Depois de comer o maravilhoso pequeno-almoço que o Niall preparou e de ter falado com o Jack, comecei por levantar o meu prato e leva-lo até à banca. Esta cozinha está mesmo um caus.
Infelizmente não é só a cozinha que está um caus, tudo na minha vida parece querer desabar. O Jack não vê outra solução senão vender a Galeria.
Quem investiu naquele espaço não quer investir mais e acha mais prudente desfazer-se do negócio. Eu até poderia pensar em comprar o espaço mas é preciso investir muito dinheiro e eu preciso de salvaguardar o futuro dos meus filhos. Sei que o Niall não deixaria faltar nada aos filhos, mas o dinheiro é do Niall e os filhos são dos dois, não quero falhar na educação dos meus filhos como falhei como mulher e empresária.
Preciso de ocupar a cabeça e preciso também de arranjar soluções para a minha vida daqui para a frente.
Comecei a lavar a loiça mas uma voz fez-me atirar um copo para o chão, partindo-o.
- Assustaste-me! - Queixei-me suspirando.
- Desculpa. - Ele aproximou-se de mim olhando para o chão.
Agora ambos observávamos aquele copo partido em pedaços no chão de azulejo escuro. Não sei se ele pensaria no mesmo que eu, este copo retrata bem no que esta casa se tornou... estroços de algo que era inteiro, que ambos tínhamos construído.
- Eu limpo isso. - Ele caminhou até à sala de arrumações e trouxe uma vassoura e pá.
- Está tudo bem, eu parti. - Estiquei a minha mão para que ele me desse a vassoura mas ele não o fez.
- E a culpa foi minha. - Os seus olhos azuis encontraram os meus e eu ia ripostar mas ele travou-me - Deixa-me pelo menos cuidar disto... Ainda te cortas e eu não quero que te magoes. Mais. - A sua última palavra foi quase inaudível.
Dei um passo atrás, rendendo-me. Acho que isto não é só pelo fato de o copo estar partido porque ele me assustou, esta ação dele é muito mais que isso. Aceito que isto seja um pequeno esforço dele para mostrar que nos quer compensar.
- Eu disse que arrumava a cozinha. - Falou enquanto varria aqueles pedaços de vidro para a pá.
- Oh não me custa nada e a cozinha está um caus...
- É, eu sei. - Os seus olhos passaram por toda a cozinha e ele riu.
- Há coisas que não mudam, esta desorganização mata-me. - Brinquei também.
- Mas eu ia limpar... e vou. - Ele encarou-me com um leve sorriso.
- Eu posso ajudar. - Ofereci-me.
- Não tens trabalho? - Ele perguntou encostando a vassoura ao frigorífico.
- Não. - Não me alonguei, senão iria o culpar por agora estar em casa e sinceramente a culpa não é dele. Não foi ele que levou a galeria até estes dias negros.
Estou admirada comigo mesmo com o cuidado que tenho tido em usar as palavras. Acho que ambos começamos a pensar bem antes de falar e não ser tão explosivos.
Talvez seja isso, precisamos de cuidados e não de intuições.
- Desculpa. Não queria ter estragado o negócio. - Os seus olhos mostravam arrependimento.
Baixei o meu olhar até ao chão, não confio nos meus sentidos por o ver tão desarmado.
- Está tudo bem. A culpa não foi tua, a galeria não andava bem há muito tempo.
- Senta-te ai enquanto eu arrumo isto, podemos conversar... - A sua voz era inconstante e parecia conter medo em cada uma das suas palavras.
Eu não sabia se haveria de ficar ou não. Não sei se fazemos bem em reagir como se tudo estivesse bem mas também, vamos andar toda a vida a fugir um do outro? Estou farta de discussões.
- Tudo bem. Não precisas de ajuda?
- Eu sujei, eu arrumo, oh teimosa. - Ele riu fazendo-me rir nervosamente - Faz-me só companhia. - Pediu e eu assenti.
Sentei-me numa das cadeiras da mesa ficando de frente para ele.
O seu sorriso, que se formou quando ele percebeu que eu iria ficar, era encantador. Ele levou as suas mãos à sua camisola e puxou-a pelo seu pescoço ficando com o seu tronco destapado.
O meu olhar viajou por todo o espaço daquela cozinha e acabei por centra-lo na ponta da mesa que continha uma migalha. Confesso que aquele gesto me fez corar, é uma estupidez mas vê-lo sem camisola mexeu comigo, fiquei um pouco constrangida.
Ele ainda me intimida, e o maldito do seu corpo ainda chama o meu. Está a ficar calor, tanto calor.
Engoli em seco quando ele vestiu o avental e ficou de costas para mim lavando a loiça.
Ele é tão sexy! Ele daria um belo homem de casa.
- A Dóris? - A sua voz chamou-me novamente à terra.
- Dei-lhe esta semana de folga, já que eu iria estar em casa... E ela merece estar um pouco mais com a família também. - Os meus dedos faziam desenhos na mesa plana de madeira.
- Fizeste bem.
Os meus olhos não se moviam das suas costas. A cada movimento dos seus braços os músculos das suas costas iam aparecendo, deslizei o meu olhar e tinha também uma visão privilegiada do seu rabo. Estas calças de ganga definem-no tão bem!
- Hum... E a galeria? Que vai acontecer? - A sua voz era baixa.
- Vamos vende-la. Não há outra solução. - O meu olhar caiu e eu suspirei. É triste e dize-lo em voz alta torna tudo mais doloroso.
- A quem?
- Não sei, a quem a quiser. O espaço é bom para abrir qualquer coisa mas sinceramente, eu prefiro nem saber. O Jack é que vai tratar disso.
- Tudo bem, desculpa. Estou a ver que não queres falar do assunto. - Ele virou-se para mim encarando o meu olhar.
- Para de pedir desculpa, Niall. - Eu repreendi-o.
Sinceramente chateia que ele esteja sempre a pedir desculpas. Nada pode remediar o que aconteceu.
Eu sei que ele está arrependido e por agora é o suficiente.
- Pronto, pronto. - Riu-se e virou-se novamente para a banca da loiça.
Na cozinha ficou um silêncio constrangedor, já não falando no calor que parece queimar a minha face.
Eu não sei se vai correr bem o fato de ele estar a viver nesta casa. Estamos separados e já só essa palavra quer dizer, cada um no seu lado, mas agora estamos lado a lado. Tudo bem que estamos juntos pelo bem dos nossos filhos e eu gosto de o ter por perto, até porque somos melhor como amigos do que como casal.
O que me motiva é que o Niall parece mesmo disposto a corrigir a ausência que criou na relação com os filhos e eu estou mesmo contente por hoje ter acordado e os ver aqui aos três. Parecia que o mundo era deles, e até é.
Dentro desta casa, está o nosso mundo e isso ninguém nos pode tirar.
- Obrigada por hoje teres cuidado dos nossos meninos. - Quebrei o silêncio.
- Não foi mais do que a minha obrigação de pai. E não custa nada, eu amo muito aqueles dois. - Ele está de costas mas aposto de que ele está a sorrir e só de imaginar o seu sorriso, sorri também.
Ele é um pai muito babado, somos uns pais muito orgulhosos das nossas crias.
- Não sei como me deixei adormecer... Podias-me ter chamado.
- Pois podia, mas acho que tens medo aos ladrões. - Ele falou rindo.
- Ladrões? - Questionei-o confusa.
O seu corpo virou-se para mim encostando-se à banca atras de si. Nas suas mãos estavam um pano e ele limpava-as.
- Sim. - Diversão reinava na sua expressão facial - Tinhas a porta trancada.
Eu fiquei atrapalhava e isso fê-lo rir.
Onde está a piada?
- Tranquei-a sem querer. - Menti, não o encarando.
Se eu o olho nos olhos, ele vai perceber que estou a mentir. Ele já percebeu de qualquer maneira mas nunca, em mil anos, iria admitir isso.
- Pois, claro. - Ele riu tirando o avental.
Não consegui descolar o meu olhar do seu corpo, enchendo quase a mesa toda de baba. Bem, de maneira figurativa, claro.
- Almoças em casa? - Tentei desviar o assunto e os meus pensamentos.
- Não, tenho assuntos a tratar. - Respondeu caminhando até mim.
- E jantar? - O meu olhar estava preso no dele.
Ele estava a meros centímetros de mim e eu comecei a ficar nervosa.
Ele de tronco nu, a dirigir a sua mão até ao meu rosto com um sorriso safado no rosto. Isto vai dar tão mau resultado!
Engoli em seco quando a sua mão acariciou a minha bochecha e a sua face se aproximou do meu ouvido.
- Vivemos juntos mas não estamos juntos, não é? Acho que ainda terei de cuidar da minha vida, sozinho. - Acabou por rir e afastar-se de mim.
O seu olhar mostrava provocação e eu fiquei de boca aberta sem reação. O seu toque já não estava no meu rosto e eu quase choraminguei por isso.
- E-era só para saber se contava contigo para fazer... tu sabes, o jantar. - Sou uma idiota por estar a gaguejar. Aposto que ele está a gostar desta merda toda.
- Podes contar. - Ele riu vestindo a sua camisola novamente - Prometi aos miúdos que os ia buscar e depois íamos até ao parque jogar futebol.
- Está bem. - Respondi olhando pros meus dedos que se arranhavam de maneira nervosa. Odeio que ele ainda tenha este controlo em mim.
- Queres vir? - Os seus dedos alcançaram o meu queixo para que o encarasse.
- Não, aproveita este momento só com eles. - Fiz um pequeno sorriso. - Eu vou dar uma geral no quarto deles, há imensa roupa que já não lhes serve. Vou fazer uma seleção e dar algumas a uma instituição.
- Fazes bem. - Ele sorriu e beijou a minha testa.
E dito isto ele saiu da cozinha, deixando-me imóvel.
Que raio se anda a passar?
Ele ainda me consegue deixar corada com as bochechas arder, consegue fazer o meu coração querer saltar do peito e os meus sentidos estarem à flor da pele.
Não sei se ele consegue perceber isso, mas se consegue ele está a apostar em grande. Pensei mesmo que ele iria fazer algo, tem-me estado a seduzir desde que aqui chegou, com pequenos gestos é certo mas ele sabe que esses pequenos gestos costumam ter grande relevância para mim.
Se isto não faz parte do seu jogo de sedução, eu estou a ficar maluca. Estou tão empenhada em o afastar que estou a ficar maluca por não o ter.
Pergunto-me para onde foi toda a raiva e toda a mágoa que sentia até ontem. Pergunto-me também onde estão os meus pensamentos sobre o divórcio. Pergunto-me o que mudou com a chegada dele.
Não obtenho respostas.
Tudo o que vejo é uma cozinha limpa, um corpo imóvel e um perfume, à Niall, extremamente agradável.
Parece que tudo aconteceu há muito tempo.
É incompreensível como ainda fico tão nervosa quando estou perto dele e com isto percebo que não sinto borboletas quando estou com ele, sinto o zoo inteiro.Olá!! Novo capítulo meninas!!! 😊
Que acharam do capítulo? O que acham da maneira como ela se sente? O que acham que o Niall está a tentar fazer? Acham que eles podem voltar?
COMENTEM E VOTEM MENINAS!!! SÓ ASSIM CONSIGO PERCEBER SE ESTÃO A GOSTAR 😊
Beijinhos ❤❤
VOCÊ ESTÁ LENDO
Irresistible 3 (Acabada)
Fiksi PenggemarEles perceberam que o maior amor sobrevive as piores condições porque o que eles são um para o outro é algo maior do que qualquer coisa já vista ou existida. Eles passaram por tudo, algo dito e coisas nem imaginarias mas agora eles têm uma chance. A...