Iliana apontou uma flecha na direção do Príncipe e em torno de 10 outros soldados apontaram suas flechas na direção de Iliana.

-Tira a espada da frente dele! - disse Iliana apontando a flecha para a cabeça de Mahel.

-Precisam te ensinar boas maneiras, plebéia! Ensinar a falar com a nobreza de maneira apropriada! - respondeu o Príncipe.

-Tenho boas maneiras com Príncipes de verdade, não com ratos medrosos! - respondeu novamente Iliana, ainda com o arco apontado.

-Você vai matar todos aqueles soldados! Com aquele terreno, eles são alvos fáceis! - eu disse, não querendo acreditar que Mahel era tão idiota quanto parecia ser.

O Príncipe baixou a espada, e então deixou escapar um leve sorriso.

-Bem, vamos todos nos acalmar, relaxar! - ele disse guardando a espada na bainha - ninguém aqui é inimigo.

Todos abaixaram o arco e guardaram as flechas, inclusive Iliana, mas percebi ela levando a mão até uma faca escondida dela.

Olhei novamente a frente. Vi as gotas de chuva caírem, regarem o solo diante delas. Vi os soldados escorrendo para morte a medida que o Pântano cobrava seu preço de sangue. Os soldados que permaneceram de pé encontraram seu destino no momento em que chegaram ao campo aberto em frente a cidade. E então a batalha começou.

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