Capítulo 48

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31 de Dezembro
http://www.youtube.com/watch?v=8wxOVn99FTE
Preparava-me para entrar no carro com o homem da minha vida. O meu vestido branco era bem comprido e rastejava suavemente pelo alcatrão enquanto brilhava com a luz do sol. Era um casamento diferente, em que o vestido ia ser revelado ao cavalheiro antes da cerimónia de casamento. Ups.
- Amo-te, rei. - Eu dizia sorrindo enquanto puxava o vestido para dentro do carro. 
- Amo-te, rainha. - Ele respondeu juntando os nossos lábios após fechar a porta do seu lado do carro. 
Nancy dirigia-se à praia onde se iria realizar o casamento, no carro de Hannah e dos seus familiares, e Louis ia num carro sozinho atrás de nós. Tinham combinado assim, pois Hannah queria ir com Nancy. Felizes, mais que nunca. O dia mais importante das nossas vidas era este. O dia em que nos beijámos pela primeira vez. Se bem que o beijo já foi dia 1 de Janeiro. Não interessa. O que interessava era a intenção. Que nos íamos casar e ser felizes junto de Nancy, numa casa grande, com imensos animais como Nancy tanto nos pedia. Todos os dias ela chegava perto de nós e se sentava no sofá, entre mim e Harry, e feita espertinha pegava no comando da televisão e mudava de canal. Desenhos animados. Que bonito, hum? odos ríamos com os desenhos animados do Mickey ou até mesmo do Phineas e Ferb. Nancy já sabia bastantespalavras em inglês pois ouvia-nos falar a todo o tempo e ia aprendendo. Era inteligente, como ambos. Preguiçosa e bem mimada. Tínhamo-nos mudado para a casa de Harry e de Anne, sendo que esta raramente lá estava. Era quase como o nosso cantinho. Nancy já sabia distinguir a avó, Anne. Elas adoravam-se. E chegou o dia em que tomámos uma grande decisão.
*Flashback on*
- Tenho uma coisa a perguntar-te... - Harry perguntou levantando-se, deixando-me a mim e Nancy a olhar para ele feitas tolas.
- Diz... - Eu disse assustada. Vi-o ajoelhar-se e tirar uma pequena caixa das suas calças de pijama. Extremamente romântico, sem dúvida. Mas original.
- Queres casar comigo? - Ele perguntou sorrindo de lado. Com aquele sorriso que me conquistou. Nancy batia palmas enquanto eu chorava, não sabendo como reagir. - Minha menina, tu por acaso sabes o que quer dizer casar? - Ele perguntou brincando com Nancy.
- Não... - Ela respondeu amuada.
- Quer dizer usar um anel bonito no dedo, como estes. - Ele abriu a caixa. Eram lindos. - E também é só por dizer que estão juntos perante a lei. - Ele ergueu o seu peito gozando. - Porque juntos para sempre, já iríamos estar de qualquer das formas. Ela riu e ele voltou a olhar para mim. - Que me dizes? 
- Sim... Claro que sim! - Eu disse saltando para o seu colo gargalhando que nem uma criancinha. 
*Flashback off*
O carro arrancou e eu lembrava-me de todos os momentos que tinha passado com ele. Todos. Desde o seu primeiro olhar até aquele momento. Cada respiração, cada toque, cada sorriso, cada olhar, cada lágrima, cada sofrimento, cada desespero, cada distância, cada abraço. Comecei a chorar, estragando toda a maquilhagem que Hannah e Jess me tinham colocado com tanto cuidado. Elas iam matar-me. Limpei as lágrimas e suspirei, sorrindo.
- Está tudo bem amor? - Ele perguntou preocupado.
- Claro que sim. É só que... Isto parece digno de um filme. Sei lá. Namorámos dois meses, eu fui embora para Portugal e basicamente continuámos a namorar quatro anos mesmo sem nos falar. Nós nunca chegámos a acabar o namoro. - Eu ri. - E hoje estamos aqui, prestes a casar, com uma filha linda sentada num dos carros lá para trás. Ele sorriu.
- É mesmo. Lembras-te de quando estávamos perto dos baloiços e... - Eu interrompi-o.
- Lembro. Sonhei com isso todos os dias desde o momento em que saí de Inglaterra. Foi isso que me ajudou a continuar a lutar. Foi isso que me deu força, esperança. Foste tu, e ela. - Eu sorria como nunca. Estava realmente feliz. Pensava se a minha mãe me estava a observar naquele momento. Se ela me tinha ajudado todo este tempo e eu nem sabia. Se tinha sido ela a colocar-me de novo junto dele. A dar-me aqueles sonhos, toda aquela força. Perguntava-me se ela não se preocupava com a filha que tinha deixado neste mundo cruel. Perguntava-me se ela já tinha conhecido a sua neta... - CUIDADO! - Eu gritei com todas as minhas forças ao avistar um carro vir contra a nossa direcção. Tarde de mais. O carro revirou por completo. A última coisa de que me lembro foi da voz fraca de Harry dizendo "aguenta forte princesa".
http://www.youtube.com/watch?v=5anLPw0Efmo
Pov Louis on:
Coloquei a música um pouco mais alta enquanto cantava feito tolo. Era o casamento dos meus melhores amigos, tinha que comemorar! As minhas mãos batiam no volante ao ritmo da música. Até que o meu sorriso desapareceu. Os meus olhos viram o carro de Harry captar completamente após embater contra outro. Travei o carro com toda a rapidez com que consegui reagir. Abri a porta do carro e corri até ao carro de Harry. Tudo o que conseguia respirar era fumo. Não conseguia ver quase nada, e pelo pouco que vi estavam ambos inconscientes, assim o esperava. Não podiam ter morrido. Simplesmente não podiam. Desesperei por completo e fui até ao outro lado do carro a chorar que nem um louco. Tentei abrir a porta do carro com todas as forças que me restavam, com toda a raiva. Com o medo que tinha de os perder. Finalmente consegui. Suspirei de alívio e continuei a lutar contra o fumo para conseguir tirá-la de lá. Samanta. Tirei o seu cinto de segurança lutando para que não a magoasse, para que conseguisse tirá-la pelo menos a ela dali rapidamente. Tremia de medo. Estava aterrorizado. Consegui tirá-la de lá em segurança e deitei-a no alcatrão. Todo o seu corpo estava encharcado de sangue. Os seus olhos abriram por momentos, enquanto eu gritava por socorro. Liguei para o 911 e finalmente mais carros começaram a chegar ao local. Estava desesperado. Rezava para não ter perdido os meus melhores amigos, para não ter perdido Harry, que continuava no carro. Uma multidão gerou-se à volta dos dois carros e o carro onde Hannah vinha chegou. Sussurrava "não... não... não..." e rezava para que Nancy não reparasse que o carro era o dos pais. Tarde de mais. A pequena saiu do carro correndo até nós. Ela chorava como se percebesse melhor que ninguém o que se tinha passado ali. Saí de perto de Samanta e abracei-a. Ela soluçava, gritando pelos pais. Isso fazia-me desesperar ainda mais.
Pov Louis off
Pov Samanta
Ouvia os gritos desesperados das pessoas que nos rodeavam, mas especialmente de Nancy. Eu sentia-a perto de mim, gritanto tanto por mim como por Harry. Não tinha forças suficientes para abrir os olhos, simplesmente sussurrei "Nancy...". Algum tempo depois senti-me ser levada para o hospital como já tinha acontecido tantas outras vezes. Não conseguia abrir os olhos. Não conseguia perceber o que se passava à minha volta. Não conseguia perceber se Harry tinha sobrevivido... Eu sabia quem nos tinha feito sofrer este tempo todo. Agora eu sabia. Eu vi-o, sorrindo, até à morte. Ele preferiu morrer e ter como sua última memória o nosso sofrimento, a viver com a nossa felicidade. Agora tudo fazia sentido.
*Flashbacks on*
Andei a passos largos para a frutaria daquela rua. Passava pelos vizinhos que me conheciam, e apenas dizia um "olá", ou um "boa tarde". Entrei na frutaria e vi-o ali. O homem com quem a minha mãe tanto tem falado. Eu não o aceitava. Ele não parecia uma boa pessoa. Ela sempre me tinha dito que eles eram só amigos e que depois do meu pai ela não queria mais nenhum homem. Mas eu não acreditava. Entrei rapidamente, não sem antes cruzar o meu olhar com o dele. Peguei num simples pacote de passas e dirigi-me à fila, onde ele estava. Ele brincava com o fecho da sua carteira, depois de pousar as suas coisas na caixa. Virou-se lentamente para trás fingindo procurar algo, e sem mais nem menos olhou nos meus olhos descaradamente.
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A minha atenção desviou-se destes pensamentos ao passar a estrada. Ouvi os travões de um carro bem perto de mim. Mas o carro não ia parar a tempo. Se tive medo? Muito. A minha reacção foi num movimento rápido afastar-me. Numa questão de segundos consegui puxar o meu corpo para trás, foi isso que me salvou. Vi a expressão confusa do condutor. 
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- Bem... Eu não vi. - Eu preparava-me para ouvir risos de quem me rodeava, pois eu parecia ter estado a alucinar. - Mas eu senti-me observada, perseguida, sei lá.
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- Quem é o 'ela'? - Eu perguntei olhando o espelho em que li "Ela vai sofrer tanto quanto eu sofri!".
- Eu não sei. - Harry disse assustado.
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- O que aconteceu princesa? - Ele perguntou preocupado.
- Amor, eu senti-me perseguida mais uma vez. Da outra vez eu não te contei, e fiz mal. Eu tinha que te contar desta vez. - Eu disse tremendo, olhando pela janela e certificando-me de que ninguém entrava na casa de Harry.
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- A tua mãe cometeu suicídio, princesa. 
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O meu coração parou quando eu ia a atravessar a estrada. Tomei atenção à mesma, mas mesmo assim um carro apareceu subitamente. O mesmo carro que quase me atropelava da outra vez.
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- Sabotaram os travões do carro, e ele ficou sem controle. Pelo que me disseram ele foi contra uma árvore porque não conseguiu parar a tempo. O carro ficou despedaçado, e ele não está bem...
*Flashbacks off*
Tudo fazia sentido agora. Tinha sido ele. O amante da minha mãe.... - Perdi as forças por completo e senti-me quase que sendo levada pelo vento.
Pov Samanta off
http://www.youtube.com/watch?v=cjVQ36NhbMk&feature=endscreen&NR=1
Sem narrador
Todos rezavam pela vida daqueles dois jovens que estavam perto de perder a vida. Uma simples falha no seu ritmo cardíaco e tudo podia acabar. Todos os sonhos, todas as promessas, todo o amor. Tudo. Todos choravam desesperadamente por ambos. Para que as suas vidas se mantessem. Por Nancy. Essa menina tão importante para todos. Essa menina estava ao colo de Louis, abraçada ao peluche que ele tinha dado a Samanta. Ele segurava a menina tremendo, dizendo-lhe para ela ter calma e para dormir um pouco, para sonhar com o cavalo que ela tanto queria como prenda de anos. Dizia-lhe que os pais lho tinham dado, e que ela só precisava de dormir para o ver e poder brincar com ele. Todos se perguntavam se estas duas vidas podiam ser salvas. Horas depois receberam uma notícia horrível. Harry Styles, 23 anos, tinha falecido às 16h23. Choravam descontroladamente, desesperadamente, pedindo o seu melhor amigo de volta e rezando para que a vida de Samanta se mantesse. Louis culpava-se por não ter chamado de imediato o 911. Por não ter tirado Harry primeiro do carro. Samanta talvez aguentasse mais tempo. Mas ele tinha prometido. Prometeu ao seu melhor amigo que a iria proteger sempre primeiro. A sua princesa. A sua noiva. Ele agora podia ve-la do céu, a ela e à sua filha. Podia dar-lhe forças para sobreviver a mais um dos seus obstáculos. Assim como a sua mãe. Ambos estavam lá em cima a dar-lhe forças. Dar-lhe esperança. Para poder tomar conta da sua menina perfeita, de quatro aninhos. Para poder ser feliz, mesmo sem ele ao seu lado. Para poder simplesmente continuar a viver.
- Horas depois -
Pov Louis on
- Ele morreu, não morreu Louis? - Samanta chorava desesperadamente deitada na cama do hospital. - Diz-me a verdade! - Ela gritava.
- Sim... - Eu baixei o olhar soluçando. 
- Não! Ele não pode ter morrido! Não! - Ela gritava e esperneava, gemendo tanto de sofrimento físico como psicológico. - Não ele... - Não queria imaginar o que ela estava a passar agora. Não sabia se ia suportar aquilo. Provavelmente se ela não tivesse Nancy, preferia morrer. Mas ela dava-lhe forças. Sei que o Harry estava lá em cima, olhando por ambas, e agradecendo-me por ter salvo a vida de Samanta, apesar de eu me sentir culpado pela morte dele. Apesar de sentir falta do meu melhor amigo, do meu atrasado, retardado, do meu rapazinho de caracóis... - Louis por favor trá-lo de volta para mim. Por favor... Eu não suporto isto, não... Não consigo viver assim! A Nancy? Onde é que a Nancy está? Eu preciso de ver a minha filha... - Ela continuava a gritar e a soluçar, desesperada.
- Não estás em condições de a ver, desculpa... Nem a vão deixar entrar, só maiores de 10 anos é que te podem vir visitar. - Eu expliquei soluçando ainda. Beijei a sua testa e saí, após a médica me pedir que o fizesse.
Pov Louis off
Sem narrador
Tudo se apagou para ambos. Agora cada um iria cuidar da sua filha em lugares distintos. Samanta em terra, ele no céu. Ele ficaria a olhar por ambas. Fazendo de tudo para que elas não sofressem. Fazendo de tudo para que elas sentissem que ele estava ali para elas, como sempre esteve. E sempre iria estar.
Louis saiu do quarto chorando compulsivamente, juntando-se a todos os outros. Samanta permanecia no quarto também destroçada. Mais que a dor de uma mãe que tivesse perdido um filho, era a dor de uma rapariga que tinha perdido o seu maior amor. E num momento, todos sussurraram entre o choro "How to save a life?".

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