Você nem imagina...

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P.O.V. Mina


Dois dias depois...


Uma conversa chegava aos meus ouvidos, mas eu não entendia nada. – Mina???


      - MINARI!


      - YAH! Oi! Meu Deus, não grita. – coço minha nuca afim de dissipar um pouco a vergonha. Tzuyu me encarava com uma mão na cintura.


      - O que é que você tem? Está dispersa. – pergunta intrigada.

      - Um carro avançou na minha preferencial por esses dias, estou um pouco aérea. Me desculpa. – um carro chamado Chaeyoung.
      Estávamos na empresa, e aparentemente iríamos realizar uma ação solidária à comunidades carentes. I
Essa iniciativa havia sido uma ideia de Jihyo, pois ela tinha recebido uma ajuda de um funcionário da limpeza que estava passando por dificuldades, mas que ainda sim usou seu tempo para ajuda-la; o que gerou uma comoção da mesma e um envolvimento da equipe com a história do rapaz. Resolvemos fazer essa ação solidária sempre que possível, de preferência uma vez ao mês.
      - Muito bacana essa atitude de Jihyo, não é? – Momo se aproximava enquanto dizia.
      - Sim. Quem tem privilégios deve usar disso para ajudar quem mais precisa. – comento reflexiva, pegando algumas sacolas que estavam no chão.
      A ação seria a seguinte: juntamos o máximo de alimentos possíveis durante esses dois dias que passaram e montamos cestas com os alimentos e diversos tipos de utensílios e brinquedos doados. Hoje realizariamos a distribuição. Fiquei encarregada de ajudar a equipe a se organizar e fotografar a ação, afim de fazermos um mural, onde ficará exposto na empresa e na sede comunitária dos bairros. Isso me deixou imensamente feliz.
      Antes que eu pudesse ir até o caminhão levar as sacolas, passo minha vista pelo grande salão repleto de pessoas indo e vindo, e acabo por perceber uma figura conhecida atravessando o espaço. Chaeyoung ia na direção de Jihyo com várias sacolas na mão. A menor havia sido readmitida no seu antigo cargo com uma bonificação de Design Sênior, podendo opinar não somente no nosso setor, mas em todos, junto à equipe dos diretores.
      Tzuyu, ao receber a notícia do seu retorno, ficou estática. Eu não havia contato que havíamos nos encontrado e muito menos nos beijado. Confesso que nem eu acreditara ainda.
      - Mina, nós vamos deixar essas cestas no caminhão, você vem? – Tzuyu pergunta. – Você tá muito estranha, vai lavar o rosto antes de irmos. – Ordenou. Me limitei a concordar com ela e fui em direção ao banheiro mais próximo.

       Quando Chaeyoung retornou à empresa, nosso diretor anunciou seu momento de ausência como algo necessário e que fora para aumentar os conhecimentos dela. Criou-se um clima agradável para sua volta, então todos os funcionários, principalmente os que já a admiravam, voltaram à prestar-lhe serviços com excelência, como antes.
       Eu havia ficado levemente incomodada como ela havia sido levada como funcionária exemplar. O que realmente havia sido isso, se formos ver em um contexto no qual não estou inserida.
       Entro no banheiro e vou direto para a pia. Lavo minhas mãos e as levo, ainda úmidas, ao meu rosto. Eu tava com uma expressão um tanto quanto cansada, mas ainda estava apresentável. Encarei minhas orbes e resolvi respirar fundo, afim de me preparar para a ação solidária. Confesso que tenho esse costume de tentar parar alguns segundos e sentir o momento no qual estou inserida. Depois de alguns segundos em silêncio, escuto a porta do banheiro abrir e Chaeyoung resmungando que sua camisa estava encharcada.
      - Mas será possiv- Bom dia. - Chaeyoung dizia enquanto balançava a blusa, tentando secá-la. Ela chega perto da pia e parece ainda não ter notado que quem estava ali, era eu.
      - Te atingiram com uma bexiga cheia de água, foi? - comento, achando aquela situação engraçada.
      Chaeyoung dá um pulo após ouvir minha voz e me encara ruborizada. Ela abre sua bocas algumas vezes, mas nenhum som sai. Por fim, consegue falar palavras legíveis:
      - Eu estava com uma sacolas na mão, mas aparentemente uma delas tinha algo molhado, quando apoiei a sacola em cima do balcão, acabei me molhando. Por sorte, é água, pois todos brinquedos passaram por limpezas, então algum acumulou água. – explica, apenas me limito a balançar a cabeça concordando.
      - Hum... Entendi. – resolvo sair daquele cúbico de banheiro. – Boa sorte em secar sua blusa. Já já o ônibus irá sair. - digo, saindo logo em seguida da sua frente e caminhando para a porta. Ouço seu suspiro conformado e sinto seu olhar sobre mim.
      Prometi para mim mesma que eu não me sabotaria em tentar encarar a realidade como tal. Chaeyoung pode se virar sozinha. Ela que lute.
      Todos haviam subido no ônibus e eu já havia começado a gravar alguns takes. Casa gravação tinha em torno de 2 à 3 minutos para contar por partes como iria ser o trajeto. Sentei na parte de trás, junto com meus conhecidos mais próximos, incluindo Tzuyu e Momo, mas Jihyo e Chaeyoung haviam ficado na parte da frente do ônibus. A viagem havia sido de 15 minutinhos. Os líderes comunitários já sabiam da nossa chegada, então estava tudo bem organizado.
      Saímos do ônibus e, com a chegada do caminhão com as doações, montamos um espaço de doações e música, esta organizada por carros de som dos moradores. Havia barraquinhas de espetinhos e outros tipos de comidas. Gravei tudo animadamente. Apesar das necessidades, havia vida e alegria ali. Registrei o máximo que pude. Percebi um olhar distante me observando e pude notar Chaeyoung sorrindo para mim, ela logo se endireitou e voltou a conversar com uma moradora local.
      Após algumas horas, os representantes nos chamaram para um almoço comunitário em uma área interna da comunidade, onde era bem arborizado. Era bem simples, mas carregado de descontração. Os membros mais antigos do bairro mostraram felicitações à ação realizada e agradeceram nossa iniciativa. Jihyo e Chaeyoung traziam comprometimento com a causa, explicando como funcionaria esse processo de ajuda por comunidade.
       Tzuyu se aproxima de mim, resmungando:
      - Chaeyoung não tirou os olhos de você nenhum segundo. – finaliza com um bico. Momo sorri com a cara dela.
      - Acalme-se, Tzu. - brinco. – Eu vi um moço super apaixonado pela Momo.
      Momo me direciona uma expressão surpresa e confusa, mas a situação mais engraçada era vinda de Tzu. Ela havia aberto a boca surpresa e pulado em cima da Momo.
      - Tzuyu, você vai me derrubar, meu bem! – diz, abraçada a Tzu, que observada a todos no ambientes enquanto afundava a cabeça da sua namorada no seu pescoço, "protegendo-a".
      Solto uma risada constatando que Tzu era mais ciumenta com Momo do que comigo, algo completamente justificável. Me despeço um pouco do casal e vou gravar os últimos takes do dia. Todos mais calmos e tranquilos, apenas conversando para irmos embora.
      Passo próximo dos organizadores e eles estão conversando abertamente. Me viro para alguns moradores, filmando-os e acabo por ouvir uma conversa atrás de mim. Antes de tirar a câmera dos organizadores, notei que Chaeyoung me observou alguns segundos, mas como havia dito antes, não irei me deixar levar por aqueles olhos...
     - Chaeyoung, que incrível você ter passado 6 meses fora, estudando. – ouço um homem comentar.
     - Acredito que tenha sido ótimo o aprendizado, novos ares fazem bem. – Agora era uma voz feminina. Eu me concentrava em ouvir a conversa e não parecer que estava gravando algo sem lógica.
     - Acredito que, na verdade, ela tenha abrido mão de várias coisas ao se mudar para outro país nesse período. – Jihyo comenta.
     Os colaboradores olhavam atentos para Chaeyoung. Até eu me pusera a olhar para ela, discretamente, claro. Ela inicia com um sorriso tímido:
      - É... Foi um momento bem delicado, tive que fechar meu apartamento, pedir afastamento da empresa, dentre outras coisas. – Ela agora percebera meus olhos em si. – Vocês nem imaginam o que tive que abrir mão para encarar essa. – completa. – Algumas coisas foram boas, mas por outro lado, estou lutando para recuperar o tempo que congelei aqui.
      Ela havia dito aquelas palavras me olhando nos olhos, mas logo desviou, sorrindo para o resto das pessoas que estavam na roda de conversa. Após alguns minutos, este período que eu estava colocando minha mente no lugar, resolvemos voltar para a empresa, afim de organizarmos as pendências de amanhã. Alguns modelos haviam sido designados para atividades de treino em moda, mas quem era dos outros setores, iriam voltar ao trabalho.
      A medida que as horas passaram e o expediente chegou ao fim, resolvi ir no terraço do prédio respirar um pouco de ar puro e ver a cidade de cima. Entro no elevador e vou até o último andar. O ar parecia calmo e sem grandes barulhos de veículos no chão iluminado abaixo de mim.
      Hoje o dia havia sido bem movimentado, contudo voltei à um jeito meu de que mais observava do que falava. Sempre fui uma ótima observadora e isso não mudou com o tempo. Tateio por debaixo da minha blusa um cordão que até então, guardei por todo esse tempo e não havia usado desde o fatídico dia no aeroporto, no qual eu havia sido deixada a esmo...
      Desde que Chaeyoung chegou, foram dias nos quais quis me manter o mais quieta possível, e ali, olhando o horizonte e passando meu dedos frios naquele colar com um pingente de Rosas, reafirmo que devo ir com um passo por vez. Eu quem havia sido atingida fortemente por essa situação. Recordo-me que eu havia dado meu cordão com pingente de câmera para ela... A dúvida pairava se ela havia guardado...
     Ouço uma batida na porta atrás de mim e olho para trás.
     - Ah! Não sabia que você estava aqui. – Chaeyoung fala próximo à porta. – Não queria incomodar.
      - Tudo bem. – sinalizo para que ela fique. Meu silêncio continua e ela interpreta àquilo como um consentimento de aproximação. Apenas suspiro com a aproximação.
      - Hoje foi bem animado o dia, né? A gente ajudando todas aquelas pessoas. – comenta, sorridente.
      - Foi sim. – dou um sorriso lembrando, mas logo voltamos ao silêncio.
      Eu estava muito curiosa para saber, então resolvi perguntar logo.
      - Chae... Chaeyoung, você chegou a guardar o pingente que te dei? No aeroporto... – pergunto, ganhando a atenção e seu corpo virado para mim. Ela parece notar que eu estava segurando as rosas que ela havia me dado.
      Ela levanta o pulso direito e me mostra o pingente preso à sua pulseira, está na qual notei que sempre está no seu pulso, mas não havia percebido o pingente. – Sempre que posso, eu levo ela comigo. Eu levava você comigo. – Sorri fraco, baixando o pulso. – Às vezes, quando ficava nervosa, eu costumava segurar um pouco. Me trazia uma leve sensação de conforto.
      Chaeyoung se aproxima um pouco mais, e repousa sua mão próximo da minha, que agora segurava o guarda-corpo/corrimão de segurança do terraço. Me viro um pouco para ela e deixo nossas mãos se tocarem, em um sutil contato. Seus olhos me olhavam atentamente, pedindo por permissão, ou procurando o menor sinal de aceitação ou recusa.
      A medida que o vento soprava, nossos corpos ficavam mais gelados, ainda sim eu não sentia frio. Chaeyoung dá um passo deixando seu corpo rente ao meu, sua mão entrelaça na minha, e com a esquerda, ela puxa um pouco da minha blusa para ficarmos de frente.
      Comparado ao nosso beijo anterior, esse momento, antes dos nossos lábios se encontrarem, pareceu calmo e paciente. Se eu pudesse ver seus olhos com mais claridade, perceberia facilmente sua pupila dilatada, pois a medida que ela se aproximava de mim, seu corpo reagia por mais.
      Chaeyoung se aproximou receosa e finalmente tocou meus lábios. Sua boca estava quentinha e confortável de se manter. Minha mão acaricia seu rosto e ela me puxa pra um pouco mais próximo. Chae repousa suas mãos na minha cintura e me abraça. Sua língua passa pelos meus lábios e permito sua passagem, e com movimentos tímidos, intensificamos um pouco o beijo, fazendo-me segura-la pelo rosto e o acariciar. Finalizo nossa aproximação com um pequeno selinho.
      - Pensei que você fosse começar a me ignorar... – comenta, cabisbaixa. – Na verdade, hoje, no banheiro, tive a certeza disso...
      - Não vá cantando vitória. – respondo, ganhando um sorriso tímido. – Com o tempo, quem sabe eu te convide para finalmente ouvir eu tocar piano na minha casa. – comento, recordando-me do fato de que havia dito a Chaeyoung que ela só iria me ver tocando, caso fosse novamente na minha casa. Eu realmente estava nostálgica e reflexiva com tudo que havíamos passado. Isso me ajudaria a entender se aceitava ou não nosso retorno.
      Ela parecia lembrar desse dia, o que não sei ao certo se foi uma lembrança boa ou ruim. Contudo, eu apenas queria colocar aquilo para fora.
      Chaeyoung se aproxima do meu rosto e me dá um selinho demorado, com o que notei ser uma lágrima fujona, mas eu sabia o quão durona ela costumava demonstrar ser. Afastamos nossos corpos e nos colocamos a irmos para nossas respectivas casas.

      Eu simplesmente não havia decidido se Chaeyoung estava fazendo bem ou mal para o meu dia-a-dia, mas estava começando a crer que o tempo estava a meu favor, assim como a moça em questão, na qual estava tentando me reconquistar com suas pequenas sutilezas que já haviam conquistado antes. Só o tempo dirá.

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