What about wings?

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Quando acordo, é como se tivesse dado replay em um filme que vi há poucos minutos. Ashton novamente tem suas mãos em minha testa e uma expressão preocupada toma conta de seu lindo rosto; a língua escapa pelo canto de seus lábios, estes que estão tão franzidos quanto sua testa. Ele realmente parece mais como uma mãe medindo a temperatura do filho após uma longa noite de febre do que o meu anjo da guarda.

– Onde estão suas asas? – é a primeira coisa que penso em perguntar.

Ele se afasta de mim, sentando-se mais uma vez sobre suas coxas no chão do meu quarto. Ashton rola os olhos e bufa antes de me encarar.

– De nada – ele diz, então começa a divagar. – Sabe, eu realmente, realmente, poderia deixar você desmaiado nesse chão. Pouparia o meu trabalho de ter de ir até você e te tocar – Ashton mexe bastante as mãos enquanto fala, indicando um lugar e outro, apontando principalmente para mim como um todo. – Você gosta mesmo de desmaiar, né? Foram só umas... – ele fecha apenas um dos olhos e franze o nariz. Uma bela careta de concentração. – Trinta e sete vezes na sua vida toda. Trinta e nove agora – levanto as sobrancelhas numa exclamação silenciosa, o que o faz cruzar os braços. – É, eu contei tudinho.

Não sei como me sentir em relação a ter um anjo da guarda bom em matemática na minha frente. E além de tudo gostoso. E que salvou a minha vida diversas vezes sem que eu nem saiba. Será que todos os anjos se revelam assim? Será que meus pais já viram os anjos deles e eles disseram "bem, façam seus filhos gostarem de Star Wars, pois um dia eles precisarão lutar contra falsos espíritos das trevas usando sabres de luz". Acho que não.

O fato é: Mali-Koa e eu fomos obrigados a gostar de Star Wars. Não gostamos. Acho que é aquele tal lado rebelde dos filhos se manifestando de alguma forma.

Nossos pais se conheceram numa convenção de Star Wars, pois ambos eram tão malucos por isso quanto Nia Lovelis, minha melhor amiga, é maluca por Harry Potter. Então, quando tiveram filhos, eles decidiram que nos fantasiariam com as coisas da saga (literalmente! O Halloween nunca foi muito legal para os irmãos Hood, principalmente quando eu fui obrigado a me vestir de Chewbacca e imitar aqueles sons terríveis) e nos ensinariam tudo sobre esse grande e maravilhoso universo. Foi um desastre. Mali-Koa e eu somos as ovelhas negras desta estranha família.

Não entramos mais nesse assunto desde que meus pais pensaram que eu havia guardado os livros da série comigo na casa da árvore, mas na verdade minha irmã tinha mesmo era colocado fogo em tudo quando eles a proibiram de ter um gato. Não quero nem me lembrar do quanto eles choraram quando descobriram (minha mãe acabou encontrando um livro que não tinha sido completamente queimado e entendeu tudo na hora), pois foi um caos completo. É por culpa de Mali-Koa e a obsessão dos meus pais que não temos um animal de estimação.

Ashton estala os dedos em frente a meu rosto, arrancando-me de meus devaneios. Acho que me perdi em meio aos meus interessantes pensamentos.

– Eu desmaio tanto assim? – pergunto, descolando minimamente o band-aid em meu joelho.

Quer dizer, uau. Trinta e nove vezes! Acho que eu deveria entrar para o livro dos recordes como o menino mais desmaiante do mundo todo. Ou desmaiador. Nunca tinha pensado nisso. Pensei que só tinha desmaiado uma ou duas vezes. Costumo ter certos problemas para controlar as emoções. Na verdade, pensando bem, acho que já desmaiei umas sete vezes na escola mesmo – só este ano. Quando isso acontece, sei que todo mundo ri e me deixa lá até Nia chegar e jogar um copo de água em meu rosto, o que ocorreu quando eu tirei a nota máxima na prova de álgebra após passar a madrugada toda na internet estudando as regras do tabuleiro ouija.

– Você desmaia demais – Ashton responde. – E quem te salva sou eu, não Nia. Ela é só um intermediário meu.

– Ah, ainda não entendo como esse lance de anjo da guarda funciona – dou de ombros.

white wings • au!cashtonOnde histórias criam vida. Descubra agora