Nostalgia

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~Última chamada para o Voo 2901, com destino ao Japão - uma voz eletrônica soa me tirando a atenção da foto que eu acabara de tirar.

Eu nunca tinha conseguido fotografar algo que mexesse tanto comigo como aquela imagem. Eu senti toda aquela atmosfera, como se eu tivesse conectada a história de ambos os lados. Eu... Eu... Eu vou perder meu voo!

Sem mais delongas, corro para o portão de embarque, entregando minha documentação. O auxiliar de embarque checa tudo, e me entrega, dizendo:

  - Senhorita Myoui, só seguir o corredor. Boa viagem.

Adentrei o avião e logo acho meu acento. Por sorte pude ficar na poltrona próxima a janela, assim não cairia em devaneios relacionados aquele pequeno fato que aconteceu a pouco. Preciso me concentrar no conceito que eu vou trabalhar pra ganhar esse concurso no Japão.

Já trabalho com fotografia faz 5 anos e nunca participei de nada parecido. Obviamente uma pessoa comum escolheria começar devagar, estudando possíveis oportunidades e depois tentaria algo, mas não! A gênio aqui viu a vaga e saiu correndo, antes mesmo de estudar os casos.

Não demorou muito e logo senti o avião começar a andar na pista, decolando em seguida, assim como meus pensamentos. Resolvi refletir e coloca-los em ordem. Adormeci em alguns minutos.

~algumas horas depois~

Finalmente poder voltar as origens me alegra. Fazia muito tempo que não pisava no Japão, nem para visitar a família, que não se demorou muito para começar a festa logo no aeroporto. Não sei o que é mais vergonhoso, você não saber o que fazer enquanto cantam "Parabéns" no seu aniversário, ou sua família com um cartaz imenso no portão de desembarque. Definitivamente, a segunda opção.

Meus pais perceberam o quão envergonhada eu estava e trataram de baixar o cartaz e correr ao meu encontro.

- Juro que foi ideia da sua mãe. - meu pai disse, rindo um pouco.

- Tudo bem, eu senti falta disso. - sorri largamente sendo atacada por vários beijos no meu rosto da minha mãe.

- Filha, você tá tão magra. Não anda comendo? E como vão as coisas na Coréia? Veio sozinha? Anda, você deve estar cansada. Querido, leve o carrinho para Mina. - minha mãe disse apressadamente. Ri com a preocupação de ambos.

Quando saímos do aeroporto fomos direto para casa. Fui correndo para o meu quarto e senti toda a nostalgia que guardei durante meus últimos anos na Coréia.

Aquele papel de parede cor creme, a mesa bem arruma e minhas fotos... A melhor parte do quarto. Meu mural de fotos. Tinha foto de tudo que é jeito. Com amigos, familiares, animais. Alguns eram só paisagens, outros fotos avulsas. Enfim, tudo que me trazia um sentimento forte, eu fotografava. Podia ser de tristeza, como quando tirei uma foto da lápide da minha antiga cadela, em um pôr do sol. Ou de felicidade, como quando ganhei minha primeira câmera profissional. O fato de poder captar o momento e ele se fazer presente "fisicamente" por muito tempo, me trás uma imensa felicidade, não é atoa que trabalho com isso.

Fui tirada da minha sessão nostalgia pela minha mãe batendo na porta avisando que o jantar logo sairia. Não pude evitar sorrir. Me apressei para tirar as poucas roupas que havia trazido, afinal, só iria passar 3 dias com eles e teria que voltar para a Coréia para cobrir alguns eventos que eu havia sido contratada.

Arrumando minhas tralhas resolvi ajeitar meus equipamentos, pois amanhã eu teria que sair cedo para trabalhar no projeto para o concurso. Inseri o cabo na câmera e liguei ao pc, afim de descarregar todo o cartão de memória. Resolvi colocar tudo em uma pasta e depois olharia com calma. Novamente meu olho bateu naquela foto... Por que ela me perturbava tanto? Eu deveria ter ido atrás da moça? Eu não deveria ter tirado a foto?

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