white wings • au!cashton

I'm a legend

Ontem à noite, dormi como um bebê – eu diria "dormi como um anjo", mas agora estou pensando que talvez os anjos não durmam, já que Ashton precisa ficar de olho em mim vinte e quatro horas por dia. Foi partindo deste mesmo pensamento que tomei banho de cueca hoje antes de vir para a escola e vou continuar fazendo isso até o fim da minha vida. Não quero correr riscos, mesmo que ele seja bonito.

Conversei com Ashton e tirei a maior parte de minhas dúvidas (pois o resto eu não consegui compreender as respostas) até Mali-Koa voltar para a casa e ele decidir que, se eu não fosse dormir logo, me atrasaria para a escola e perderia a explicação de uma matéria muito importante em história. Resolvi acatar suas decisões porque ele é um anjo e sabe o que está fazendo. Confie nos seres divinos, esse é meu novo lema.

Após meus pais aparecerem em casa só pela manhã depois de uma noite agitadíssima, minha mãe me trouxe para a escola como todos os dias. Não perguntei por que eles não passaram a noite em casa (eca) e ela não me perguntou nada como "ei, o que fez ontem à noite? Trouxe algum amigo anjo da infância para conhecer o seu quarto esquisito?". Temos uma ótima política recíproca de não perguntar sobre o que aconteceu na noite passada e eu estou muito bem com isso.

Quando chego à escola, os corredores ainda não estão lotados. Essa é a parte boa de chegar cedo. Posso ir até o meu armário tranquilamente e pegar os livros de que preciso sem me preocupar com trombar em alguém que está indo para a direção contrária. Os poucos alunos que encontro pelo caminho me cumprimentam com um aceno de cabeça ou um sorrisinho débil que se deve pelo fato de ser segunda-feira e ninguém está de bom humor na segunda, exceto eu. A maioria das outras pessoas não conheceram anjos na noite de domingo e sim viraram a madrugada vendo pornô ou jogando League Of Legends. Conheço uma pessoa em especial que certamente fez isso.

No corredor do quarto ano, encontro Nia Lovelis. Ela não sorri quando me vê, apenas abre os braços para que eu abrace seu corpo magro. Ela é menor que eu, por isso encaixa sua cabeça ruiva entre meu ombro esquerdo e meu pescoço e me cheira: uma bela aspirada que é repetida todas as manhãs desde que nos conhecemos.

– Adoro como você sempre cheira a rosas pela manhã – ela diz quando se afasta, como sempre.

– É meu sabonete de flores – respondo.

E este é o nosso cumprimento. Melhores amigos comuns se cumprimentam com meros "oi", porém nós, sem dúvida, não somos normais. Nosso cumprimento baseia-se em falar sobre como meu sabonete é bom e sobre o quanto rosas são bonitas, mas enfatizando o fato de que este seria um péssimo presente, já que acabaríamos jogando nossas flores no lixo.

Nia Lovelis é, provavelmente, a melhor amiga do mundo. Eu a amo como uma irmã e é por isso que Mali-Koa a odeia (mais detalhes sobre isso mais tarde). Ela pode ser uma garota bissexual que termina com a namorada todos os dias e fica com o ex-namorado da irmã quando Miranda, a namorada, decide que elas precisam dar um tempo, mas eu a amo do mesmo jeito.

Na verdade, Nia e eu temos uma história complicada, estranha e engraçada que se resume ao fato de que nossa sexualidade fez a nossa popularidade acontecer. Quer dizer, não somos populares no sentido de "Ai, meu Deus, eu quero taaanto ser como Calum Hood! Ele é tããão lindo e está sempre tããão na moda!". Com certeza não. Sem chance. Eu uso as calças da minha irmã quando as minhas desaparecem, então acho que ninguém quer se parecer comigo.

A palavra "popular" é muito subestimada. As pessoas acham que se você for popular você se torna, automaticamente, a Regina George. Ou algum cara babaca de outro filme adolescente americano que não é tão bom quanto Meninas Malvadas. Não pego líderes de torcida (muito gay para isso) ou jogo no time da escola (ocupado demais pra isso), mas eu meio que sou uma lenda. As futuras gerações deste colégio irão saber meu nome pelo simples motivo de: eu plantei a semente da homossexualidade assumida dentro desta escola! Palmas para mim.