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Em meu corpo, há um furacão. Em minha mente, em meu coração. Meus pensamentos insistem em me empurrar contra o mesmo loop de palavras. O mesmo rosto, o mesmo sorriso, a mesma risada, o mesmo nome. Calum Hood. É assim que o meu furacão se chama. Por onde passa, traz destruição, catástrofe; mas não o culpo — é a ordem natural das coisas. Ele devasta e devasta e tudo o que deixa para trás são cacos. Eu os recolho. Eu reconstruo. Mas sinto que estou ficando sem cola.

●●●

Calum sempre escolherá Michael.

Inspiro.

Acima de tudo. Acima de todos.

Expiro.

As palavras de Frank são repetidas por minha mente de novo e de novo. Meus pensamentos são uma constante tortura. É como se uma lâmina afiada estivesse abrindo um buraco em meu peito, penetrando-me de modo cada vez mais profundo, expondo aquilo que tenho escondido por tanto tempo.

Voo para longe de tais sentimentos. Literalmente. Estou cansado de observar Calum e Michael se beijando cada vez que há uma brecha. Meus olhos foram revirados tantas vezes durante o dia que estou surpreso por meu globo ocular não estar doendo. Além do mais, estou pensando em começar a andar com um balde — vê-los juntos me causa náuseas e preciso estar preparado.

Mas vamos deixar isto de lado por enquanto. Hoje, farei algo que desejo fazer há muito tempo, mas me faltava coragem. Disso, não posso mais fugir. É por isso que, quando chego à conclusão de que Calum dormirá durante toda a última aula, voo até sua casa e entro pela janela de seu quarto, rapidamente pondo-me a procurar um notebook antigo. Sei que ele está guardado em algum lugar por aqui.

O quarto de Calum é uma verdadeira obra de arte contemporânea. As paredes brancas são cobertas por pôsteres de bandas clássicas ou mesmo atuais. Ao contrário da maioria dos quartos convencionais, o de Calum possui um teto negro; nele, há um inconfundível símbolo gravado: o prisma triangular e o arco íris de seis cores do Pink Floyd (algo curioso para se dormir sob). Além disso, Calum ainda possui uma prateleira repleta de coleções de HQs e bonequinhos em miniatura de seus super-heróis favoritos.

Não leva muito tempo até que eu encontre o notebook. Faço uma busca rápida entre pilhas de roupas fora de moda e gavetas mal organizadas, passando por cuecas ridiculamente estampadas e meias coloridas felpudas, antes de finalmente encontrar o aparelho em uma caixa de papelão embaixo da cama. Sento-me nela (na cama, não na caixa) e preciso soprar o pó que repousa sobre o aparelho antes de abri-lo e ligá-lo.

Surpreendo-me ao ver que ele se conecta à internet automaticamente, então me lembro que, às vezes, Calum o utiliza para pesquisas e trabalhos escolares. Entretanto, o que vou fazer não tem nada a ver com isso.

Abro a página do Google. As letras coloridas, supostamente tão convidativas, me intimidam. Encaro-as por longos segundos. Elas me encaram de volta, questionando-me silenciosamente: vai ficar só parado aí, meu bem?

Tamborilo os dedos no teclado, então solto um suspiro mergulhado em frustração. Não é grande coisa. Só preciso confirmar algumas informações antes de prosseguir com o meu plano (seja lá qual ele for).

Digito algumas palavras na barra de pesquisa e estudo os resultados cautelosamente até me deparar com uma matéria que, aparentemente, condiz muito bem com aquilo que estou procurando: "Acidente na antiga represa de Sydney completa dezessete anos".

Clico no link. A notícia foi publicada em vinte e cinco de janeiro deste ano — não somente no aniversário do nascimento de Calum, mas no aniversário de minha própria morte. Com certa hesitação, começo a ler.

white wings • au!cashtonOnde histórias criam vida. Descubra agora