2009
Não importava quantas vezes Joy Hood dissesse a seu filho mais novo para tomar cuidado quando fosse brincar no bosque nas proximidades de sua casa, o garotinho não parecia entender.
Calum não entendia mesmo. Não estava preocupado com os arranhões em seus joelhos por tropeçar em pedras, ou com os pequenos machucados em seu rosto por acabar trombando em árvores; se preocupava menos ainda com suas perninhas vermelhas marcadas pela coceira que o mato e as picadas de formiga lhe causavam. Ele via tudo aquilo como marcas de batalha. Até mesmo os melhores heróis se machucam, não é?
O garotinho moreno corria por entre as árvores. O sorriso não abandonava seu rosto, tornando suas bochechas ainda maiores. Sentia o mato alto cutucar suas pernas magricelas na medida em que corria. Calum não se importava – queria chegar a casa na árvore o mais rápido possível. Ele já estava ficando cansado de tanto andar! Parou por alguns segundos, apoiando sua mãozinha em algum tronco qualquer, então recuperou o fôlego e pôs-se a correr novamente.
Calum só parou de correr quando finalmente chegou a seu destino: a casa da árvore. Construída por seu pai há quatro anos, quando o garoto tinha apenas cinco, a casinha de madeira não era tão grande a ponto de caber mais de três crianças. Calum não se importava com isso. Aquele era seu lugar especial e de mais ninguém. Preferia brincar sozinho, assim ninguém descobriria seu segredo.
O moreno sentia seu peito subir e descer. Sua respiração estava desregulada pela correria, então esperou que ela se acalmasse antes de começar a subir pela escada que havia posto ali. Seu pai poderia ter construído a casa, mas Calum havia feito todo o resto; pintara de forma desajeitada o interior da casinha de verde e colara alguns de seus melhores desenhos de super-heróis nas paredes de madeira; por fora, pintara com um laranja que havia encontrado certo dia no porão. Sua irmã havia lhe ajudado um pouco, porém ele não gostava de dividir os créditos com Mali-Koa.
A casinha havia sido construída sobre uma árvore que parecia realmente enorme de seu ponto de vista, mas, desde que encontrara uma escada a altura, a escalada já não parecia tão difícil – e não era mesmo. Calum estava acostumado a subir e descer aqueles degraus. Fazia isso todos os dias, às vezes mais de sete vezes por dia. Mesmo assim, até hoje, Calum não sabe o que deu errado. Quando se deu conta, já estava caindo da parte mais alta da escada.
Poderia ter sido uma queda feia. Muitos pensamentos se passaram por sua mente. A voz de sua mãe lhe pedindo para tomar cuidado soou em sua cabeça tarde demais. Ele já havia ouvido falar sobre sua vida inteira passar diante de seus olhos quando você está prestes a morrer, mas ele não conseguia pensar em nada concreto ou com muito sentido naquele momento.
Quando caiu nos braços de alguém, Calum pensou ter sido segurado por um anjo – se ele soubesse, naquela época, o quanto estava certo, talvez tivesse enlouquecido.
Seus olhos estavam fechados fortemente e seu corpo inteiro tremia de medo, mas ele ainda podia sentir que estava em cima de alguém. Calum também podia ouvir essa pessoa resmungar. Ele abriu seus olhos lentamente, demorando alguns segundos para focar na cena.
Calum só tinha nove anos, mas aquele garoto parecia ter, no mínimo, doze. Os cachos castanhos cobriam-lhe o rosto de forma desgrenhada e ele tinha as sobrancelhas franzidas. Seu nariz estava enrugado e ele resmungava algo sobre sua bunda estar doendo. Sua pele era mais clara que a de Calum e suas roupas eram incrivelmente brancas. O desconhecido arregalou os olhos quando o viu – o moreno não conseguia distinguir a cor deles.
Calum gritou, arregalando seus olhos escuros.
O outro garotou tapou os ouvidos.
– Foi você quem caiu em cima de mim, eu é que deveria estar gritando – sua voz era calma, mas ainda assim ele soava como um adulto.
– Quem é você?! – Calum perguntou, tentando manter sua voz firme e concentrando-se nas palavras para que não gaguejasse. – Como me encontrou?!
– Eu não deveria estar aqui – ele murmurou, mais para si mesmo do que para o garotinho assustado a sua frente. – Cara, eu não deveria mesmo estar aqui.
Então o completo estranho apenas deu meia volta e saiu correndo por entre as árvores. Calum estava estático; demorou alguns segundos para que se lembrasse de pôr as pernas para trabalhar e corresse atrás dele. Foi inútil. Por mais que ele seguisse a marca das pegadas do garoto naquele trecho sem mato, nada que ele fizesse poderia lhe revelar o paradeiro do desconhecido. As pegadas simplesmente desapareciam depois de poucos metros.
Calum passou a tarde toda correndo pelo bosque e chamando pelo garoto, em vão. Quando finalmente chegou em casa, olhou para sua mãe com a maior sinceridade que conseguiu encontrar em seu peito e, com um olhar penosamente triste, concluiu:
– Um fantasma bonzinho salvou a minha vida.
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white wings • au!cashton
FanfictionAshton morreu no exato dia em que Calum nasceu. Desde então, tornou-se seu anjo da guarda, destinado a protegê-lo até seu último dia de vida. Como todo bom anjo, Ashton precisava se manter nas sombras, apenas observando seu protegido e garantindo su...