Estou a olhar para as gretas abertas da persiana meio fechada e consigo ver o sol a tentar entrar pelo meu quarto.
Já passa das dez da manhã e estive este tempo todo a fazer tempo para não ver o Niall. Nos últimos dois dias tem sido assim.
Ainda não consegui arranjar maneira de lidar com o que aconteceu há duas noites. Não foi só a rejeição, foi a desilusão.
Talvez fugir não seja a melhor maneira de lidar com esta situação mas é a única que consigo pôr em prática.
Levantei-me e ajeitei os meus calções do pijama. Caminhei até ao espelho e a única coisa que ele refletiu foram sonhos quebrados.
Tenho de me deixar deste melancolismo, apertei o meu cabelo bagunçado e desci até ao andar debaixo. Preciso de comer algo, o meu estômago dói.
Quando cheguei à cozinha, o que os meus olhos viram fizeram-me dar um passo atrás. Pensei estar sozinha e aqui está ele.
Respirei fundo e entrei como se não fosse nada. Vivemos na mesma casa, isto pode acontecer a qualquer momento e parece karma, quanto mais o evito, mais ele se torna presente.
- Bom dia. - Ouvi a sua voz baixa.
O meu corpo estremeceu à sua voz, eu sabia que os olhos dele estavam postos em mim mas não me permiti olhar para aquele loiro de olhos azuis que me destrói a cada dia que passa.
- Bom dia. - Respondi rapidamente sem mostrar qualquer emoção.
- Já fui levar os miúdos à escola. - Ele continuou a falar.
- Tudo bem. - Fui breve enquanto colocava a cápsula na máquina de café.
- Eles pediram para te dar muitos beijinhos. - A sua voz continuava baixa mas cautelosa.
- Já foram entregues. Logo vou busca-los. - O cheiro a café já se sentia, peguei na caneca e levei-a aos meus lábios, está quente! - Porra!
- Tem cuidado, queimaste-te? - Ele levantou-se e eu encarei-o por uns segundos.
O seu rosto parecia desolado e o seu olhar inquieto. Não preciso da sua preocupação.
Virei-lhe costas, sem sequer lhe responder. Não estou para conversas.
- Hum... Eu vou sair. - Ele voltou a falar enquanto eu caminhava para a porta da cozinha com a minha caneca na mão.
- Não me importa o que fazes da tua vida. - Lembrei-me de quando ele disse que era a vida dele e que eu não tinha de saber de tudo e tentei ser o mais dura possível.
Foi o que ele escolheu.
Depois de acabar o meu café fui tomar um banho.
Combinei passar a tarde com o Jack, aliás foi mais ele que insistiu. Ontem ele ligou-me e foi estranho, muito estranho. Ele disse que tinha algo para me mostrar e pediu para não combinar nada para hoje porque iria passar a tarde com ele, mas quando lhe perguntei o que se passava ele fechou-se em copas e disse que falávamos hoje.
Não estou com cabeça para estes jogos mas confesso que tenho curiosidade.
Ouvi a buzina do carro do Jack e vesti o meu casaco saindo rapidamente de casa.
- Então que tanto me queres mostrar? - Perguntei-lhe assim que entrei no seu carro e beijei o seu rosto.
- Olá também para ti! Eu estou bem e tu? - Ele ironizou rindo.
Eu respirei fundo revirando os olhos.
- Calma, já vais ver. - Ele voltou a falar confortando a minha mão.
- Tudo bem. - Eu encarei-o fazendo um pequeno sorriso - Só não tenho andado uma boa companhia.
- Chateaste-te novamente com o Niall?
- Não quero falar nisso. - O meu olhar viajou até a janela do carro.
Se é para estar com o Jack, ao menos não vou falar do que me tem deixado em baixo.
- Tudo bem. Qualquer das maneiras, o que eu tenho para ti vai-te animar. - Ele continha um sorriso nos lábios e eu rezava para que ele estivesse certo.
Preciso de algo que me faça esquecer o que tem ocupado a minha cabeça nestes últimos dois dias.
Mas talvez o que ele tenha em mente não seja algo que eu precise. Cheguei a essa conclusão quando vi onde paramos.
Ele estava a estacionar o carro em frente à galeria, ou melhor, o que em tempo foi a nossa galeria. Como ele pode pensar que vir aqui me faria bem?
- O que estamos aqui a fazer? Vamos embora. - Pedi, com os meus braços cruzados.
- Não. Vamos entrar, (t.n).
- Eu não quero entrar ali! - Encarei-o chateada.
- Eu preciso que vejas algo que está lá dentro... Depois podemos ir embora se quiseres, mas primeiro dá-me só esta oportunidade. - A sua voz era calma e o seu olhar parecia perfurar o meu de ternura.
- Jack... - Murmurei o seu nome, desviando o meu olhar do dele.
Ele não pode fazer estes jogos psicológicos comigo!
As suas mãos viajaram até à minha face e ele fez-me encara-lo novamente.
- Confias em mim? - Ele perguntou quando os meus olhos voltaram a encontrar os dele.
Ele sabe a resposta a isso. Ele é das pessoas em quem mais confio em todo o mundo!
Eu assenti com a minha cabeça e ele sorriu.
- Então vamos entrar. Prometo que depois de veres o que te quero mostrar, se quiseres vir embora, vamos embora. - Ele insistiu.
- Está bem. - Eu suspirei.
Ele soltou um riso mostrando-se entusiasmado e ambos saímos do carro.
É estranho estar aqui depois de tudo. Entrar por aquela porta de vidro fazia parte da minha rotina e agora faz só parte das minhas lembranças.
E aqui estou eu, a entrar novamente por esta porta mas não entrando novamente para a minha realidade antiga.
Agora a realidade é outra e este sitio já não me pertence.
O meu olhar começou a viajar pelo interior daquele edifício e nada parecia ter mudado. Estava tudo cheio de caixas e plásticos, mas apesar do caos tudo estava como eu deixei.
Continuei a caminhar atras do Jack não percebendo até onde ele me queria levar.
- Anda é por aqui. - Ele falou apontando para as escadas que nos levavam até ao andar de cima da galeria.
- Porque vamos para ai? Isso não faz parte da galeria. - Eu estava muito confusa.
- Agora faz. - Ele piscou-me o olho mostrando um sorriso maravilhosamente luminoso.
Não sei o que me espera mas no meu estômago começa-se a criar um nó. Estou com receio.
Assim que subi as escadas dei com um corredor branco, cheio de notas musicais pretas ao correr das paredes como que se deslizassem. Depois começaram aparecer quadros com fotos de alguns artistas e comecei a ver que cada porta que passava tinha uma pequena faixa metálica do lado direito a dizer 'Sala de música 1', 'Sala de música 2', até que paramos sobre uma porta que dizia 'Estúdio'.
- É aqui. - Ele falou olhando para mim e depois para a porta. - Abre, (t.n).
Eu fiquei imóvel. Não sei o que fazer, não sei se entre ou se simplesmente fuja!
No meio da confusão e da curiosidade, não sei o que pesa mais.
Comecei a ouvir o som de uma guitarra e sem pensar abri a porta vendo o Niall no meio daquele espaço repleto de instrumentos e com uma mesa de som enorme.
Ele estava atras de um microfone enquanto tocava na sua guitarra, o seu sorriso cresceu quando me viu e logo depois a sua voz começou a soar, o que me deixou imóvel.
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Irresistible 3 (Acabada)
Fiksi PenggemarEles perceberam que o maior amor sobrevive as piores condições porque o que eles são um para o outro é algo maior do que qualquer coisa já vista ou existida. Eles passaram por tudo, algo dito e coisas nem imaginarias mas agora eles têm uma chance. A...