Antes mesmo de chegarmos na casa dos meus pais, Tzuyu me bombardeou de perguntas, como “o que você fez?”, “você presenciou um assassinato?”, “vai me dizer que pegou a nossa antiga diretora escolar nos amassos com alguém?”. Nessa última pergunta, eu tive vontade de vomitar. Nossa antiga diretora não era muito velha, tinha talvez uns 40-45 anos atualmente, eu e Tzu sempre nos questionávamos de como era a vida dos nossos professores e coordenadores, até a gente ver a diretora em questão, quase “engolindo”- quase que literalmente – um dos nossos professores. Depois desse dia, nunca mais voltamos a pensar sobre o assunto. Foi traumático.
- Como você é afobada. – eu disse, abrindo a porta de casa – E, acho que se eu visse a Diretora Lourdes mais uma vez “amassando” alguém, com certeza não dormiria por um mês. – ela deu uma risada alta.
Subimos até o quarto, sentando na cama perto do Notebook, e eu finalmente iria poder explicar aquela situação. Atentamente, minha amiga ouvia toda a história. Confesso que fiquei com um pouco de medo, ela estava com uma cara de paisagem que jurava que ela não estava ouvindo uma palavra que eu falava, mas sempre que a questionava, me dizia que estava a entender tudo. Depois de alguns segundos em silêncio, ela disse:
- Vamos com calma, tu tirou uma foto de uma desconhecida, em um momento provavelmente íntimo dela. Uma foto não, DUAS fotos. E ainda por cima tá pensando em enviar para um concurso explicando algo que você nem sabe se realmente condiz. E ainda por cima corre o risco de ganhar dinheiro em cima disso tudo? Eu entendi certo?
Tenho que admitir que quando ela falou isso eu me senti um pouco mal. Assenti sua pergunta.
- Você ainda reclama que EU posso estar indo morar com uma assassina psicopata sendo que você tira foto de jovens indefesas. – ela disse soltando uma risada.
- Aff, não faz isso comigo. Desde que eu tirei essa foto eu tô pra ficar louca. Me ajuda – disse, fazendo um biquinho.
- Eu tô brincando contigo, pinguim. Essa situação é esquisita? Muito. Mas pra quem calcula cada passo que dá e teme qualquer problema eventual, você foi bem corajosa. Já que o concurso acaba amanhã e você tem uma históri-
- Conceito -corrigi-a, logo ela bufou.
- Tem um CONCEITO, acho que você deve insistir na ideia. Só que você também deve procurar a moça e entregar a metade do valor, afinal, ela quem é a protagonista da foto. E se você ganhar né.
Depois de pensar um pouco, eu disse:
-Mas como eu a acharia? E outra, eu iria simplesmente chegar e dizer: “oi, tirei uma foto tua e botei em um concurso. Vamos ser amigas.”
- Essa parte do amiga foi você que inventou. – ela disse soltando um olhar malicioso. Joguei uma almofada nela. – olha, Mina, desde que eu te conheço, você nunca foi de se arriscar, sempre controlada. Juro que as vezes eu pensava que você era um robô, mas olha só, a senhorita perfeitinha tem suas loucuras. Você envia o arquivo, nós vamos para a Coréia e tentamos achar a moça, se não der certo, bola pra frente.
Soltei um suspiro aliviada, pois sabia que eu não enfrentaria essa situação sozinha e me dirigi ao Notebook, logo terminando o texto explicativo e enviando para o email do concurso. Tzuyu observava tudo.
-Mina, meu pai queria que eu viajasse junto com você, e deixou em aberto uma passagem no mesmo voo que eu. Você ainda tem coisas para resolver por aqui ou podemos ir amanhã a tarde?
-Por mim está ótimo. – dei um sorriso, que logo foi respondido com outro.
- Pois eu vou indo, nosso dia foi ótimo, tomara que na Coréia tenha mais assim.
-Claro que sim, Yoda. – ela me deu um leve tapa no braço, esse apelido lhe atormentaria até o fim de sua vida. – Amanhã depois do almoço eu passo na sua casa para irmos pro aeroporto.
-Certo, vou te mandar o resto das informações do voo pelo email. Tchau, Minari. – disse, dando um beijo na minha testa. Logo respondi e dei um aceno enquanto ela saia do meu quarto.
Agora é oficial, essa história tá com cara de que ainda vai me dar muita dor de cabeça. Com esse pensamento, fui tomar um banho quente e descer para o jantar.
O resto da noite se seguiu bem. Meus pais resolveram me levar para jantar fora, mas logo retornamos pois eu tinha lhes avisado que iria voltar para a Coréia amanhã a tarde. Eles disseram que eu precisava descansar, pois essas viagens sempre nos deixavam exaustos.
Acordei depois de uma noite de sono maravilhosa, passei o dia em casa, em família. Aquele clima estava ótimo, me sentia cada vez mais renovada a cada hora que passava, mas infelizmente chegou a hora em que eu deveria voltar. Me despedi de ambos e disse que não precisava de carona para o aeroporto, pois iria com a Tzuyu. Não me demorei muito a sair. A casa dela não era muito longe da minha, só alguns quarteirões. Quando estava próximo, a vi me aguardando sentada em um banco na varanda.
-Vamos pai, Mina finalmente resolveu dar o ar da graça. – rimos, e eu revirei os olhos, eu estava 5 minutos atrasada. Quem reclama de 5 minutos?
Fomos na direção do aeroporto e logo que chegamos, fizemos o check-in.
Eu estava com uma certa ansiedade. Mudanças me davam calafrios mas essa era diferente, era um friozinho na barriga até gostosinho. Pude me imaginar tentando achar a moça, se ela acharia ruim, se acharia engraçado. Eram muitos “se” que se formavam na minha cabeça. Eu precisaria arrumar um jeito de acha-la. Mas como? Aquela foi a primeira vez que eu a vira. E se ela não for da Coréia? Se ela tivesse só de passagem? Novamente esses “se” estavam me atormentando, mas agora era no sentido ruim da coisa. Fui interrompida dos meus pensamentos quando Tzuyu me puxou para a fila de embarque. Ela pareceu perceber minha mudança de humor e resolveu puxar assunto até entrarmos no avião.
Nosso voo foi bem tranquilo, logo que pisamos em terra firme, pude ver os olhos da minha amiga brilharem. Ela teria muitas conquistas aqui, eu podia sentir. Dei um sorriso com esse pensamento
-Hoje você dorme na minha casa e amanhã vamos conhecer essa tal “colega de quarto”. – disse, revirando os olhos.
-Isso tudo é ciúmes, Senhorita Myoui? – ela disse, me fazendo cócegas.
-Ela que pense em se jogar pra cima de ti, ela vai conhecer a fúria da Pinguim Minari. – falei com queixo erguido pisando firme.
Ela riu alto e se aninhou no meu braço esquerdo, já que eu estava levando um carrinho com nossas malas. – Realmente, com um nome desses, é pra sentir medo. – nos rimos e seguimos para minha casa.
Eu morava em um apartamento que era tão grande que mais parecia uma casa. As vezes eu me sentia um tanto solitária, mas foi um presente dos meus pais, e eu o adorava mesmo grande demais. Eu sempre fui de fazer várias coisas, então os cômodos eram divididos em 3 quartos: o meu quarto, um ateliê, que tinha alguns materiais de desenho, equipamentos fotográficos e também servia como sala de jogos, e o último era para possíveis convidados. Tinha uma varanda com vista pra cidade, e já que eu morava no 8 andar, pode-se dizer que era bem privilegiada. E tinha um comodo em especial que servia mais para quando eu tinha minhas crises de ansiedade e precisava esquecer do mundo, nele havia meus instrumentos musicais e um espaço livre com espelhos para que eu pudesse dançar. Podem me chamar de louca, mas eu considero a música como se fosse uma parte de mim, algo que me fortalece, que não me permite cair, mas quando eu desisto de lutar, ela sempre está lá pra me confortar.
Depois de mostrar a casa para Tzu, e ela morrer de insistir em usar meus instrumentos e eu sempre recusar, resolvi chamá-la para fazermos o jantar.
- Então, qual o plano para amanhã?- ela disse, cortando algumas verduras.
- Plano? Amanhã eu não tenho nenhum evento, geralmente deixo minhas segundas livre, as festas mais trabalhosas são nos fins de semana, então.- dei de ombros.
- Falei com a moça do apartamento e ela me chamou para um café as 16 horas. Tudo bem pra você? – disse enquanto misturava a salada a um molho.
- Por mim ótimo. À propósito, qual é o nome dela mesmo?
- Ah verdade. Ela se chama Yoo JeongYeon, ou só Jungyeon.
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RomanceÀs vezes, basta um milésimo de segundo pra transformar um sonho em uma tempestade. ~flash