7 de Março
"Obrigada por fazeres isto possível. Por manteres o contacto comigo, mesmo sabendo que podes ficar mais de um ano sem me ver. A falar por cartas. Não imaginas o quanto sorri quando recebi a tua carta. Pensar que tu a escreveste, que estiveste com ela na mão.
Como está a correr a fisioterapia? Como estão a Hannah, a Jess e os rapazes? Como estão as tuas notas? Conta-me TUDO! Aqui... Bem, está tudo normal. O meu pai não é o mesmo que antes, sorri todos os dias, bem disposto, sem me falar mal. Não precisa de fazer contas diariamente como fazia antes, quando eu tinha doze ou treze anos e fui passar uma semana com ele. Ele ainda nem vivia nesta casa, vivia numa casa pequena e com poucos móveis. É tudo novo. Não me estou a adaptar bem aqui. Estou aqui tão forçada, parece que nem consigo respirar. Não sei mais o que dizer. Se eu pudesse fugia e ia ter contigo, ficava contigo para sempre, como imaginámos tantas vezes... Lembras-te quando íamos andar de baloiço e o chão estava praticamente em gelo? Eu ia caindo quando caminhava até eles... Estiveste lá para me segurar. (Eu não estou aí para te segurar agora...) E no fim sentámo-nos nos baloiços, sentimos o vento frio bater-nos na cara, imaginámos como seria a nossa vida daqui a uns anos, e imaginámo-nos ali com a nossa filha ou filho... (...)
*Flashback on*
- Harry eu vou cair! - Eu falei escorregando no chão húmido do parque, quase em estado de gelo. Ele ria de mim enquanto me agarrava, mantendo-me segura. Subimos aos baloiços e a paisagem era linda. As árvores estavam brancas, contrastando com o céu azul. Aconchegava o meu cachecol que teimava em cair conforme baloiçava.
- Já imaginaste como vai ser daqui a uns anos... Num dos nossos lugares vai estar sentado o nosso filho, lindo como a mãe e lamechas como o pai. - Ele riu e olhou o chão continuando a sorrir, olhando depois para mim com os seus olhos brilhantes, assemelhando-se aos meus, enquanto eu corava.
*Flashback off*
(...) Esperemos que o nosso futuro venha a ser o mesmo que imaginámos.
Amo-te, meu príncipe... "
Mais algumas lágrimas caíram. Eram poucas. Pequenas. Secas. Estava completamente vazia, não conseguia chorar mais. Ainda não tinha voltado à escola, pelos vistos ia ter aulas específicas de abril a agosto, para tentar não reprovar o ano. O meu pai tinha bastantes cunhas e tinha conseguido arranjar alguém que me desse estas aulas. Não referi isso na carta, sinceramente esqueci-me. É difícil para mim expressar tudo o que sinto por escrito. Só consigo vê-los eu própria, nos pensamentos que passam pela minha cabeça a mil à hora. Não os consigo enumerar, nem explicar. Mas de qualquer das formas é mais fácil para mim explicar as coisas pessoalmente do que por cartas. Chorar ali, em frente a ele. E tê-lo logo para me abraçar. Vai ser difícil ter que me habituar a chorar sozinha de novo, no meu quarto, encostada à parede a olhar para a janela onde vejo o reflexo das minhas lágrimas, onde me lembro de milhares de coisas, onde me refugio que nem um cachorrinho indefeso. A não poder contar-lhe tudo pessoalmente. Então vamos fingir que está tudo bem. Que não sinto falta dele. Que não sinto falta dos seus abraços. Que não preciso dele para me aquecer nas noites frias. Que não preciso das suas mãos quentes e suaves para me limpar as lágrimas. Que não preciso do seu sorriso. Que não preciso do seu riso contagiante. Que não preciso da sua mensagem de bom dia, ou até mesmo de acordar ao seu lado. Que não preciso dele. Que não preciso dos meus amigos. Que vou conseguir uma vida boa aqui. Que vou conseguir ultrapassar tudo isto sozinha. Que não tenho medo que ele encontre alguém melhor que eu, um dia, entre toda esta distância. Que não tenho medo que um dia um de nós desapareça sem deixar rasto. Que não tenha medo que um dia tudo acabe sem nos deixar forma de acabar o que tínhamos começado, de tornar real o que tínhamos imaginado. Que não tenho medo que um dia ele escolha o seu caminho, e eu o meu... E que eles não se voltem a cruzar. Que tudo isto são coisas que realmente sinto. Que sou feliz.
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How to save a life
FanfictionEsta fanfiction foi escrita por mim em 2012. Já está terminada. Há pouco tempo comecei a publicá-la aqui, com algumas melhoras na escrita nos capítulos que publiquei, mas devido a falta de tempo não consegui acabar de a publicar. Esteve na página On...