Great ideas are not that great

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É difícil obter real noção sobre o tempo quando não está se fazendo nada de muito empolgante, como por exemplo, quando você está com a mente tão cheia que passa minutos incalculáveis apenas encarando o teto com uma expressão vazia, o coração apertado e a barriga se revirando em decorrência de tantos pensamentos ruins.

Pois é, eu não sou uma pessoa feliz o tempo todo. Ninguém é.

Estou arrependido. Porém, não sei bem se arrependimento seria o termo correto a ser utilizado. Claro, estou arrependido por ter agido como um boboca virgem ao falar com Michael mais cedo — quando ele estava flertando comigo de um modo descarado —, mas sei que ficar me cobrando por conta do modo que agi não me levará a lugar algum. Levou um tempo até que eu conseguisse constatar isso. Na verdade, foi preciso que Nia me lembrasse, ao me ligar, que Michael Clifford está constantemente flertando com todos e que não é a primeira vez que ele faz isso comigo. O que difere esta das outras vezes é que, hoje, estávamos sozinhos em frente a minha casa vazia e havia todo um clima de tensão no ar.

Arrisco que ele apenas tenha falado aquelas coisas como um modo de quebrar o gelo. Deve ter percebido meu nervosismo. Não acho que ele faça isso por mal. Michael é um tanto ingênuo, apesar de tudo. Acho que flertar se tornou parte de sua natureza.

Retornando ao arrependimento: eu deveria ter respondido Michael à altura. Ou melhor, eu não deveria ter deixado meu nervosismo transparecer em minhas palavras e ações. Da próxima vez que estiver sozinho com ele em um carro, vou tentar me lembrar de não suar tão frio.

Sozinho.

Quase reviro os olhos diante de meus próprios pensamentos.

Eu não estava sozinho. De modo algum. Ashton estava lá, assistindo a cena toda como se tudo não passasse de uma ótima comédia romântica, dessas reprisadas à tarde.

É aí que outro sentimento entra. Um ainda mais forte que o arrependimento. Mágoa. Estou magoado com Ashton, pois o anjo prometeu que iria me ajudar. Ele disse que essa era sua missão. Pensei que ele faria de tudo para não me deixar falhar com Michael, mas me enganei, já que, ao invés disso, tudo o que ele fez foi sentar no banco de trás e comer pipoca enquanto ria da minha timidez e do meu nervosismo diante das palavras e dos olhares de Michael.

— Desculpe — ouço sua voz de repente soar em meu quarto. Ela me tira de meus pensamentos mais profundos; não me deixa complementar a linha de raciocínio.

Sento-me na cama, a cara emburrada. Olho na direção de onde sua voz veio e vejo que ele está sentado em minha poltrona preferida. Está vestido de modo estranho, pois todas as suas roupas são da exata mesma cor do sofá: preto. Camiseta, jaqueta de couro, calças, tênis e até mesmo um chapéu que, estranhamente, acaba combinando com as outras peças.

— Estava lendo meus pensamentos? — a pergunta simplesmente salta de minha boca. É mais forte do que eu. Parece que a única coisa que Ashton faz é isso: ler meus pensamentos.

— Não — ele responde, levantando-se do sofá e vindo na minha direção. Automaticamente recuo quando ele se senta ao meu lado. A cama pesa. Pergunto-me como é possível que somente eu o veja e mais ninguém.

— Então por que está se desculpando? — não olho para ele, mas não preciso o fazer para saber que seu olhar está caído sobre meu rosto. Encaro meus pés, que nervosamente batem no chão de forma sincronizada.

— Você está magoado — ele constata. Sua voz é firme. — É difícil não ler seus pensamentos, Calum. Sempre foi algo normal. Estou tentando não fazer isso, mas algumas coisas são involuntárias. Como por exemplo... — ele para. Hesita. Não parece confortável com o que vai dizer a seguir.

white wings • au!cashtonOnde histórias criam vida. Descubra agora