Capítulo 5

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Senti todos a afastarem-se rapidamente. Tão rapidamente quanto as lágrimas escorriam pela minha cara. Se estava com medo? Claro que sim. Eu estava aterrorizada. Com medo que tudo acabasse ali, todos os sonhos, tudo o que eu tinha planeado para o meu futuro. Senti a minha vida apagar-se aos poucos, lentamente mas rapidamente. A imagem que os meus olhos viam foi desaparecendo, não deixando de perceber que alguém corria até mim, a gritar algo que já não tive forças para decifrar.

- Ela acordou! A minha sobrinha acordou! Ela está viva! – Eu ouvi uma voz feminina gritar para um corredor. Era a minha tia. Estava deitada, com algumas dores espalhadas pelo meu corpo todo. Ela festejava enquanto um homem de uma certa idade e com uma grande bata branca foi entrando no meu quarto, dirigindo-se a mim. A minha tia olhou-me com os olhos brilhantes e saiu.
– Então, campeã? Como te sentes?
- Eu sobrevivi? – Perguntei, ainda não acreditando no que estava a acontecer.
- Sobreviveste, pois. És uma lutadora. A profundidade da facada podia ter-te levado à morte, mas tu és forte e sobreviveste. – O médico disse examinando o meu processo. – Samanta Correia, estou certo?
- Sim. – Eu disse ainda com alguma dificuldade em respirar.
- Bem, resumidamente, foste operada de urgência. Terás que vir cá todas as semanas para verificarmos essa cicatriz. Mas antes disso vais ficar aqui connosco durante um tempo, até recuperares, pode ser? – Perguntou. Como se eu tivesse escolha.
- Sim, claro.
- Vou deixar-te um pouco com a tua tia, mas não te esforces a falar, está bem? – Ele perguntou mais uma vez.
- Está bem. – Eu disse enquanto o médico ia a sair. – Só mais uma coisa…
- Diz? – Ele disse rodando sobre os calcanhares na minha direção.
- Sabe quem é que me encontrou?
- Não querida, isso terás que falar com a tua tia e com outros responsáveis. – Ele disse e eu suspirei.
- Meu amor! Minha querida, eu tive tanto medo de te perder! – Pude ouvir a voz rouca e trémula da minha tia, depois de entrar no meu quarto, enquanto se sentava numa cadeira perto de mim.
- Mas não perdeste. Eu sou forte, vês? – Eu disse orgulhosa de mim mesma, provocando um sorriso nela.

--- Um mês depois ---
Dirigi-me a passos largos para o consultório. Esta ia ser a última consulta, depois disto iria poder voltar à minha vida minimamente normal. Ouvia a minha tia a reclamar comigo para eu andar mais devagar pois ainda não estava totalmente recuperada. Se eu me preocupei com isso? Nem um pouco. Talvez tenha aprendido uma grande lição: Eu sobrevivi. Eu sou forte. Eu consigo suportar isto. Rodei o puxador daquela porta branca à qual já me tinha habituado tão bem.  
- Olá minha querida. Como está essa cicatriz? – A médica perguntou, como de habitual.
- Bem. – Respondi com um pequeno sorriso nos lábios.
- Esse sorriso é por te ires ver livre de mim, é? – Ela perguntou enquanto observava a minha cicatriz, provocando-nos o riso. – Vejo que a tens tratado bem. Vais então deixar de colocar o penso e meter apenas a pomada, está bem?
- Sim. – Afirmei com a cabeça.
- Então vamos lá ver o que consegues fazer. Upa, de pé. – Ela disse, fazendo sinal com as mãos.
Depois de cerca de quarenta minutos a fazer exercícios, a Cinthia deu-me então a liberdade de que eu tanto precisava, não deixando de me relembrar “Samanta, nada de esforços muito grandes.”
É, eles conseguiram mexer com a minha vida. Estes últimos tempos têm sido complicados. Senti-me bastante fraca, incapaz. Só queria poder voltar a ser eu. Uma Samanta cheia de vida. Sei que vai ser difícil, mas como todos disseram, eu sou forte. Eu consegui sobreviver, não foi? Então eu vou conseguir voltar a ser eu mesma. Energética, divertida, lutadora e feliz. Prometo.

How to save a lifeOnde histórias criam vida. Descubra agora