XXVI - A Lenda dos Deuses, dos dois Humanos e do Primeiro Dragão

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Ano de 1515 segundo o calendário de Valhenda - Valhenda, a terra dos Elfos - final do mês de Notrain, o décimo primeiro mês

Passaram-se dois dias desde que cheguei a Valhenda, e posso dizer que não foram os melhores dias. Brum obviamente estava se divertindo lutando na arena contra os imensos lobos, ele realmente amava treinos de luta. Não falei com com meu pai desde aquele dia, não queria falar com ele. Meerla se tornou uma grande amiga, ficávamos horas juntos conversando. Mas mesmo assim, não conseguia dar uma resposta ao rei. Gostava de Meerla, mas não queria casar forçado. Além disso aquilo parecia muito errado, apesar de eu simplesmente amar estar ao lado dela, as horas passavam muito mais rápido.

Não posso dizer que não pensava nela, seria impossível falar isso. Mas aquilo me parecia errado, muito errado. Ela era uma das melhores pessoas (ou elfo) que eu já havia conhecido, mas meu coração pertencia a outra pessoa. "Outra pessoa que eu nem mesmo sabia se estava vivo", disse uma voz em minha mente.

Nesses dias passei a ser frequentador da imensa biblioteca da cidade. Ela tinha uma construção simples, mas era imensa. Dentro haviam diversas prateleiras que ficavam em volta das paredes circulares, e haviam tantos livros nessas prateleiras, que eu me peguei pensando se realmente haviam tantas pessoas que sabiam ler e escrever assim no mundo. Entrei nela e logo no balcão encontrei Truir, uma velha senhora elfa com longos cabelos brancos, costas encurvadas e um sorriso convidativo no rosto.

-Novamente você aqui? - perguntou Truir, com sua voz rouca e seu belo sorriso caloroso.

-Fazer o que, adoro aqui! - disse sorrindo de volta.

-Ler é uma das melhores coisas da vida! Você pode conhecer histórias e pessoas de outras épocas, e se identificar com elas!

-Concordo plenamente! - disse me dirigindo a uma das mesas.

Dessa vez não peguei um livro, mas tirei um pequeno pergaminho que recebi naquela manhã. Um pergaminho vindo do norte.

"Para Auri, Rei de Austerial, filho do Grande Rei Aurian, O Negociante.
De Mahel, O Senhor das 3 Guerras e Príncipe de Ilhén.

Fico feliz em saber que você está vivo. Depois do ocorrido em Yin, ninguém acreditava que você pudesse estar vivo, quanto mais estar bem. Porém as notícias que chegaram de Austerial aos meus ouvidos entristecem minha alma. A sua derrota em Yin foi sentida desde Austerial até no norte, e o que fizeram depois com a cidade foi algo imperdoável. Reconheço também que a perda de Yin significou uma perda enorme para todos os que buscam liberdade, desde o norte até no sul. Me surpreendi também ao saber que Dorulen havia se aliado a Gorlan em sua busca por poder.

Aproveito para lhe agradecer por ter destruído o Leviatã, para um povo como o meu, ver tal navio destruído significa muito.

Sinto em lhe informar que seu sumiço e a Queda de Yin fez com que Tar incitasse o povo em uma guerra civil, se aliando aos centauros do norte numa tentativa de tomar o poder, e sinto em dizer que não poderia lhe ajudar no sul, por causa de nossa própria guerra civil.

Soube de seu possível casamento, e sua possível aliança com Valhenda. Isso me alegra muito, considerando que será uma força contra Elion. Sobre o casamento, apenas posso dizer que o que define um bom rei é as decisões difíceis que ele tem que tomar. A diferença entre um bom rei e um pebleu é que um rei faz o que deve ser feito, e não o que deseja fazer. Espero que tome a decisão correta para seu povo.

De seu amigo e aliado, o futuro rei de Ilhén, Mahel."

"Espero que tome a decisão correta". "Um rei faz o que deve ser feito". Será que eu estava certo em não querer me casar? Eu passei quinze anos longe de meu reino, quinze anos longe de meu povo, será que eu estava certo em não aceitar a ajuda dos elfos por causa de um egoísmo meu? Meerla era uma das melhores pessoas que eu já conheci, e mesmo assim era errado. Por um lado eu tinha meu povo, do outro eu tinha o meu coração e o coração de uma bela moça. Será que eu estava certo?

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