Ano de 1515 segundo o Calendário de Valhenda - Caminho para a Cidade de Quelain, pelo Rio Pequeno - Reino de Ilhén
"Como assim estão todos mortos?" - indagou Brum quando saímos de Irilan, e chegamos à margem do Rio Pequeno, rumando em direção a Quelain. Passaríamos pela cidade antes de seguir em direção ao Pântano Maretri, em direção ao sul.
Passei os últimos dois dias imaginando como contar para Brum o que havia descoberto em Wartford, procurando encontrar as melhores palavras que poderia conceber para falar de tal fato. Irilan ficava a 2 dois a pé de Wartford, e durante esses dias, não tive coragem de contar que Brum era o último dragão vivo. Mas querendo ou não, uma hora teria que contar.
-Pelos menos foi o que eu ouvi! Fiquei chocado quando me falaram!
Contei a ele a história toda enquanto andávamos. Contei sobre o estado do meu Reino, sobre o domínio do Reino de Elion e a caçada que fizeram para matar todos os dragões, daqui até as terras longínquas dos anões. Contei tudo o que ouvi sobre o que aconteceu nos 15 anos em que Brum e eu estivemos longe.
"Porque não me contou antes?"
-Porque eu mesmo não tive coragem de ficar relembrando essa história!
Isso era verdade. Relembrar ela era relembrar o que aconteceu há 15 anos atrás, com a morte dos meus pais e dá minha cidade natal. Não era fácil relembrar, assim como não era fácil contar.
Brum ficou em silencioso durante um tempo. O vento percorria por entre as árvores, sendo o único som que ouvimos durante o que se pareceu horas. E então Brum resolveu falar
"Então porque estamos indo para o sul?"
-Porque podemos livrar meu povo, e vingar o seu!
Seguimos em silêncio, cada um com seus próprios pensamentos. A neve caia moderadamente, criando uma camada de branco sobre o nosso caminho a frente. Em Irilan, eu havia comprado grossas peles de animais para cobrir o corpo durante esse inverno, pois já sabia que até passar pelo Pântano, o frio iria ser intenso. Para a sorte de Brum, o fogo interno dele mantinha ele aquecido. Ele não se preocupava com o frio. Já eu, não tenho nem algo perto dessa sorte.
O sol já estava se pondo na estrada, e o caminho até Quelain ainda seria longo, por pelo menos mais um dia. E se tinha algo que eu sabia, era que viajar a noite não era uma boa ideia, mesmo com um dragão ao seu lado. Tínhamos tido sorte de não encontrar nenhum ladrão pelo caminho, e eu não queria que essa sorte acabasse.
-Precisamos encontrar um local para passar a noite Brum! Você podia voar, ver se encontra algo!
"Pode deixar"
Com um pequeno movimento, Brum abriu as enormes asas brancas, que se misturaram ao branco do chão coberto de neve. As asas, que eram maior do que o corpo de Brum, deram uma batida no chão e de repente ele levantou vôo, sumindo no céu. Eu deitei na raiz de uma árvore próxima a estrada, para esperar Brum voltar. Claro, depois de dois dias de viagem, não demorou muito para que eu dormisse. Brum havia levado com ele nossos produtos, como especiarias e temperos para vender, para o caso de alguém tentar me roubar, deixando comigo apenas o meu armamento, como minhas espadas (tinha duas, e Brum não precisava de nenhuma, claro). Dormi profundamente enquanto esperava Brum. Mas meu sono não duraria muito.
-Passa tudo o que você tem aí! - ouvi uma voz de uma mulher falando comigo, no momento em que eu estava acordando, depois de levar um chute na perna para acordar.
Fui abrindo os olhos lentamente, e percebi que já estava escuro. Não sabia quanto tempo tinha dormido, mas percebi que Brum não havia voltado, e meu primeiro pensamento foi me preocupar com ele. Mas então percebi que tinha outras coisas para me preocupar. Uma flecha estava apontada diretamente para minha cabeça.
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As Crônicas de um Dragão
FantastikApós ver sua família morrer e ver seu reino ser destruído por uma horda de dragões; Auri, o príncipe de 10 anos; vê como que a única opção para sobreviver é sumir no mundo. Mas o que ele não esperava era fazer amizade com um filhote de dragão que se...