Capítulo 30

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http://www.youtube.com/watch?v=q_9sd6kGRuk
- Bem amor, eu tenho que ir andando. - Eu disse espreguiçando-me no sofá.
- Queres que te leve a casa? - Ele perguntou pousando o comando da televisão.
- Não vale a pena, é ao fundo da rua. - Eu sorri. - Até amanhã. - Dei-lhe um beijo e depois de pegar no meu casaco saí. Andei pela rua com um sorriso idiota e cheguei até a rodopiar enquanto caminhava. O meu cabelo voava com o vento, esse que esfriava a minha cara e ao mesmo tempo me fazia sentir leve. Abri a porta de casa e ouvi a minha tia a falar ao telemóvel.
- Não, ela não está em casa... Espera, acho que acabou de chegar. - Ela falava um pouco arrogante. - Samanta?
- Estou aqui! - Eu disse desconfiada. Fui até ela e passou-me o telemóvel. Li no ecrã "Jorge". Sim, era o meu pai. - Sim? Olá pai... - Já não falava com ele há algum tempo. Olhei para a minha tia e os olhos dela estavam preenchidos por lágrimas.
- Filhota! Como estás? - Ele perguntou do outro lado da linha.
- Bem. E tu? - Eu não queria dar pormenores da minha vida a um homem que já não via há meses.
- Também, melhor que nunca. E tu também vais ficar ainda melhor assim que ouvires o que tenho para te dizer. - Eu podia imaginá-lo com um sorriso enorme, o que me deixava feliz. Apesar de estar longe dele, era o meu pai. 
- Conta! - Sorri também. Não percebi o porquê da minha tia estar assim. Seria da emoção? 
- Eu arranjei um emprego e... - Eu não o deixei sequer acabar.
- Boa! Fico feliz.
- ...E tu vens viver comigo para Portugal. - O meu sorriso deu lugar a lágrimas mais rápido do que eu pudesse sequer respirar.
- Vou o quê? - Perguntei assustada.
- Tu vens viver comigo! Provavelmente nas férias da Páscoa, talvez mais cedo... - Ele dizia rápido, estava bastante entusiesmado.
- O quê? Não... Eu não posso ir. - Eu lembrava-me de Harry a cada palavra que ele dizia. Da Jess. Da Hannah. Dos rapazes. Mas não lhe poderia dizer isso.
- Porquê?
- Porque eu estou a meio do ano escolar, e depois eu vou ter que repetir o ano e... 
- Tu vais repetir o ano mas vais ser mais feliz. Isso não é uma boa recompensa? - Ele perguntou.
- Sim. Tens razão... - Menti. A minha tia olhou-me confusa e começou a desesperar. As suas lágrimas aumentaram de ritmo e levou a sua mão direita à cabeça, enquanto o seu braço esquerdo estava encostado à parede. Ela soluçava. Ela sabia que aquilo não era o melhor para mim. Ela tinha mudado de cidade por minha culpa! Eu não a podia deixar assim. Mas o meu pai não ia desistir, e os tribunais assim o tinham declarado. Assim que o meu pai arranjasse um emprego estável, poderia escolher ficar comigo. E eu teria que ir. As lágrimas escorriam pela minha cara, caindo de seguida no chão. Tentava não soluçar para que o meu pai não ouvisse. - Bem, falamos depois então... Tchau... - Eu disse desiludida. Desliguei o telemóvel sem o deixar despedir-se.
- Eu juro que se eu pudesse fazer alguma coisa fazia! - A minha tia veio até a mim e abraçou-me. 
- Eu sei... - Abracei-a chorando com ela.
Subi as escadas com as lágrimas nos olhos e fui até ao meu quarto. Cada degrau que pisava era como cada etapa da minha vida. Lembrei-me de todos os momentos passados ao lado do Harry. Lembrei-me de quando me cruzei com ele no corredor da escola, e ele me disse que era da minha turma. Lembrei-me de todas as noites que passava acordada a falar com ele. Lembrei-me de todas as vezes em que todas as nossas conversas se transformavam em sorrisos. De quando fomos andar de barco e ele me tentou mandar para a água. De todas as vezes que tentámos estudar juntos e não conseguimos. De quando ele me emprestou a sua camisola quando passeámos pelas ruas de Londres em plena madrugada. De quando ele me beijou pela primeira vez. De quando eu falava chorando enquanto ele, com lágrimas nos olhos, passava as suas mãos pelo meu cabelo. De quando ele partilhou o seu cachecol comigo enquanto os nossos pés se enterravam na neve. De todas as gargalhadas ao seu lado. De todas as vezes que os seus lábios quentes contrastavam com os meus lábios gelados. De todas as noites em que ele me aquecia. De todas as vezes em que ele me mandava papeis nas aulas com um simples coração. De quando eu andava às suas cavalitas, competindo contra Louis e Hannah, Zayn e Jess. De todas as vezes que nós ficavamos apenas a explorar o olhar um do outro. De todos os almoços que ele me fazia depois das aulas. De todas as vezes que nos deitámos no sofá apenas a ver filmes, com os quais ele chorava mas não queria admitir. De todas as palhaçadas que ele fazia para me ver sorrir. E quando eu me fosse embora? Como é que eu iria ficar? Como é que eu iria ficar quando voltasse e o visse com a mulher da sua vida, que não iria ser eu? Como é que ele vai ficar quando eu me for embora? Eu não suportava isso. Adormeci com a minha almofada encharcada graças a todas as lágrimas derramadas.

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