XXV - A Princesa de Valhenda

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Ano de 1515 segundo o calendário de Valhenda - Floresta de Warewood - final do mês de Notrain, o décimo primeiro mês

-O que ele queria? - perguntou meu pai quando retornei.

-Nada importante! - disse, mentindo. "O que você deseja vai acontecer, mesmo que você não espere por isso", dissera o centauro. Não entendi isso, e mesmo que me esforçasse, não conseguia imaginar o que eu mais desejava. Queria salvar meu povo, queria ter uma vida tranquila e feliz, queria Iliana viva. Queria tantas coisas, que não conseguia imaginar o que ele queria dizer com aquilo. "A salvação estava no grande deserto". Meu pai dissera que eu deveria encontrar Amom-Kah, descendente direto de Tuta-Kah. Pelo menos para mim essa parte era óbvia, eu deveria ir para Insengen, o Grande Deserto. Mas porque? E o que eu faria quando chegasse lá? Se meu povo estava aqui, porque eu deveria ir para lá? Muitas perguntas, e nenhuma resposta.

-Se não quiser dizer, tudo bem! - disse meu pai depois de desistir de esperar por uma resposta - Mas lembre-se, não acredite em tudo que um centauro lhe diz, nem sempre o futuro é algo certo! Você faz seu futuro!

-Tanto faz! - disse sem ânimo na voz, para tentar mudar rápido de assunto - estamos longe de Valhenda?

-Bem, vamos descansar! Amanhã até o meio dia vamos estar chegando no Lago dos Deuses, e de lá para Valhenda é rápido. Acredito que até amanhã a noite estaremos lá!

Tentei dormir, mas minha mente queria permanecer acordada, pensando no que o centauro havia me dito. Ele dissera que aquilo era o máximo que os deuses o haviam permitido falar, e o engraçado era que meu pai não acreditava no centauro, mas mesmo assim dizia que os deuses o haviam trazido de volta a vida por uma razão, que ele não sabia qual era. Para mim, que não acreditava em nenhum deus, era estranho ouvir isso deles. E ainda mais, se o que os dois disseram era verdade, qual deus havia enviado eles? Algum dos 4 deuses da fé dos quartos? Ou um dos dez deuses da fé de todos? Ou o deus dos elfos? Tantos deuses, e me vi perguntando, qual deles estava realmente certo? Se havia algum deus, qual deles era o verdadeiro? Se havia um deus, porque o mundo era tão errado? Para um descrente como eu, as respostas para tais perguntas não vinham rápido. Depois de tanto pensar, acabei adormecendo.

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Chegamos ao Lago dos Deuses, uma imensa lagoa, com águas tão cristalinas que era possível ver o fundo dele, e combinando com as cores da Floresta a nossa volta, chegava a criar um arco-íris no lago. Diversos peixes nadavam de um lado para o outro. Alguns animais vinham beber de suas águas, enquanto diversas estátuas de deuses estavam colocadas em volta de todo o lago, sendo que a maioria já estava coberta por musgo e plantas. Conhecia algumas lendas sobre o local, a mais famosa era que um garoto de 10 anos (acho que era 10, não lembro a idade), havia explodido o local e o lago surgiu. Outra dizia que o lago fora um presente dos deuses, e quem bebesse de sua água iria viver para sempre. Na dúvida (e na sede, obvio), resolvi beber a água.

-Não vai dizer que você acredita nas lendas? - disse meu pai empregando seu melhor sarcasmo.

"Que lendas?" - perguntou Brum.

-Dizem que o humano que beber dessas águas viverá para sempre! Apenas uma lenda fútil! - respondeu meu pai.

-Apenas com humanos? - perguntei, pois realmente não sabia aquela parte.

-Para uma pessoa que diz não acreditar em deuses, você acredita muito em superstições!

-Melhor errar por tentar do que não tentar! - respondi.

-O que?! - meu pai perguntou, surpreso, e confesso que nem mesmo eu entendi o que havia dito.

Seguimos viajem para o sul. A tarde estava agradável, sem nuvens no céu, mas mesmo assim com uma leve brisa. Meu pai estava falante naquele momento, conversando com Brum (sim, eu também me impressionei várias vezes com esse fato, mas tudo bem), conversando e contando diversas histórias constrangedoras sobre mim quando eu era criança. Sempre imaginei que esse tipo de coisa devia acontecer com alguma bela moça, com meu pai contando essas histórias, mas parece que para ele um dragão servia do mesmo jeito.

As Crônicas de um Dragão Onde histórias criam vida. Descubra agora