Extra 20

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Enquanto assistia ao treino de futebol do João, mandei mensagem ao Niall a dizer que precisava de me encontrar com ele para falarmos dos nossos filhos. Ele disse que chegava tarde à cidade mas eu não posso esperar até amanhã para falar com ele ou voltarei atrás com a minha decisão.
Ficou combinado que assim que ele chegasse iria ter a nossa casa e agora aqui estou eu à sua espera. As crianças hoje estavam cansadas por isso foram dormir mais cedo e talvez isso seja bom, fico mais à-vontade para conversas sérias.
Se bem que sempre que eu e o Niall estamos no mesmo espaço o ar fica pesado, eu ainda me sinto nervosa quando estou perto dele. Principalmente quando o amo e não o tenho.
Não o ter é complicado mas por agora é o melhor e talvez desta vez seja definitivo.
Eu já não tenho certezas do que quero, a minha cabeça está prestes a dar um nó!
Ouvi a chave na porta e o meu coração começou a bater fortemente. É ele.
O meu corpo mexeu-se desajeitadamente no sofá de nervosismo mas respirei fundo e tentei acalmar-me. Porquê que é tão complicado estar perto dele?
Passou-me pela cabeça implicar com o facto de ele entrar nesta casa sem tocar à campainha mas desisti. Não estou para discussões e a verdade é que esta casa também é dele e vai continuar a ser.
Ele apareceu na sala vendo o seu corpo como que uma sombra, devido à reduzida iluminação da sala oferecida pela televisão e duas velas aromáticas.
- Oi... – Ele falou baixinho permanecendo em pé junto à porta.
- Olá. – Espero que não se note o meu nervosismo. – Senta-te.
À medida que ele se foi aproximando do sofá vagarosamente, o seu perfume foi preenchendo o espaço parecendo que ele agora me corria pelas veias. Quando ele se sentou na outra ponta do sofá virado para mim observei-o melhor. A sua barba está por fazer e o seu cabelo está todo despenteado mas confesso que mesmo ele estando num estado desleixado, ele está perfeito. Ele é realmente um homem lindo.
- O que se passou? Fiquei preocupado com a tua presa para termos esta conversa. – A sua voz baixa trouxe-me para fora dos meus pensamentos.
- O assunto é sério Niall, mas vamos falar baixo e sem discussões. Os nossos filhos já estão deitados. – Não quero de todo discutir com ele.
- Não vim aqui para discutir, (t.n). Tudo bem, podes começar, sou todo ouvidos.
Os seus olhos estavam focados nos meus e a minha boca começou a ficar seca. As suas mãos estavam em constante luta e por vezes ele levava os seus dedos à boca roendo as unhas. Sinto o seu nervosismo, é o mesmo que o meu.
- A professora do João chamou-me à escola. - Comecei por dizer e a sua sobrancelha elevou-se em modo de confusão. – O João anda diferente, já tivera notado em casa.
- Diferente como? – Ele cortou as minhas palavras.
Eu lacei-lhe um olhar repreensivo e ele elevou as suas mãos no ar.
- Desculpa, continua.
Eu respirei fundo, ajeitando o cobertor sobre as minhas pernas, e percebi que ele me observava. Encarei-o e continuei.
- O João anda a comer pouco, pouco fala, mal quer brincar com o irmão e anda sempre com o seu caderno a desenhar num canto sozinho. Pensei que isso fosse uma fase, sei lá, as vezes as crianças refugiam-se mas ele está assim na escola também. A senhora McVey diz que ele não mostra atenção na aula nem entusiasmo no recreio. Passa os dias a desenhar, isola-se dos amigos e pronto ela percebeu que algo se passava e chamou-se para conversar.
Ele olhava para mim atentamente e eu notara que os seus olhos caiam a cada palavra que saia da minha boca. Eles inundavam-se de tristeza e eu notara que ele se sentia culpado.
- Já conversaste com ele? – A sua voz era baixa e eu assenti com a minha cabeça. – É por minha causa, não é?
- Não, Niall. É por nossa causa. – Eu corrigi.
Ele ficou em silêncio. O seu olhar viajou até a televisão enquanto o seu corpo se sentou um pouco mais na ponta do sofá, pousando os seus braços sobre as suas pernas, inclinando-se para mim.
- Nós já sabíamos que as nossas merdas iriam afetar os miúdos, era inevitável. E para mais ele viu quando o Jack te fez isso à cara.
A sua mão viajou até à sua cara e a ponta dos seus dedos passaram pela ferida quase sarada dos seus lábios. Quase não se notam as marcas que ele tinha naquele dia que apareceu durante o meu banho.
- Eu não queria que nada disto estivesse a acontecer. – Ele tapou a sua cara com ambas as suas mãos.
- Eu sei…
Ele parecia estar sem chão, desesperado. Eu sei que os filhos são a coisa mais importante nesta vida para ele, tal como para mim.
- O que vamos fazer? – Encarou-me. – Temos de arranjar uma solução.
- Ele precisa de nós, juntos. - Comecei por dizer e um sorriso apoderou-se dos seus lábios. – Não fiques com ideias, eu ainda quero o divórcio. - Cortei a sua felicidade.
- Não queres nada. – Ele foi-se aproximando de mim no sofá.
- Sabes que sim, viste que eu assinei os papéis. – Sei que o meu tom era mais de provocação do que de outra coisa.
- Aqueles que eu rasguei? – Ele riu. – E rasgo quantos mais forem precisos, não vamos nos separar.
- O centro da questão aqui são os nossos filhos. – Este assunto iria nos levar a uma discussão e eu prometi a mim mesma que hoje não iria discutir com ele.
Ele assentiu com a cabeça e agora ele estava a centímetros de mim.
- Mas tu sabes que eu não vou desistir de ti. – Ele garantiu.
- Niall! – Falei impaciente.
Não é hora para falar deste assunto.
- Ok, foquemo-nos agora no João. O que achas melhor fazermos?
- Eu acho melhor voltares para casa. – A sua cara já mostrava um certo gozo por isso adiantei-me antes que ele fizesse alguma piadinha. – Vais ficar no quarto de hóspedes e vamos fazer por tudo para nos entendermos enquanto pais, não como casal. Ele precisa de ver que está tudo bem.
O Niall parecia ter ficado sem palavras. Ele olhava-se com uma expressão neutra e dei por mim a questionar-me no que ele estaria a pensar.
- Tu sabes que nada está bem. – A sua voz não passava de um sussurro.
- Eu sei, mas temos de aparentar isso. Pelos nossos filhos. – Pedi-lhe.
E o silêncio voltou a inundar o nosso espaço.
É sufocante isto tudo, tê-lo tão perto e não saber como reagir à sua presença. Eu amo este homem, eu sempre amei mas por mais que eu pense que o amor é o suficiente, ele não é. O amor não move mundos, ele move-nos a nós e sinceramente, eu não tenho forças para pegar nele e dar um passo que seja.
- Eu pensei muito nestes dias lá na quinta. – Ele cortou o silêncio mas eu não o fintei, permaneci a olhar para as minhas mãos agarradas aos meus joelhos dobrados. – Aquele sítio parece mágico, lembro-me de todas as alegrias que lá passei e os fantasmas parecem desaparecer. Eu vim forte. Não sei se é a força dos avos, que agora olham ambos por nós seja em qual for o sitio por onde eles andam, ou se fui eu que acordei quando vi aqueles papeis assinados. Mas eu vim de alma lavada e pronto para te mostrar que eu vos amo e quero levar uma vida com vocês para a frente. Eu sei que me comportei como um idiota e nada justifica o que eu fiz, mas agora eu vou assentar os pés no chão e fazer de nós uma família feliz.
- Para quê insistir? – Interrompi o seu discurso.
- O quê? – Ele olhou-me confuso.
Sentei-me de maneira a ficar totalmente de frente para ele e encarei o seu olhar.
- E se o nosso problema está ai mesmo, em insistir em tentar? - Questionei-o com as dúvidas que permanecem na minha mente.
- Não tem mal em sermos um pouco teimosos. – Foi a sua resposta.
- E se… se… estamos tão acostumados um ao outro que não percebemos que não há nada a salvar e por isso é que nos destruímos?
O seu olhar permanecia em cima de mim e ele agora era confuso.
- O que estás a querer dizer? – Perguntou-me receoso.
- E se isto tudo for medo de estarmos sozinhos? E por esse facto insistimos e destruímo-nos.
- É mesmo isso que tu achas? – A sua atenção estava inteiramente em mim.
- Eu não sei. – Suspirei encarando a Televisão para impedir as lágrimas de caírem.
- Pois mas eu sei que o meu medo não é de ficar sozinho. O meu único medo é de ficar sem ti. – Ele foi direto e parecia certo do que dizia.
- Então porque estamos constantemente apontar as falhas um do outro levando-nos a errar ainda mais? Porque andamos de um lado para o outro com a nossa relação arrastando as duas pessoas que mais amamos? Eles não têm culpa dos nossos erros.
- Eu sei. – O seu corpo descansou sobre o sofá, ele estava exausto.
A nossa vida anda assim, em baixo, levando-nos à exaustão.
- Estamos a perder as nossas cabeças. Temos de parar antes que nos percamos a nós próprios. – Não me consegui conter e uma lágrima escorreu pelo meu rosto.
Os olhos do Niall seguiram essa pequena gota e antes que ela chegasse aos meus lábios, a sua mão viajou até à minha face, e o seu polegar limpou-a.
Os meus olhos chegaram ao seu toque e engoli em seco. A sua pele contra a minha é quente e reconfortante mas esta paz vem sempre com os dias contados.
- Vamos começar por remediar as coisas com os nossos filhos, está bem? Logo vêmos o que fazer com o nosso casamento. – O seu polegar continuava a acariciar o canto do meu lábio e logo depois a sua mão agarrou a minha.
Saí do meu estado de transe e fiquei a olhar para as nossas mãos juntas. Ao início era sempre assim, entrelaçávamos as mãos e estávamos bem. Mas não estamos no início.
Confesso que fiquei admirada com as palavras do Niall, nunca pensei que ele não fosse insistir em voltarmos e até mesmo usar isso para ajudar os nossos filhos. Estou incrivelmente surpreendida.
- Vamos-lhes mostrar acima de tudo que somos amigos. – A sua voz fez-me encarar o seu olhar. – Sei que depois de ter dito aquilo pode nem parece, mas eu respeito-te muito e tenho muito orgulho na pessoa que és. Sei que te deixei na merda e aqui estás tu, aceitar-me nesta casa por causa dos nossos filhos.  És tão forte, e eu tão burro por estar a perder a mulher mais maravilhosa desse mundo.
Eu não sou forte. Deveria transformar os meus pensamentos em palavras mas isso seria baixar a guarda e eu não posso fazer isso.
- Se me estás a tentar conquistar com elogios, digo-te já que eles não me demovem. – Tentei ser dura mas pareceu mais uma provocação.
Ele soltou um riso e nos seus lábios permaneceu um belo sorriso. O seu sorriso fez-me sorrir.
Fodasse estamos a namoriscar? Merda, não podemos namoriscar!
- Vá, tenho sono. – Levantei-me do sofá acabando com aquele ambiente que estávamos a criar. – Se quiseres podes já ficar aqui hoje, eles iriam gostar de acordar e ver-te em casa.
- Está bem, obrigado. – O seu sorriso era matreiro, aposto que ele notou o quão atrapalhada estou.
Odeio aumentar o seu ego! Ele agora vai andar ai todo cheio de certezas de que o quero! Eu quero mas… hum… não pode ser.
- Até manhã, faz como se estivesses em tua casa. – Falei enquanto me dirigia até as escadas.
- Eu estou em minha casa. – Ele riu e eu revirei os olhos não respondendo.
Ele tem razão.
- Até manha então, sonha comigo. – Ouvi a sua voz ecoar no corredor e meio que corri para o quarto, trancando-o.
Eu devo estar louca, completamente barrida, para trancar a porta mas em momentos de lutas são precisas algumas seguranças.
Deitei-me na cama e fiquei a olhar para o teto escuro. Aproximam-se dias complicados, tento olhar mais além mas uma música parece pairar na minha cabeça e com ela dois corpos a dançar.
Estou mesmo a ficar maluca. Maluca e com receio do que pode acontecer.
Olho para o futuro e estremeço.

Novo capitulo meninas ihih
O que acharam do capítulo? E da conversa deles? O que acharam da maneira como eles resolveram agir? O que acham que pode acontecer??
VOTEM E COMENTEM LINDAS, É BASTANTE IMPORTANTE PARA MIM!!
Beijinhos gosto muito de todas voces, muito obrigada por tudo!! 😘❤❤

Irresistible 3   (Acabada)Onde histórias criam vida. Descubra agora