A Triste realidade

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Eu não conseguia pensar direito, muito menos me mover, eu estava congelada.

Na minha cabeça, quando você, no mínimo, tem consideração por alguém, não confessa sentimentos sem que eles realmente existam. Na visão de quem está de fora, pode ser que esse não pareça um motivo plausível ou suficiente para o fim de um relacionamento tão sério como noivado. Mas, além de ter mentido sobre os sentimentos, ele usou meu afogamento (acontecimento em que corri risco de vida), para se aproximar de mim. Em nenhum momento ele pensou em como eu poderia me sentir caso descobrisse.

- Não é o que estou pensando? - Falo em tom baixo e controlado e ele me olha assustado. - Então, me diga, o que li é mentira?

- Não é, mas...

Percebo que todos os olhares estão sobre nós. Em outro momento eu pensaria mil vezes antes de surtar. Na atual situação em que nos encontramos, pouco me importo. Só quero me ver longe dele, só quero esquecer que um dia o conheci.

- MAS NADA. VOCÊ MENTIU PARA MIM, USOU O FATO DE EU TER ME AFOGADO APENAS PARA SE APROXIMAR E CONSEGUIR ALGO DE MIM. AFINAL, O QUE CONSEGUIU RAFAEL? NÃO, NÃO ME DIGA, EU NÃO QUERO SABER, APENAS QUERO ESTAR O MAIS LONGE QUE PUDER DE VOCÊ. ESTOU COM ASCO. - Acabo por me descontrolar e sinto meu braço ser segurado por Rafael. Algumas pessoas me olham com pena, algumas quase acreditando em minha falta de sanidade e outras apenas se afastam sem que eu possa identificar o que as fez manter distância.

- Por favor, amor fique comigo, eu te amo, não posso viver sem você! - Puxo o meu braço e desfiro um tapa no rosto do Rafael com toda a força e dignidade que me restam.

Saio do ginásio transtornada, ainda ouvindo meu nome ser chamado mais umas duas ou três vezes por ele. Fico sem saber o que fazer.

Sento, por alguns poucos instantes, na calçada e fico ali tentando me recuperar. No momento em que iria me levantar, sinto uma mão tocar meu ombro. Ergo o meu corpo com todas as pedras que tenho por trás das mangas, porém, respiro fundo quando percebo ser minha melhor amiga Bruna. Sem esperar, minha amiga me puxa para um abraço bem forte. Foi como se tentasse compartilhar um pouco da minha dor e eu a agradeço mentalmente por isso. Apoio era tudo o que precisava. Deitei no ombro da minha amiga e me deixei cair em lágrimas, chorei tudo o que podia e não podia. É tão bom ter uma amiga que está comigo em todos os momentos.

Bruna me abraçou, fez carinho em meus cabelos até que eu me acalmasse, e tivesse condições para voltar a falar.

- Amiga o que vou fazer agora da minha vida? Como vou contar para o meu pai e meus irmãos que namorei com um cara, fiquei noiva e em tão pouco tempo já acabou? Como vou contar que ele me enganou quando meu pai e todos os meus irmãos sempre me alertaram quanto a relacionamentos? - Minha amiga coloca a mão em meu ombro e me traz para mais perto.

- Você vai fazer o que sempre fez antes de ter qualquer relacionamento: você vai seguir a sua vida, enquanto faz faculdade em um lugar bem longe dos Estados Unidos como sempre quis e com o tempo acabará esquecendo da dor e ficarão apenas as boas lembranças, você é mais forte do que acha que é. Quanto a contar para sua família sobre, se decidir mesmo seguir em frente com isso, espere até que consiga e apenas conte. Eles são sua família e sempre estarão ao seu lado, torcendo pela sua felicidade. Se não conseguir contar, apenas se candidate para o processo seletivo exigido pela faculdade do seu desejo e vá sem medo de se arriscar. No final tudo irá se acertar.

- Amiga, é por isso que eu te amo, tudo o que me disse só me fez ter mais certeza de que você é uma amiga de verdade e que sempre estará presente na minha vida. Se eu for, quero que mantenha contato todos os dias. Quero muito fazer faculdade de medicina no Brasil, lá vou seguir meu sonho e entrar em uma faculdade renomada que me traga boas oportunidades e experiências. Nunca mais irei me apaixonar novamente. - Respiro fundo. - Obrigada por ter me ouvido e por ter me dado o conselho que precisava ouvir, você é incrível e eu tenho muita sorte de te ter como amiga. Amanhã vou conversar com o meu pai sobre tudo e ver o que ele acha da minha decisão.

- Tudo bem, boa sorte amiga, eu te amo.

- Obrigada, eu também te amo. - Planto um beijo na bochecha de Bruna, a abraço em seguida e estendo minha mão para um táxi que passa no mesmo instante.

O motorista do veículo automotor para e eu entro, acenando para minha amiga que permanece parada, observando até que o carro se afaste por completo.

Achei melhor fechar os meus olhos, depois de dizer o endereço ao motorista, e tentar evitar que qualquer pensamento impróprio para o momento me atingisse. Mas, no instante seguinte pego no sono.

Depois do que se pareceram poucos minutos, o motorista chama pelo meu nome e percebo que estamos parados em frente à minha casa. Dou o valor da corrida ao condutor, agradeço e saio do carro.

Abro cuidadosamente a porta de casa para que meu pai e irmãos não acordem, caminho na ponta dos pés rumo ao meu quarto e me deito, sem me preocupar com as várias chamadas constadas em meu celular do meu ex noivo.

Amanhã o dia será longo...

Um doce reencontro ( Em revisão )Onde histórias criam vida. Descubra agora