P.O.V. Tzuyu
~alguns dias atrás~
- Vamos logo. Você vai chegar atrasada na agência. – gritava meu pai na porta do meu quarto.
- Tô terminando, pode ir ligando o carro. – afirmo, terminando de arrumar minha maquiagem.
Trabalhar em um ramo da Moda não é tão fácil quanto aparenta. São muitos detalhes, obrigações, sem mencionar a pressão de que você precisa estar impecável. De certo modo, apesar de ser bastante exaustivo, é algo que me faz bem. Desde pequena, sempre quis desfilar nas passarelas do mundo todo, e esse sonho só vem crescendo ainda mais.
Há alguns dias atrás, eu recebi uma proposta de uma agência coreana para um contrato de dois anos. Bom, digamos que essas oportunidades não caem do céu todos os dias. Prontamente aceitei depois de consultar meu pai sobre como arcaria com as possíveis despesas que eu encontraria.
Minha principal preocupação, além a de morar sozinha, era se realmente valeria a pena. Minha mãe sempre me apoiou a alcançar meus objetivos. Depois da sua morte, eu sempre tento manter essa chama acesa dentro de mim. Como ela sempre dizia: “Nada é tão difícil que não possa ser conquistado com bastante esforço e dedicação”. Depois dessa lembrança boa, meu coração se enche de um calor que sempre sinto quando penso nela, e resolvo descer as escadas rumo a minha antiga agência. Eu preciso acertar a papelada de finalização de contrato.
Afinal, eu estou conseguindo me aproximar, cada vez mais, do meu maior sonho.
P.O.V. Mina
~atualmente~
Depois de quase receber uma chinelada da Tzuyu por pensar na possibilidade de recusar seu convite, nós fomos até a sorveteria que ela tanto falara. Confesso que a única coisa que é capaz de alegrar meu dia instantaneamente é sorvete. Por esse lado, eu não poderia negar que meu apelido caia bem.
- Pinguim, ainda gosta de sorvete de creme com passas? – Tzuyu falou, olhando atentamente aos sabores que estavam escritos no balcão.
- Gosto sim, mas estou em uma vibe de mudanças, então vou pedir esse que tem biscoitos dentro. – disse apontando para um sabor, que logo foi me entregado em uma casquinha. Tzuyu havia pedido um de flocos.
Sentamos em uma mesa nos fundos, mas que dava para uma vista da praça que havia ao lado do local. Nesse meio tempo, não pude deixar de observar um certo brilho que minha amiga estava emanando. Fazia muito tempo que não nos víamos, ela cresceu, ficou ainda mais bonita. Eu tenho muito orgulho dela. Já passou por muitas coisas, mas nunca se deixou abater facilmente por nada.
- Então... Você me disse que tinha novidades, posso saber o que está deixando minha Tzu tão felizinha? – disse, dando uma colherada no sorvete. Ela começou a rir.
- Eu realmente estou muito feliz. Recebi uma proposta que me fez quase surtar na hora, mas como sou uma ótima atriz – ela não era. – soube me portar e responder bem a oferta. – ela disse, jogando os cabelos para trás como um sinal de superioridade.
- Você surtou quando recebeu a notícia, né? – comentei entre risos.
- Exatamente. – soltou uma risadinha – Por sorte, eu estava em casa quando recebi o email. Meu pai jurou que tinha entrado uma barata no quarto ou eu tinha caído.
Não consegui me conter e soltei uma risada alta, fazendo uma senhora sentada ao lado nos olhasse como se houvesse levado um susto.
- Pagaria pra ter visto essa cena. – disse ainda rindo. – E o quê seria essa proposta tão tentadora?
- Uma agência coreana quer me contratar por dois anos. – ela disse, soltando um gritinho abafado. Não pude evitar uma expressão surpresa.
Óbvio que a achava super competente para encarar um contrato grande desses, que provavelmente seria de uma empresa renomada, mas ela é muito nova para tal feito. Ela era minha bebezinha, minha maknae. Eu estava pensando mil coisas. Como ela moraria sozinha? Ela sabe se cuidar? Cozinhar? E se ela passasse mal no meio da noite? Meu Deus, no meio da noite... Ela é sonâmbula! E se ela sair andando inconsciente pela cidade? Ela só tem 18 anos!
Ouvi estalos e batidas no meu rosto. – Mina? MINA? Você tá bem? Ficou meio pálida de repente. Eu esperava uma reação mais positiva sua. – ela disse com uma carinha meio triste. Logo me senti culpada. Seu sonho sempre foi viajar, desfilar nos mais diversos lugares.
- Claro que eu estou feliz. Nossa. Você me pegou de surpresa. – disse mostrando o máximo de entusiasmo possível. Logo ela sorriu mostrando suas covinhas. – mas, me explica direito isso, como exatamente você vai ficar lá? Você andou praticando seu coreano? Eu demorei um pouquinho pra me adaptar.
- Bom... Nessa parte eu queria sua ajuda. Eu andei pesquisando uns lugares para alugar e achei um próximo ao centro, que não fica muito longe da agência. – ela disse meio receosa – mas tem uma coisinha. Eu vou ter que dividir o apartamento com outra pessoa. Uma pessoa desconhecida. – continuou um pouco encolhida.
- Oi? – só consegui dizer isso. – Mas.. mas, uma pessoa desconhecida?? Você enlouqueceu? Isso é meio perigoso. Meio não, bastante perigoso. E se ele for um assassino? – consegui falar depois de digerir um pouco aquilo.
-Primeiro, quem vai dividir o apartamento comigo é uma mulher, e eu já conversei com ela. Ela parece bem interessante e legal. Trabalha com alguma coisa relacionada a informática. Segundo, tu tá assistindo ficção demais. Terceiro, teu sorvete tá derramando. – ela disse, apontando para minha mão toda melada e começando a comer sua casquinha.
Respirei fundo, pensando sobre o que ela havia dito. Botei boa parte do sorvete na boca afim de ganhar tempo para conseguir aceitar que ela já era bem grandinha para tomar suas próprias decisões. Eu sempre dava uma de mãezona nesse tipo de situação. Ela já se mostrava acostumada com essas minhas reações.
- Certo. Acho que me exaltei um pouco. - Consegui dizer depois de um tempo. Ela soltou uma risadinha. – sobre essa moça, você realmente acha que é seguro?
- Você chegou no ponto em que eu queria. Eu conversei com ela umas três vezes. E marcarmos de antes da mudança nos encontrarmos em um café pelas redondezas. Queria pedir pra você ir comigo. – ela disse, dando um sorriso tímido.
- Mas é claro que eu vou, e ainda com um pedaço de pau na mão. – eu disse, logo recebendo uma risada alta como resposta. – eu vou tentar te ajudar ao máximo, Tzu. Pode contar comigo. – completei, pegando em sua mão, recebendo um sorriso sincero.
Depois do clima entre a gente ficar algo mais tranquilo, conversamos sobre todo tipo de assunto. Esses anos foram uma verdadeira loucura. Tanto pra mim, quanto pra ela.
Depois que Tzuyu terminou o Ensino Médio, sua carreira deu uma guinada que a transformou em uma grande modelo, não era a toa que recebera a tal proposta. Comigo não foi tão diferente. Nesse período, eu pude me mudar para a Coréia, aprender sua língua e costumes, conseguir me manter com fotografia e garantir uma agenda com bastantes eventos. Sem mencionar alguns cursos que eu havia feito para aperfeiçoar minhas técnicas.
Estávamos rindo bastante de provavelmente alguma besteira que eu havia falado, quando me veio a ideia de comentar sobre o que havia acontecido no aeroporto ontem. Apesar de alguns anos mais nova do que eu, minha amiga sempre se mostrou madura, me orientando plenamente eu alguns assuntos que insistiam em me perturbar. Bom, esse assunto estava me tirando do sério.
- Ontem, antes de embarcar, eu presenciei uma cena bem... Digamos... Intensa. – eu disse meio receosa. Ela permaneceu atenta – eu preciso que você veja para conseguir me entender.
Nós pagamos nosso pedido e fomos na direção da minha casa.

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Storie d'amoreÀs vezes, basta um milésimo de segundo pra transformar um sonho em uma tempestade. ~flash