Não é fácil ter consciência da existência de anjos. Apesar de toda aquela gritaria no primeiro momento e da tentativa falha de exterminar Ashton com o velho sabre de luz, acredito que eu esteja lidando muito bem com a situação. Obviamente, o medo de ter meu corpo nú exposto aos olhos curiosos de um anjo safadinho ainda me assola, tal como o fato de que este mesmo anjo-nada-angelical consegue ouvir meus pensamentos quando quiser. Porém, como sou um adolescente maduro, sei que tudo está correndo melhor do que o esperado por Ashton.
Além do mais, certa pergunta vem me perturbando desde que Ashton-Ainda-Sem-Sobrenome desapareceu pela porta da sala de aula de forma perturbadoramente misteriosa e com toda aquela vibe "sou um espírito seguindo calmamente a luz divina..." (eu pude até mesmo ouvir a trilha sonora, algo como uma orquestra de anjos com harpas): para onde caralhos ele vai quando não está me rondando aqui na Terra?
Após uma reflexão profunda durante as aulas de exatas, cheguei à conclusão de que Ashton provavelmente vai para o Céu e me assiste por uma televisão divina (estilo as tecnologias de Black Mirror, mas financiadas por Deus), deste modo, ele pode me salvar quando entro em zona de perigo (imagino que um alarme seja acionado e que a tela pisque em um vermelho sangue). Acho melhor que eu não tente provar minha teoria; não estou muito a fim de atravessar a rua sem olhar para os lados hoje.
Quando o sinal toca e me desperta de pensamentos muitíssimo importantes, junto todo o meu material e soco bem no fundo da mochila preta, jogando-a por minhas costas e saindo correndo da sala na velocidade da luz (a velocidade da luz está um pouco mais lenta esta manhã). Estou doido para saber o que Ashton tem para me contar.
Já tentou correr pelos corredores de um colégio público na hora da saída? Simplesmente não dá! Normalmente, isso aqui é um caos: gritaria, empurra-empurra e gente lerda no meio do caminho; todos rumando em direção às portas de saída. Hoje, quando estou com pressa, tudo parece se multiplicar em pelo menos cinco vezes. Não estou exagerando. Talvez só um pouquinho.
No meio da correria, alguém puxa meu braço bruscamente. O ato dói. Só consigo pensar em "porra, tô com pressa, caralho!" enquanto me viro. Ao ver Nia, minha raiva aumenta, mas não posso xingá-la, então acabo forçando um sorriso que não combina muito com a minha cara de bunda.
—Por que você está me ignorando? — ela pergunta. Sinto certa mágoa em sua voz. Isso faz com que a raiva desapareça junto com a dor.
—Não estou te ignorando — respondo de forma sincera.
Ela então diz que estava me chamando há séculos e que eu simplesmente continuava a andar como um pato apressado no meio da multidão.
—Sabe que sempre esperamos todos irem embora — alega Nia.
Se bem a conheço, logo uma enxurrada de perguntas virá, mas eu não posso simplesmente dizer que meu anjo da guarda tem algo muito importante para me dizer e que eu preciso voltar para casa logo para saber. Ela certamente encararia como uma piada.
Minha vida toda está de repente se transformando em uma grande piada de mau gosto.
—O que está acontecendo com v... — imediatamente a corto. Se ela perguntar, vou acabar dizendo o que realmente está acontecendo comigo, pois não sou muito bom em mentir. Essa nova parte da minha vida é algo que sei que precisa ser mantido às escondidas.
—Vou fazer dupla com Michael Clifford — fecho os olhos, deixando escapar um sorrisinho bobo. Ela precisava saber.
— Sério?! — abro os olhos a tempo de ver os dela esbugalhados, um belo par para sua boca escancarada.
— Luke Hemmings está com a gente, mas eu não me importo nem um pouco em apreciar aquela obra de arte!
Debatemos por um tempo sobre a novidade, tempo o suficiente para que o fluxo do corredor diminua consideravelmente. Mesmo tendo as questões de Ashton em mente, o fato de ter de fazer um trabalho com Michael é outra coisa que também não consigo parar de pensar. Porra, isso é tudo o que eu sempre quis! Finalmente terei a oportunidade de conversar pra valer com ele. Podemos até nos tornar amigos de verdade, não apenas colegas de classe que um dia se beijaram por acaso. Isso é apenas o começo. E que belo começo!
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white wings • au!cashton
FanfictionAshton morreu no exato dia em que Calum nasceu. Desde então, tornou-se seu anjo da guarda, destinado a protegê-lo até seu último dia de vida. Como todo bom anjo, Ashton precisava se manter nas sombras, apenas observando seu protegido e garantindo su...