R E D T U L I P S

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— Bom — pigarreio, chamando a atenção de todos os presentes. Com todos, quero dizer especificamente: Ashton; meu violão antigo, que está sendo dedilhado por ele mesmo, o anjo sapequinha e o sabre de luz que, estando repousado em meu colo teatralmente, acrescenta certo charme à cena em questão. — Convoquei esta reunião aqui hoje, pois tenho um assunto muito sério que necessita ser discutido com urgência — entrelaço os dedos sobre o sabre de luz e vejo que Ashton está a ponto de soltar uma sonora gargalhada. Não entendo o motivo da graça, por isso mantenho a expressão séria. — Ashton, o que caralhos aconteceu ontem à noite?!

Ashton-Por-Enquanto-Ainda-Sem-Sobrenome está rindo tanto que os pássaros, outrora pousados nos galhos da grande árvore em frente à casa, agora voam desesperados em direção ao céu. Tento permanecer pleno por um, dois, três segundos, até que a contagem regressiva desta bomba relógio chamada "gargalhada" chega ao zero e decide que esta é uma boa hora para explodir.

Ah, acho que devo contextualizar um pouco as coisas antes que você se perca.

Hoje de manhã, acordei ao lado de Michael Clifford. Suas mãos entornavam minha cintura e sua cabeça se encaixava perfeitamente na curva de meu pescoço, de modo que sua respiração quente fazia cócegas em minha bochecha. "Bom dia, Kiwi", ele disse. Pensei que não pudesse me derreter mais, mas descobri que ainda não havia atingido total estado líquido quando, da maneira mais casta já vista, Michael tomou meu rosto em suas mãos e selou nossos lábios.

Acredite em mim quando afirmo que está sendo difícil descrever esta cena sem me emocionar. Não, eu não estou chorando apenas por fazer menção àquela situação tão bela e apaixonante, é claro que não. É claro que eu não estou ainda mais apaixonado por Michael Clifford, por favor, pare de perguntar.

Então, um travesseiro atingiu tão forte os nossos rostos que eu esperava ver a palavra "realidade" bordada nele em belas letras decoradas. Ao olhar para cima, fiquei chocado diante de tal ato descarado: Ashton arremessava travesseiros da parte de cima do beliche, esforçando-se para atirá-los diretamente no rosto de Michael, mas falhando miseravelmente ao me acertar. Eu queria espancá-lo (não literalmente), enquanto o pleníssimo ser humano ao meu lado apenas rolou os olhos e se escondeu sob um cobertor do Pokémon que, de alguma forma, veio parar sobre nós durante a madrugada.

Os eventos seguintes não obtiveram relevância o bastante para serem descritos, porém todos eles foram marcados pela presença constante de uma tensão desconfortável entre mim e Ashton (além dos gestos fofos e castos de Michael para comigo, é claro). Quer dizer, pelo menos do meu ponto de vista, já que eu o encarava a todo o momento de braços cruzados e olhos semicerrados, mas o que recebia em troca não passava de uma careta sincera de confusão e uma mensagem mental que me questionava se eu havia comido algo estragado.

Não, eu não tinha comido nada estragado, apenas havia provado do sabor amargo da traição. Ashton e Luke. Quem diria, não é mesmo?! Pensei que anjos fossem, supostamente, puros. Mas eu definitivamente não estou a fim de pensar nisso. Eu não quero pensar nisso — não quero pensar em Ashton por cima do que quer que seja, ou melhor, quem.

Pois bem, uma reunião teve de ser convocada e não há melhor lugar para uma reunião do que o telhado. Deixe-me explicar: a janela do sótão de minha casa possibilita total travessia para uma pequena (porém grande o bastante para Ashton e eu) parte inclinada do telhado. É bem bonito aqui. É possível ver grande parte do bosque, inclusive a casa na árvore, que é o motivo pelo qual este lugar tão belo e inspirador não pertence a mim, mas sim à Mali-Koa. Minha irmã gosta de observar o céu à noite, as estrelas. Geralmente faz isso quando está para baixo, portanto fico feliz que suas visitas ao telhado tenham se tornado cada vez menos frequentes.

white wings • au!cashtonOnde histórias criam vida. Descubra agora