Iniciativa

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P.O.V Mina

Mesmo com alguns pensamentos altos, consegui ter uma boa conversa com meus pais. Sempre contentes com minha chegada, e triste em saber que logo partiria.

- Então, filha, pelo visto você anda muito bem profissionalmente. Estou orgulhosa. - disse minha mãe depois que expliquei o motivo que iria voltar tão cedo para a Coréia.

- Obrigada, mãe. Falando nisso... Vocês poderiam me ajudar em uma coisa... - disse, pensativa. - O tema principal do concurso que estou participando é Lar...

- Nossa, que tema solto... Não especificava mais nada? Somente Lar? - disse meu pai um tanto intrigado.

- Também tive essa reação. Quando li, logo pensei em vocês, mas acho que seria algo bem monótono, não?

- Tá chamando seus pais de chatos? - disse minha mãe com uma sobrancelha arqueada. Fiquei um pouco surpresa, não havia pensando que ela levaria por esse lado. Ela riu com a minha reação - concordo com você. Todos precisamos criar nosso próprio lar. Você sabe que sempre será bem vinda conosco, mas esperamos que você construa seu próprio lar. - disse, segurando de leve a mão do meu pai.

Aquilo mexeu um pouco comigo. Pensei que meu lar seria junto de meus pais, mas pelo visto, nos devemos construir nosso próprio lugar. Eu sou produto da felicidade deles. Eu preciso criar a minha. Construir meu lar.

- Mas lembre-se de uma coisa. Lar é pra nos remeter felicidade. Para alcançarmos isso, precisamos ser verdadeiros, e não temer possíveis situações. - disse ele, como se tivesse ouvido meus pensamentos, dando um sorriso de lado.

Possíveis situações... Coragem...

Aquela conversa me abriu um leque de possibilidades. Nenhuma relacionada a fotografia, pois como eu poderia capturar um momento de coragem? Talvez a resposta não esteja nela em si...

-Filha, teu café tá criando peixe. - disse minha mãe, tirando-me dos meus pensamentos. Ouvi sua risada.

Depois de mais algumas conversas paralelas, volto para o meu quarto afim de pensar mais. Já não aguentava mais. Eu só pensava, e pensava. O que me falta é coragem. Preciso meter as caras. Tentar algo novo. Mas isso não tem a ver com lar.

-Aish, que tema complexo. -bufo, sentando na cadeira, de frente para o notebook.

Abro a pasta que havia dado um backup ontem e me deparo com umas 300 fotos. Procuro atentamente algo que me ajude. Mesmo sem muitas ideias, eu havia pegado algumas referências e pesquisado sobre o assunto. Não parecia algo tão difícil, até eu tentar algo diferente disso. Eu não ganharia esse concurso fazendo algo comum. Precisava de um toque surpreendente.

Quando menos espero, estou olhando pra aquela foto. O vermelho vibrante das rosas que estavam nas mãos da moça, mas pelo ângulo da foto, dava pra ver somente o topo do buquê pelo ombro direito, já que ela era um pouco baixa. O casal um pouco desfocado ao fundo. Claramente era uma cena de um desfeixo amoroso.

Teclo para passar e me vem a segunda imagem. Essa tinha um detalhe em peculiar, eu havia dado um close maior eu sua expressão. Já que a moça estava de perfil, era possível vê-la depositando as rosas em uma mesa qualquer, com o queixo erguido, com o casal sempre ao fundo. Estava surpresa com a qualidade e com o ângulo que a foto havia saído. Parece que ela queria ser tirada.

Em meio a confusão de emoções que havia no rosto da moça, era evidente o sentimento de tristeza, mas havia um brilho ali. Talvez raiva. Mas aquilo me pareceu mais o início de uma nova jornada, um "não olharei para trás novamente". Era como se ela houvesse percebido que aquele não era seu lugar. Não com a moça do desembarque. Aquele não era seu lar.

Respiro fundo e encosto minhas costas na cadeira. - que maconha eu fumei? Meu Deus... - penso. – mas até que faz sentido.

Será que eu deveria usar essa imagem? Essa baixinha parece ser bem valente, vai que ela fica brava comigo e me bate.

Dou um risada de canto, percebendo o quanto eu pareço conhece a pessoa só por uma reles foto. Novamente eu dou um suspiro e resolvo insistir na ideia.

Coragem. Eu preciso de coragem.

Seria aquela foto que eu mandaria. Eu não acredito que as coisas aconteçam só por acontecer. Mesmo não acreditando muito em destino, sei que há uma força maior por trás de tudo que nos direciona para o futuro que merecemos.

Estava tão focada produzindo o texto que explica o porquê da escolha daquela imagem, que quase tenho um colapso quando escuto minha porta bater com tudo na parede.

- Como ousas vim para o Japão e não avisar a sua mais linda e fofa amiga que estaria de volta?

-Nossa, essa minha amiga continua tão humilde quanto a última vez que a vi.- disse, rindo da sua cara de indignação teatral.

Rimos da situação e ela veio correndo ao meu encontro me dando um abraço bem apertado. Ela era maior que eu, então pude repousar minha cabeça no seu ombro.

- Senti muitas saudades, Tzuyu. Você me faz uma falta. – nos soltamos um pouco, mas ainda com o corpo próximo faço um biquinho triste. Ela dá uma risada alta.

- Que fofinha minha pinguim. Vamos matar essa saudade. Abriu uma sorveteria aqui perto, poderíamos ir lá e botar todos os papos em dia. Tenho algumas novidades. – ela diz me olhando de soslaio dando um sorrisinho mostrando suas covinhas.

Olho para o notebook pensando se deveria sair sem finalizar meu trabalho. Mas que mal havia. Não via minha Tzuyu a tanto tempo, mereço uma folga. Ela se desvencilha do abraço e sai pela porta gritando:

-Nem me venha com papo de que tá ocupada. Tô esperando na sala.

Podia entender sua indignação, nos sempre fomos muito amigas. Desde sua chegada de Taiwan, ela precisou se adaptar aos costumes locais, e seus pais eram bastante preocupados com o trabalho, então, eu passei a tentar me aproximar dela e alegrar seu dia. Com isso, somos amigas até hoje. O fato da minha mudança pra Coréia a trabalho ter deixado nossa amizades um pouco de lado, eu sabia que aquela menininha ainda torcia por mim, e vice versa.

Não demorei muito para me arrumar. Salvei o arquivo do concurso e saí rapidamente do quarto. Hoje o dia seria somente da Tzu.

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