Help from Heaven

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Admito que o banheiro escolar não seja o melhor lugar para um encontro, mas não acho que haja outras opções quando se está confinado na escola e precisa urgentemente falar com seu anjo da guarda, que por acaso só da às caras quando bem entende. Ashton, tentei tornar a situação a melhor possível, mas você não colabora! É claro que, depois de chamar por ele cinco ou seis vezes (ou talvez quarenta e sete, mas eu certamente não contei) sem obter resposta alguma, eu tive que partir para o lado Malévola da coisa e ameacei cortar as belíssimas e possivelmente já inexistentes asas de anjo que Ashton possui. Pedi para que ele me encontre no banheiro da escola e já estou a caminho – só espero que ele desapareça quando eu precisar fazer xixi, pois ainda não me sinto muito confortável com isso.

Ao entrar no banheiro, a primeira coisa que noto é a confusão de cachos castanhos. Ele está de costas, mas é impossível não reconhecê-lo – Ashton tem uma aura brilhante, ou melhor, radiante; sua graça e bondade são quase palpáveis, ele não precisa de um par de asas, coroa de louros e uma manta branca. Ele simplesmente é angelical e isso vai além do sentido literal da palavra. Deus, por que teve que mandar um ser tão divinamente lindo para me proteger? Anjos são criaturas puras, Calum, lembre-se disso quando precisar se controlar.

— Você vai continuar me contemplando ou vai falar logo? — a voz de Ashton chega até meus ouvidos, desmanchando todos os meus pensamentos sobre como ele é uma criatura fofa que salta por nuvens feitas de algodão doce e escorrega em arco-íris imensos. Eles de repente derretem em minha mente por conta de sua frase irônica e do modo como seus olhos intensos agora me encaram de forma impaciente. — Só porque estou morto não significa que tenho todo o tempo do mundo para você.

Reviro os olhos. Quem vê cara não vê coração, não é? Ou melhor – quem vê cara não vê a língua afiada e o veneno que pode escorrer pela boca de um anjo. Se ele puder se transformar em algo, que seja em uma naja. Seria um belo reflexo de sua personalidade.

— Tecnicamente — rebato — você é meu anjo da guarda: tem todo o tempo do mundo para me proteger.

— O contrato nunca restringiu uns bons tapas no meu protegido — Ashton arqueia as sobrancelhas. Vejo um sorrisinho escapar por entre seus lábios. Está se divertindo às minhas custas, mas não me importo. Estou começando a gostar da relação que estabelecemos sem querer.

Eu rio, sem saber o que responder. Aproveito o meio tempo para lhe dar uma boa olhada, porém meus olhos sempre voltam até seus cachos. Como consegue bagunçar esse maldito cabelo e, mesmo assim, fazê-lo parecer tão arrumado? Merda, talvez seja aquele charme natural do qual todos falam, mas que, para mim, não passa de uma lenda.

Sinto-me culpado por achá-lo tão bonito. Sabe, sou incrivelmente fiel a Michael... Sei o que estão pensando "Mas, Calum, você e Michael não passam de meros coleguinhas felizes!". Crianças, as noites que passo em claro imaginando um mundo alternativo onde Nia é uma pessoa completamente normal e, acima de tudo, Michael e eu somos um lindo casal com dois lindos filhos não contam de nada?

— Então? — Ashton tosse como se para chamar minha atenção. Olho para ele levemente perdido por alguns segundos, então me lembro de que o chamei aqui para confrontá-lo e não para, mais uma vez, sonhar acordado com Michael Clifford. Tenho a leve impressão de que o anjo estava lendo meus pensamentos, mas não digo nada.

— Quero te perguntar uma coisa.

— Se for sobre as minhas asas de novo...

— Por que você está aqui? — o corto antes mesmo que termine a frase.

— Porque você me chamou — ele franze as sobrancelhas, confuso.

— Não aqui — gesticulo ao redor, mostrando o banheiro que nos cerca. Ao que parece, Ashton pode ser tão lerdo quanto eu às vezes. — Digo, aqui. No mundo e tal — vejo a clareza tomar seu rosto à medida que ele assente. — Comentou algo sobre uma missão ou ter que interferir na minha vida, mas nunca me falou o motivo de fato.

white wings • au!cashtonOnde histórias criam vida. Descubra agora