Blame, blame and... more blame

1.3K 209 548
                                    

Quando eu vi Luke Hemmings pela primeira vez, pensei estar diante de um anjo. Eu esperava que, a qualquer momento, ele abrisse suas asas brancas e revelasse sua verdadeira forma. Eu poderia facilmente visualizá-lo cruzando o céu à noite, uma visível mancha brilhante sendo confundida com uma estrela cadente. Eu estava, obviamente, enganado.

Luke e eu nos tornamos grandes amigos assim que nos conhecemos e eu pude finalmente observar de perto o que seria, provavelmente, a obra mais perfeita já esculpida por Deus. Eu me sentia apreciando o próprio Davi, de Michelangelo — e, talvez, em termos de perfeição, Luke e o gigante Davi estejam lado a lado. Cada detalhe em Luke Hemmings parece ter sido cuidadosamente pensado com um único propósito: levar todos diretamente ao pecado.

Calum costuma compará-lo a um raio de sol, mas eu não acho que ele esteja certo. Luke é como Sirius, a estrela mais brilhante do céu noturno; seu brilho azul-branco não passa despercebido. Na maçonaria, a Estrela Flamejante é o símbolo da divindade — e eu não duvido que Luke tenha recebido a benção do próprio Deus em pessoa no momento em que nasceu.

Não é somente pela aparência. Luke tem uma personalidade incrível. Ele me proporciona momentos de calmaria e reflexão sem muito se esforçar. Ele me transmite confiança. É exatamente por isso que o envio uma mensagem de texto apressada, informando-o que não estou muito bem e que estou a caminho de sua casa.

Minhas asas já conhecem o caminho e não demora muito até que eu esteja parado em frente à residência dos Hemmings, tocando a campainha repetidas vezes e, certamente, chamando a atenção daquele que me espera.

— Sua mensagem me pegou de surpresa — diz Luke assim que a porta é aberta. Sua face demonstra preocupação. Ele franze as sobrancelhas ao que aperta um de meus ombros em sinal de apoio. — Disse que não estava bem. O que houve?

A surpresa e confusão de Luke são compreensíveis. Tenho o evitado há tantas semanas que já perdi as contas. Para ser sincero, o vi pela última vez aqui mesmo, em sua casa, na festa que me rendeu algumas conclusões um tanto dolorosas: 1) eu não estava apaixonado por Luke, eu só estava mentindo para mim mesmo; 2) Ben Hemmings me olhava como um maluco e, se eu não quisesse estragar o restante de sua sanidade mental, eu deveria me afastar daquela família o mais rápido possível; 3) eu estava disposto a arriscar tudo para me manter ao lado de Calum e eu não sabia se queria mesmo descobrir o real por quê.

Sou convidado para entrar e, pedindo licença, o faço. Subo as escadas e encaminho-me diretamente ao quarto de Luke. Não digo nada, apenas jogo meu corpo sobre a cama e enterro o rosto em um travesseiro fofinho, na esperança de que isto acabe com a minha vontade de chorar. Ouço a porta ser fechada e logo sinto o peso de outra pessoa sobre o colchão. 

As mãos maciam de Luke logo se repousam em minha cabeça. Seus dedos acariciam levemente meus cachos bagunçados, ajeitando-os vagamente. Eu respiro fundo, mordendo os lábios. Levanto o rosto em sua direção e posso ver uma expressão preocupada tomar conta de seu rosto ao que ele vê meus olhos avermelhados. Sento-me na cama.

— Quer conversar sobre isso? — pergunta Luke. Maneio a cabeça levemente, logo a baixando para encarar as palmas das minhas mãos que repousam sobre meu próprio colo. Sua voz soa tão sincera e doce que tenho de pensar duas vezes antes de realizar o ato.

A pergunta de Luke me faz refletir por alguns segundos. Talvez eu não queira conversar, talvez eu apenas precise. O problema é que não consigo. Não consigo admitir a Luke que certas coisas me fazem mal quando, antes de tudo, devo admitir a mim mesmo. Tenho evitado certos sentimentos, certos pensamentos, tenho os enterrado em um lugar que eu julgava ser bem fundo, mas que, na verdade, não passa de uma cova rasa sujeita ao escape.

white wings • au!cashtonOnde histórias criam vida. Descubra agora