IV - Na taverna em Wartford

745 90 17
                                    

Ano de 1515 segundo o calendário de Valhenda - Cidade de Wartford - Reino de Ilhén

-Você tem que parar de andar desse jeito! - disse eu para Brum entrando na Cidade de Wartford.

Eu vinha montado em Brum. Não era fácil esconder uma criatura do tamanho dele, mas era necessário, pois as pessoas podiam não gostar de dragões depois do que aconteceu há 15 anos atrás na minha antiga terra. Passei anos viajando com Brum, conhecendo terras que nunca imaginei que veria um dia, então não sabia o que esperar ao retornar ao meu reino. Decidi que era melhor previnir.

"Andar como? Tô andando normal!" - disse Brum em minha mente.

-Mas o seu normal é o normal de um Dragão!

"Será que isso acontece pelo simples fato de eu ser um Dragão?" - eu realmente odiava quando ele era irônico. E ele adorava ser irônico.

Brum havia crescido nesses últimos 15 anos. Ele tinha atingido em torno de uns 10 metros de comprimento. Seu grosso couro branco havia adquirido uma tonalidade quase igual a neve. Suas asas se tornaram grandes, de modo que eu podia voar em cima dele. Suas presas se tornaram enormes, suas garras eram afiadas como navalhas. E sim, ele sabia (e adorava) soltar fogo.

Mas naquele dia, voltando para o continente, logo percebi que ele precisaria andar escondido, pois ainda se comentava sobre o ocorrido em Austerial, no dia que ficou conhecido como O Dia Negro. Tinha medo de que alguém tentasse matar Brum, ao reconhece-lo. Fiz o máximo possível para disfarçar ele, mas sinceramente, ia ser um milagre que ninguém percebesse que ele era um Dragão. E esse milagre ia apenas ocorrer se as pessoas fossem burras. Prendi as asas de Brum com um tipo de cinta, e coloquei uma manta sobre ele, e ainda o cobri com diversas bolsas velhas, carregando especiarias e temperos para venda. Estávamos parecendo apenas dois ambulantes, com eu montado o maior cavalo do mundo.

-Se você andasse mais como uma montaria, as pessoas poderiam acreditar!

"Ninguém é tão idiota para acreditar nisso! Apenas você é!" - odiava quando Brum tinha razão.

Seguimos caminhando pelo o Estreito de Ilhén até a cidade de Wartford. Paramos quando chegamos aos muros da cidade.

"Já tinha vindo aqui antes?" - Perguntou Brum.

-Já, há muitos anos atrás, com meu pai e minha mãe!

Eu e Brum ficamos impressionados. Os muros eram enormes, todo decorado com cenas de guerras e de deuses que o ilhenianos acreditavam. Havia tantas cenas, que elas pareciam ganhar vida no muro de mármore. Cenas como o Grande Deus Raon, o deus do universo dos ilhenianos criando o mundo a partir do movimentar de seus dedos. Ou dá Princesa Huriana, a princesa filha de Réus, o deus-mar, que desceu a terra e se tornou a primeira rainha de Ilhén, e desde então o ilhenianos se tornaram os melhores navegadores. Eu achava todo esse papo de religião idiotice, mas tinha que admitir que as imagens nos muros eram maravilhosas.

Os portões eram assustadores, imponentes, feitos de prata com o rosto de antigos reis de Ilhén. De dentro da cidade, um mar de pessoas saiam e entravam com correria. Wartford era conhecido por ser uma cidade portuária de maior comércio de Ilhén, pelo que eu mesmo me lembrava. Por isso a infinidade de pessoas. Eu e Brum seguimos em frente.

-O que deseja aqui? - disse um soldado nos portões. Ele usava uma armadura dourada com o brasão de uma espada sob um campo de trigo, com uma espada longa presa no cinturão. Olhei e vi que havia pelo menos mais outros dois soldados próximos do outro lado da estrada. Olhando mais a dentro da cidade, vi pelo menos mais um dezena até aonde meus olhos podiam ver pelo imenso mar de pessoas dentro da cidade.

As Crônicas de um Dragão Onde histórias criam vida. Descubra agora