Vivendo Novamente

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- Passou. - Jolie sorri para mim e me puxa para um abraço, me surpreendendo e me deixando um pouco desconfortável.

Abraços não fazem parte da cultura dos países em que morei.

- Me. - Jolie chama e Meiry Anne volta a acender o abajur. - Vamos mostrar para Emily o quarto em que ela ficará e vamos dormir. Amanhã teremos um longo dia mostrando a ela os pontos turísticos daqui.

Meiry Anne se levanta da poltrona e nos segue pela escada.

- Mais alguém mora na república?

- Sim. Nicole e Bárbara. Eu divido o meu quarto com a Meiry Anne e você ficará com Nicole. Uma garota chamada Victória está em processo de transferência para nossa república. Então estamos esperando até que ela consiga todos os documentos. Provavelmente antes que as férias cheguem ao fim, ela já estará conosco. - Jô abre uma porta no fim do corredor e me dá passagem. - Este é o seu quarto.

Duas camas de solteiro estão encostadas em paredes opostas com seus respectivos criados mudos já ao seu lado. Acredito que a cama que contém uma colcha rosa neon seja da tal Nicole.

Encaro Jolie e ela parece ler a dúvida em meu olhar.

- Nicole voltou para a casa da família dela nessas férias. Ela nos avisou que retornará na próxima semana, porque precisa resolver alguns assuntos do estágio dela.

- Entendi.

- Boa noite.

- Boa noite, Jô. - Jolie encosta a porta e ouço os seus passos se afastarem.

Arrasto minha mala pelo quarto e a deixo ao lado de uma escrivaninha. Observo o móvel de mogno e sobre ele há vários resumos colados. Pelo o que me parece, Nicole será minha veterana. Ou não... Afinal, as matérias de enfermagem e medicina são praticamente as mesmas nos dois primeiros anos de curso.

Ando até perto da cama da minha colega de quarto e observo o mural de fotos pregado na parede. Pela quantidade de fotos que tem de uma das garotas, suponho ser ela a Nicole. Em várias fotos ela sorri. Em algumas está com amigos, com um cara e em outras com pessoas que se assemelham a algo como uma família. Mas, uma foto em especial me chama a atenção.

Ela se parece muito com uma garota com quem estudei quando ainda criança

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Ela se parece muito com uma garota com quem estudei quando ainda criança.

Desvencilho-me de meus pensamentos e me afasto do seu mural de fotos. Eu não gostaria que um estranho bisbilhotasse minha vida. Mesmo que sem intenção.

Além do mural de fotos, alguns pôsteres de banda estão pregados sobre a sua cama. Dentre todos, há alguns como o de Lagum, que é um artista de quem gosto muito.

Me jogo sobre a minha cama, sem desfazê-la e após um longo dia, finalmente pego o meu celular e vou ler as minhas mensagens. Entro na conversa do meu pai e vejo que o mesmo me respondeu três horas atrás.

"Eu e seus irmãos te conhecemos, querida. E sabemos que não fez por mal... Jack disse que irá ouvir o seu conselho e João que criará jogos no futuro. Por isso, não pode parar de praticar. E quanto a Michelle, sei que todas as coisas novas exigem tempo para aceitação e uma melhor adaptação. Prometo que não irei me privar de viver a minha felicidade agora. Nós iremos para o Brasil no próximo mês, no dia do meu aniversário. Levarei a sua irmã também. Ela disse que não conseguiu falar com você para avisar que Davi já nasceu. Ele e Lucas virão conosco. Assim como Michelle e a nova namorada do seu irmão. Acho que você ter se mudado para o Brasil, deu coragem para que ele assumisse um relacionamento. Enfim, querida. Pararei a mensagem por aqui, porque deve estar muito cansada. Me ligue e mande notícias. Estarei esperando, boa noite."

Quase não consigo manter meus olhos abertos. Deposito meu celular sobre a cômoda ao lado da minha cama, viro para o lado e não demora muito até que eu pegue no sono.

***

Nem acredito que hoje já é o meu primeiro dia de aula. Passei o primeiro mês aqui conhecendo todos os pontos turísticos da cidade com Jolie, Nicole e Bárbara. Jolie me disse que Meiry Anne não era muito de sair, principalmente, não era muito de sair durante o dia. Por isso, fomos apenas as quatro.

Elas me levaram ao parque Ibirapuera, a Pinacoteca, até a Avenida Paulista, Vila Madalena, entre muitos outros lugares populares da cidade.

No meu segundo mês aqui, meu pai veio com a família toda e pude enfim conhecer o meu sobrinho. Davi era a coisa mais fofa do mundo. Com três meses, apenas ria e ia com todos os tios babões. Sentia até vontade de ter um filho.

Calma lá. O que foi isso? Devo estar enlouquecendo. Preciso achar madeira para bater.

Coço os meus olhos e miro a tela do meu celular... SETE E MEIA? Minha primeira aula começa as oito. Preciso correr se não quiser me atrasar.

Pulo da cama e corro em direção ao banheiro. Sem me preocupar se sou a única na casa no momento ou não. Entro no recinto, bato a porta e a tranco, despindo-me rapidamente e mergulhando sob a água gelada.

Passados alguns minutos, desligo a água do chuveiro, enrolo a toalha no meu corpo molhado e já aproveito que estou no banheiro para fazer minha higiene pessoal matinal. Escovo os dentes, penteio meus fios desgrenhados, lavo o rosto, passo um protetor e um gloss rosa claro.

Passo pela porta e corro até o meu quarto. Acho qualquer roupa e coloco em meu corpo. Meu celular desperta, como um aviso de que são quinze para as oito. Pego a bolsa que preparei no dia anterior e corro mais uma vez, quase tropeçando no desnível entre corredor e sala.

- Bom dia, bela adormecida. Está atrasada? - Jolie me saúda. Ontem ela mencionou que sua primeira aula só começaria as dez.

- Bom dia. Estou quase atrasada. – Rio nervosa. - Adoraria conversar mais...

- Não se preocupe. Apenas se apresse. - Diz Jolie e eu faço o que ela manda. Correndo mais uma vez. Espero que isso não se torne um hábito. Estou muito sedentária para correr com essa frequência: o tempo todo.

Devido às passadas rápidas e largas, chego em menos tempo na universidade do que levaria normalmente.

***

Assim que passo pelas portas de vidro da faculdade dou de encontro com um garoto que estava indo em direção contrária e quase caio. Mas, por sorte do destino, ele me pega antes que eu atinja o chão. Somente após o baque paro para analisá-lo realmente. O cabelo era de um marrom cheio de cachos que pareciam macios e sedosos. Por um momento desejo tocá-los. Ele tinha olhos de um verde intenso e penetrante, meus olhos desceram para os seus lábios e ficaram presos ali até que ele pigarreasse, chamando minha atenção.

Antes que meus olhos pudessem encontrar os seus, desci o meu olhar e comecei a percorrer o mesmo pelo seu corpo. O cara tinha um peitoral bem definido e uma tatuagem em seu antebraço. Era quase um daqueles atores que você vê em séries e filmes e logo quer levar para casa.

- Olhe por onde anda novata e saia de cima de mim. Minha roupa está toda amassada agora. - É impressão minha ou ele foi um pouco ríspido? Adeus encanto.

- Desculpa senhor. - Me curvei e o encarei com ironia por um breve segundo. - Acidentes acontecem sabia? Se você estivesse prestando atenção por onde anda, teria desviado.

- Está querendo me fazer sentir culpado por uma coisa que você fez?

- Você não está tentando fazer o mesmo? - Dou de ombros e o cara sai sem responder.

- O que tem de lindo tem de irritante. Sinto cheiro de confusão e me parece que sei de onde vem. - Falo mais para mim mesma e intensifico ainda mais o olhar.

Acho melhor ficar longe ou posso terminar em alguma encrenca... Enquanto pensava nisso, olhei para frente e avistei a sala onde teria aula de Células e Genes I do outro lado do corredor.

Melhor me apressar. Hoje o dia será longo e sinto que ainda me aguarda com algumas surpresas...

Um doce reencontro ( Em revisão )Onde histórias criam vida. Descubra agora