Is it Hell or Heaven?

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Eu sou claustrofóbico.

É por esta razão que amo a floresta, a liberdade. Não há nada como correr ao ar livre, sentir o vento lhe fazer cócegas na nuca e arranhar os cotovelos em galhos não vistos. A história de como desenvolvi a claustrofobia envolve também a pessoa que me fez ter certeza de uma informação muito importante em minha vida: minha sexualidade. Logo, esta pessoa é, obviamente, a minha prima Megan da Nova Zelândia.

Megan e eu costumávamos dividir a mesma cama durante as minhas raras visitas à sua casa — meus pais não gostavam muito de cruzar o globo para ver a família — e, durante a noite, nós não dormíamos. Na infância, passávamos a madrugada brincando de super-heróis, mas, quando fui a visitar com doze anos, as coisas definitivamente mudaram de figura. Megan havia acabado de completar quinze e, todas as noites durante um mês, ela me contou sobre suas aventuras na adolescência. Eu podia ser um pré-adolescente que se deslumbrava com qualquer coisa, mas Megan também era... digamos, precoce.

Certo dia, ela me questionou se eu era mesmo gay e eu travei. Apesar de ser notável, ninguém havia me perguntado aquilo diretamente. Com meus pais e Mali-Koa era tudo muito simples; as perguntas eram naturalmente "ei, Calum, algum garoto bonito na nova turma de teatro?" e a resposta apenas saltava de minha boca. Não precisei me "assumir". Disse a Megan que sim, eu era gay e ela apenas deu de ombros, dizendo-me que a família toda vinha comentando sobre isso e que ela iria me apresentar seu melhor amigo.

Conheci Karl no dia seguinte. Dois dias depois, comecei a chamá-lo de Marx, pois se a classe operária tudo produz... Ah, desculpe. Nós nos tornamos grandes amigos, companheiros de aventura. Corríamos por um campo íngreme por horas, procurando pedrinhas diferentes e tentando descobrir uma nova espécie de inseto. Graças a Deus, nunca adotamos um Demogorgon por engano. Um dia, então, encontramos um poço vazio e nos sentamos na beirada dele. Conversamos por alguns minutos sobre a minha vida na floresta e, de repente, em meio ao meu monólogo sobre o meio ambiente, ele me beijou. Foi um primeiro beijo desesperado e cheio de mãos nos lugares errados (não indevidos, apenas errados). Eu não percebi que estava sendo lentamente empurrado sem querer; estava alheio demais ao contexto para notar os perigos de se sentar na beirada da merda de um fucking poço abandonado.

Então, eu caí na merda do fucking poço abandonado.

Para a minha sorte, ele não era tão fundo, então os danos sérios foram apenas mentais, não físicos. Sempre fui uma criança ansiosa e, em meio ao escuro, sozinho, tive um ataque de pânico. A ajuda demorou a chegar. Eu desmaiei. De bônus, fiquei claustrofóbico. Mas não gosto de me lembrar desta história.

Cinco anos depois e eu estou me sentindo sufocado em meio a um quarto enorme, o que é estranho. Digo a mim mesmo que está tudo bem, que posso sair a qualquer momento, afinal, Michael apenas trancou a porta porque precisamos de privacidade. Está tudo bem. Consigo destrancá-la se quiser. Mas não quero, certo? Não quero porque estou esperando por Michael, que está no banheiro. Não quero porque finalmente acontecerá algo que esperei por tanto tempo.

Minhas pernas parecem mais longas que o habitual e estão me incomodando. Não sei se as estico ou as abraço contra meu peito, mas a segunda opção me parece esquisita demais. Não sei se me deito ou se permaneço sentado no meio da cama, as costas escoradas na parede e as pernas atravessadas pendendo no ar. Não sei o que fazer, mas todas as posições me incomodam. Quero sair correndo, mas quero ficar. Por que Michael está demorando tanto? E por que esse quarto parece cada vez menor?

Ele sai do banheiro e vem em minha direção. Solto o ar que não sabia estar prendendo e torço para que minhas mãos não estejam tremendo. Michael caminha até a cama e franze as sobrancelhas, perguntando se está tudo bem.

white wings • au!cashtonOnde histórias criam vida. Descubra agora