A queda dos gigantes abalou a área sul da cidade, aonde estava o aqueduto. Como um pequeno terremoto, a queda deles causou tremores naquela parte da Cidade. Com uma rapidez impressionante, os soldados amarraram com grossas correntes os gigantes, e mesmo eu saber que assim que acordassem, aqueles correntes seriam tão eficientes quanto barbantes, resolvi não comentar.
Sentado em cima de Brum, corri os olhos sobre a multidão procurando por Iliana. Mas não deixei de reparar que a multidão não olhava para os gigantes, mas sim para Brum. E as armas dos soldados estavam apontadas para nós.
"Eles vão nos atacar?" - perguntou Brum - "mesmo depois de salva-los?"
-Bem, espero que não, né! - disse mais para mim mesmo do que para Brum.
Logo os sussurros começaram. "Um dragão", escutei alguém na multidão falar. "Um cavalheiro de dragão", outro disse. "Pensei que estivessem extintos", mais um falou.
-Ele vai nos matar! - gritou uma mulher no meio da multidão.
Os soldados, em torno de 20, vestidos com armadura completa de prata, apontaram as armas para Brum e eu. Não queria um conflito aberto contra pessoas da cidade, mas também não poderia arriscar a minha vida ou a do Brum. Comecei a sentir raiva de mim por ter revelado Brum para o mundo, mas sabia que não podia deixar dois gigantes esmagarem pessoas inocentes. E conhecia Brum suficientemente bem para saber que ele se sentia da mesma forma. Ele não deixaria inocentes morrerem.
-PAREM! - uma voz surgiu no meio da multidão.
Caminhando veio um homem que devia ter em torno de 50 anos, cabelos grisalhos na altura dos ombros e uma barba grisalha cobrindo o pescoço. Vestia uma túnica prateada, com as bordas dela e as mangas douradas, com uma cruz vermelha sobre o peito, o símbolo dá Igreja dos 4 Deuses, a principal religião de Ilhén. Vinha andando devagar, se segurando em um cajado de madeira, com certas gravações nele que não consegui ver. Era um homem velho, mas com o rosto carregado de sabedoria. Todos ao redor começaram a se ajoelhar. Resisti ao impulso de fazer o mesmo.
-Vão mesmo querer matar aquele que nos salvou? - perguntou o velho, que imaginei que seria o Pontífice, ou Papa, como era conhecido também.
Ninguém falou nada. A medida que o Papa ia andando em meio ao povo, todos abriam caminho para ele, que a medida que ia andando, cumprimentava alguns, passava a mão na cabeça de outros, acenava para outros tantos. Ele parou na minha frente, abaixo de mim, admirando Brum.
-Nunca imaginei na vida que iria ver um desses novamente. - disse o Papa, em sua voz rouca. - Prazer, meu nome é Papa Hulian V. - disse estendendo a mão e me convidando para descer.
Eu e Brum aterrissamos e fui direto me ajoelhar, seguindo o exemplo dos outros. Apesar de meus anos na estrada, alguns modos e costumes não podiam ser esquecidos na presença de pessoas importantes, mesmo que eu não partilhasse de sua Fé.
-Não precisa se ajoelhar, meu jovem! - Disse o papa Hulian - levante-se! Levante-se! Eu que deveria me ajoelhar por ter salvo nossa humilde cidade.
Me levantei, e antes que eu pudesse falar algo, um soldado próximo a mim falou.
-Senhor! Deveríamos mata-los! Isso é...
-Eu sei bem o que isso é, Estevão! - disse o papa sorrindo - Tenho mais tempo de vida do que você tem como soldado. Já vi um dragão antes, e sinto-me honrado ao ver um novamente. - disse encostando em Brum, que não se moveu em nenhum momento.
"O que está acontecendo aqui?" - perguntou Brum.
-Queria poder saber! - sussurrei de volta.
-Ninguém irá mata-los, meu jovem! - disse o Papa - vocês hoje são bem vindos em nossa cidade! - ele então se virou para a multidão, e falou tão alto, que não imaginei que ele pudesse fazer isso - HOJE TEREMOS UMA CALOROSA RECEPÇÃO PARA NOSSO SALVADOR E SEU AMIGO, O ÚLTIMO DRAGÃO VIVO!
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As Crônicas de um Dragão
FantasíaApós ver sua família morrer e ver seu reino ser destruído por uma horda de dragões; Auri, o príncipe de 10 anos; vê como que a única opção para sobreviver é sumir no mundo. Mas o que ele não esperava era fazer amizade com um filhote de dragão que se...