Capítulo 10

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- Bom dia filha! Dormiste bem? – Eu ouvi a minha mãe falar com a sua voz calma, suave. A voz de que eu sentia saudades.
- Bom dia mãe. Dormi sim. – Eu disse, dando-lhe um pequeno beijo na testa.
- Então que me dizes de comermos uma peça de fruta e irmos à praia? – Ela perguntou.
- Praia? Tu? Mas tu odeias praia. – Eu disse franzindo a sobrancelha.
- Mas eu quero aproveitar os últimos tempos contigo! – Ela disse e uma lágrima caiu dos meus olhos claros.
- Últimos tempos? Como assim? – Eu perguntei quase a gritar.
- Eu vou… - Ela disse aproximando-se de mim. Vi a sua imagem desaparecer lentamente. Gritei, gritei como se a minha voz fosse tudo o que me restasse. Acordei com a minha tia a abraçar-me e a acalmar-me.
- Tem calma querida! Foi só um pesadelo. Está tudo bem. – Ela disse passando a sua mão na minha testa enquanto o seu outro braço agarrava fortemente as minhas costas.
- A minha mãe… Ela… - Eu falei soluçando. As minhas lágrimas escorriam rapidamente pela minha face. Escondi-a no ombro da minha tia, que continuava a tentar acalmar-me.
- Eu vou fazer-te um chá. Tem calma querida, está tudo bem sim? Volto já. – Ela disse dando-me um beijo na testa e abandonando o quarto. Dobrei minhas pernas e apoiei os meus cotovelos nos joelhos. Escondi a minha cara nos meus braços e chorei. Chorei de saudades. Chorei de medo. Levantei-me lentamente, apoiando-me às paredes do meu quarto pois tinha a minha visão enublada devido às minhas lágrimas. Abri uma gaveta do meu armário, encontrando lá um pequeno envelope. Abri-o com as minhas mãos trémulas, podendo encontrar várias fotografias. Fotografias que a minha mãe guardava desde pequena. Encontrei uma fotografia em que ela ainda era pequenina. Estava dentro de uma piscina insuflável, a brincar. Ainda soluçando olhei atentamente as fotografias que se encontravam por trás desta. Até que a encontrei. Encontrei a fotografia que mais me tinha marcado. Estava eu e a minha mãe, na minha quinta festa de aniversário. Eu tinha a minha boca coberta de chocolate e a minha mãe estava a fazer uma careta para mim, para que eu me risse ainda mais. Uma lágrima caiu sobre a fotografia. Senti a minha tia aproximar-se de mim, pousando a chávena na minha mesa-de-cabeceira. Ela olhava atentamente para a fotografia que eu segurava tremendo. No entanto manteve-se em silêncio. Não disse uma única palavra. Olhei para ela e vi lágrimas formarem-se nos seus olhos. Abraçámo-nos e ficámos ali, a chorar. Sozinhas, indefesas, magoadas, tristes. Após algum tempo na mesma posição olhei para o meu relógio que marcava seis horas e pouco.
- Ainda é um pouco cedo, mas eu vou já tomar banho. Não vou conseguir dormir. – Eu disse, limpando as minhas lágrimas.
- Vai lá. Eu vou preparando o nosso pequeno-almoço, entretanto também tenho que ir trabalhar. Hoje vou mais cedo.
- Como está a correr o teu trabalho lá? – Eu perguntei, limpando ainda as últimas lágrimas que teimavam em cair.
- Está a correr bem. Muito bem até. – Ela disse sorrindo para mim. Eu acenei com a cabeça afirmativamente, talvez querendo transmitir que era aquilo de que nós precisávamos, que algo corresse bem.
- E a tua escola? Estás a gostar de lá estar? – Ela perguntou. – Já tens amigos?
- Sim estou a gostar, e acho que já tenho alguns amigos lá. – Eu disse escolhendo a roupa que ia vestir. Porém fiquei indecisa entre duas camisolas.
- A azul. – A minha tia disse. Olhei para ela afirmativamente, pousando as roupas na minha cama e dirigindo-me à casa-de-banho.
- Até já! – Eu disse, fechando a porta.

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